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Livro sobre a história de família que deixou a Polônia e veio para Irati é lançado

31/03/2022

Livro sobre a história de família que deixou a Polônia e veio para Irati é lançado

Numa emocionante cerimônia coordenada pela Academia de Letras, Artes e Ciências do Centro-Sul do Paraná (Alacs) foi lançado, dia 18 de março, o livro Estanislau, de autoria de Julio Marcos Bronislavski. O livro narra a trajetória do pai do autor, Estanislau Bronislawski, desde a aldeia de Plaucza Mala, na Polônia, até seus derradeiros dias em Irati, passando por Prudentópolis.

O lançamento ocorreu dia 18 em que Estanislau faria 111 anos. O livro não é uma biografia tradicional, conforme explica o autor, apesar de usar uma narrativa cronológica partindo da pequena aldeia para construir um retrato com base nas lembranças, memórias, vivências e conversas mantidas ao logo dos anos com seu pai.

O  lançamento ocorre  numa época em que acontecimentos na distante Ucrânia  nos recordam os motivos que fizeram muitas famílias deixarem sua pátria e virem para o Brasil. A aldeia de Plaucza Mala, da comarca de Brezezany, era polonesa, virou austro-húngara, russa, alemã, russa e, após a segunda grande guerra, sob domínio russo, passou para a Ucrânia. Fica nas proximidades de Liviv, atualmente sob ameaça de bombardeios russos.

O livro narra a história de uma família que deixou sua pequena aldeia na Polônia para construir seu novo mundo em terras brasileiras. E de um homem em especial, que José Maria Orreda definiu como construtor de templos. Foi, então, a partir   dessa pequena  aldeia que o autor tentou um mergulho encantado para trazer momentos de prazer para os possíveis leitores.

 O autor procurou seguir uma narrativa cronológica. Todos os fatos narrados ocorreram, embora as palavras que os descrevem possam não ser as mesmas da ocasião, mas o verdadeiro sentido permaneceu. Para ele, quando vasculhamos nossa história, atos e experiências, percebemos que a memória e a imaginação trabalham juntas, como disse o escritor Hector Bianciotti: “Nós não lembramos do fato em si, mas da última vez que nos lembramos dele”. A autobiografia é simplesmente impossível, daí o termo “autoficção”. Nessa linha, a narrativa pretende ser: uma autoficção. Uma história baseada nos atos e experiências de um homem através das memórias que constituíram a vida da família

Vários acontecimentos narrados, na Polônia/Ucrânia da época estão se repetindo agora. Estanislau  dizia que lá eles  estão sempre preparados para o pior. O medo maior sempre foi - a ameaça hostil de invasão das terras pela Rússia. Miguel, pai de Estanislau,  dizia  que a história se repete, cada vez com mais crueldade. Conhecia bem as consequências da guerra. Conhecia o olhar desprezível dos comunistas russos e dos nazistas. Do mesmo desprezo pela vida polonesa e ucraina que ambos nutriam, arrasando as aldeias no caminho. Cada vez com novos armamentos, artilharia pesada, mas as ordens eram sempre as mesmas: confiscar as terras, destruir tudo e queimar as aldeias. Para ele, avo do autor, era ficar ou escapar das trágicas atrocidades, sob as botas russas ou alemãs.

“Não posso deixar minha família suportar sempre o mesmo martírio. Não podemos viver no limiar da destruição. Com o cheiro da morte rondando nossas vidas. Que garantia se pode ter em ir ao desconhecido? Que garantia se pode ter em ficar e, provavelmente, morrer numa guerra? O medo não pode consumir nossa mente.”

Como escapar das sombras das guerras? Cortá-las? Despedaçá-las? Como dar um fim nas recordações dolorosas quando elas se tornam duradouras. “Provavelmente vou continuar a lembrar. De novo e de novo. A cada notícia de um conflito. De uma invasão. Um círculo que não se fecha em minha vida”.

“Eu me lembro das palavras russas, ásperas e duras, dando ordens, gritando com os presos. Durante muito tempo o russo desencadeou em mim um turbilhão de dor e horror. Eu sabia que Stalin tinha o plano de anexar a Polônia.”

Estacho começou como agricultor. Foi mascate. Quebrou pedras. Fez poços e calçamentos. Depois se encontrou como pedreiro. Gostava da profissão e do trabalho. Dominou todos os detalhes da profissão. E edificou a vida. Trilhou seu pensamento rústico, ligado à natureza, no senso de observação e responsabilidade de uma profissão. Era amável sem deixar de ser rígido e tolerante. Embora não dotado de estudos escolares, tinha a vontade infatigável de aprender e conhecer os detalhes, as regras básicas, estruturas e leis técnicas que regem as diferentes construções. Era meticuloso, realista e observador. Não descuidava das formas. Tanto na construção de uma igreja, um seminário, uma casa, ou um cinema como a que fez para o Domingos Luiz em Prudentópolis. Na construção de igreja, o cuidado com as colunas, as altas paredes, o coro. O púlpito, a nave central, as filas dos bancos, a harmonia das janelas para os vitrais. Sabia mesclar a experiência com a criatividade. Inteligência rápida, prática e lógica.

“A mim me parece que a função do pedreiro é dar consistência aos projetos do engenheiro. Não é só juntar tijolos, concreto, cal fino ou levantar paredes. Precisa entender a planta e conhecer suas implicações para realizar um trabalho seguro, honesto, consistente, sólido. Penso na finalidade da construção. Enquanto o engenheiro pensa nas especificações técnicas, eu me desdobro para realizar as suas ideias da melhor forma. A partir do alicerce de pedra é que o construtor começa seu trabalho efetivo. Lógico que antes ele necessita entender a planta do engenheiro. Por isso observei sempre com muita atenção as plantas e os cálculos e nunca deixei de colocar minhas duvidas. Sou tímido. A mim me falta jeito para falar. Mas quando se trata do trabalho, não”

A habilidade manual dele era inegável e prática para trabalhos diversos. Era criativo no ajeitar tudo. Desde uma tábua para cortar repolho até esculpir um pedaço de madeira no formato do pé para colocar dentro do calçado para aliviar o joanete.  Faltou ladrilho para completar o lado da banheira? Pegava uma folha galvanizada, riscava no tamanho dos azulejos e pintava na cor apropriada. Colava adequadamente. Os filhos só descobrem a técnica muitos anos depois, quando a folha começou a enferrujar.

É assim o retrato que seu filho, Julio, procurou pincelar no livro, que pode ser encontrado no Sebo Centenário, junto ao Clube do Comércio, na Rua XV de Julho, 310.

Texto: Divulgação/Alacs

Foto: Herculano Batista Neto

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