17/09/2024
Embora Irati ainda não esteja em estado crítico, os impactos da seca já são sentidos na agricultura local. No Paraná, o governo estadual decretou situação de emergência para agilizar medidas de combate à seca e flexibilizar a captação de água, buscando minimizar os prejuízos
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A estiagem que afeta diversas regiões do Paraná coloca o setor agrícola em estado de alerta. A falta de chuva começa a preocupar agricultores e pode trazer prejuízos financeiros na produção agrícola. Com a economia fortemente baseada na agricultura, Irati não decretou estado de emergência, mas já está em alerta, segundo o secretário municipal de Agropecuária, Abastecimento e Segurança Alimentar, Alessandro Tribik.
Ele explica que a falta de chuva pode atrasar o plantio de culturas importantes. “Em Irati especificamente, a gente está entrando em um período de alerta. Mas nada ainda que esteja apresentando resultados negativos. Se prolongar a falta de chuva, pode ocorrer sim um atraso no plantio, dificuldade na questão até de falta de água em algumas comunidades. Então isso pode acontecer”, afirma o secretário.
Segundo ele, a estiagem prolongada tem causado incertezas no planejamento agrícola. “Tem algumas culturas que são plantadas mais precocemente. Geralmente o milho é plantado um pouco mais antecipado. A partir da segunda quinzena de agosto, setembro, geralmente o pessoal já começa a plantar, tem o pessoal que já iniciou”, relata. Entretanto alguns podem optar por adiar um pouco o plantio. “Tem situações que se tiver uma seca mais severa, em cultura que você pode fazer dois ciclos, dois plantios, se atrasar demais, você vai fazer apenas um. Isso já pode gerar algum impacto na questão de logística e dificultar a questão financeira também”, comenta Tribik.
O secretário cita que já há comunidades onde está faltando água e prefeitura disponibiliza soluções temporárias para suprir a demanda emergencial das famílias. “Aqui no município de Irati, tem algumas comunidades que já apresentaram falta de água. Nessas localidades, as famílias que têm dificuldade com água, a gente pode estar atendendo com o caminhão-pipa. A prefeitura tem dois caminhões que podem atender essa falta de imediato. Mas lógico, é um paliativo, não é algo que vai resolver de imediato. Então o ideal é a questão da chuva mesmo”, avalia.
Segundo ele, estamos “chegando em um período de alerta e que se continuar isso aí, pode ser o período mais crítico dos últimos anos”.
Irrigação
Tribik ressalta que, diante da seca, a irrigação surge como uma alternativa para que os produtores consigam manter a qualidade e o rendimento das lavouras. “Tem algumas culturas que exigem irrigação, por exemplo, a cebola. Então a irrigação é uma opção para o produtor nesse sentido conseguir se sobressair na seca”, orienta.
De acordo com o boletim informativo de 03 a 09 de setembro de 2024 do Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná, “as lavouras de cebola estão em pleno desenvolvimento, com produtores realizando irrigação diariamente, assim como adubação de cobertura e outros tratos culturais. As geadas não afetaram expressivamente, indicando que a produção ainda será conforme o esperado.”
O Deral informa também que, apesar da estiagem, a colheita de batatas da segunda safra tem se mantido dentro das expectativas nas áreas com irrigação. “As batatas da segunda safra estão sendo colhidas nas áreas com pivô de irrigação, com produtividade dentro do esperado. Já o plantio da nova safra está sendo intensificado”. Além disso, a área destinada à cultura neste ano deverá aumentar significativamente, impulsionada pela rentabilidade da safra passada, que está estimulando os produtores.
Já para o plantio do milho, o Deral explica que os produtores estão contando com chuvas para o final de semana. “Mesmo com o tempo seco, tivemos registro de plantio de áreas de milho ao longo da semana, com os produtores apostando na previsão de chuvas no final de semana.”
No entanto, de acordo com o boletim, a situação das áreas de pastagem é preocupante, e a falta de chuvas agrava ainda mais o cenário. “Há áreas de pastagem severamente comprometidas pelas geadas, devendo atrasar a compra de animais para reposição. Além disso, continua a preocupação com a falta de chuvas e o consequente atraso na rebrota, com os pecuaristas precisando recorrer à alimentação complementar. A baixa produção de massa verde também aumenta o risco de queimadas. Os rios e riachos que apresentam redução na vazão de água, prejudicam a irrigação em pivôs”, detalha o boletim do Deral.
Situação de emergência no Estado
O governador Carlos Massa Ratinho Junior decretou, no dia 04 de setembro, situação de emergência em todo o Estado por causa da estiagem. Somente em agosto, o Estado registrou cerca de 20 mil focos de calor, aproximadamente seis vezes mais do que foi registrado em julho.
A situação é causada pela sequência de dias com altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar, aumentando os riscos de incêndios florestais.
O decreto autoriza a dispensa de licitação em contratos de prestação de serviços, obras e aquisição de bens necessários ao combate à estiagem pelo prazo máximo de 180 dias. A medida também reforça a mobilização dos órgãos estaduais sob coordenação da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil.
Apesar de o Estado já ter decretado situação de emergência, no município ainda não é viável emitir um decreto semelhante, segundo o secretário municipal de Agropecuária, Abastecimento e Segurança Alimentar de Irati, Alessandro Tribik. Ele explica que conversas já foram iniciadas com a Defesa Civil para planejar cenários mais críticos, mas por enquanto as medidas emergenciais estão à disposição se necessárias. “De momento a gente não tem como fazer um decreto municipal de emergência, nesse momento ainda não é viável, por mais que o Estado já decretou a situação de emergência e vai na sequência ter uma resolução técnica referente aos comitês de base hidrográfica para pensar alguma situação de calamidade para que seja efetuada. Mas pensar em nível de município, de imediato, a falta de água é oferecer os caminhões-pipas para levar nas comunidades e nas residências”, comenta o secretário.
Resolução visa mitigar os efeitos da estiagem
A Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável (Sedest), com base no decreto de situação de emergência, pretende publicar uma resolução técnica com iniciativas para mitigar os efeitos da estiagem no Paraná.
Entre as medidas estão autorizar as empresas de saneamento a implantar pontos de captação de água emergencial; disponibilizar equipamentos de perfuração de poços para auxiliar os municípios; incentivar do reúso da água por parte da população e de empresas; intensificar a fiscalização do uso clandestino dos recursos hídricos; e estimular o uso racional da água em todos os níveis por meio de campanhas educacionais. “Estamos agindo no momento em que há necessidade de que se tome uma ação efetiva, porque o momento é crítico. Queremos, com essa resolução, de forma técnica, garantir no Paraná os múltiplos usos da água, seja para atividade econômica, para a agricultura, para o abastecimento público e todas as suas variantes”, afirma o secretário de Estado do Desenvolvimento Sustentável, Everton Souza.
Everton detalhou outras medidas em vigor durante entrevista na terça-feira (10). “Desde 2019 trabalhamos com uma série de iniciativas focadas na sustentabilidade e na proteção do nosso patrimônio natural, como a valorização das Unidades de Conservação e a ampliação da área verde do Estado, entre elas as regiões de mata ciliares”, explicou. “Além disso, nesse momento mais crítico, há alocação de recursos para lidar com a crise, com a viabilização de mais estrutura e equipes capacitadas para combater os focos de incêndio de forma rápida e eficiente, mesmo nos locais de difícil acesso”, afirmou Souza.
Uso racional de recursos
De acordo com prognóstico do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), as chuvas vão ficar mais regulares no Estado apenas em outubro, com um incremento no volume em novembro. Apesar disso, é possível que não seja suficiente para equilibrar as perdas acumuladas – setembro será um mês bastante seco em todas as regiões.
Segundo a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), aproximadamente 2/3 das bacias do Estado estão atualmente classificadas como críticas (próximo do limite de captação) ou em situação de alerta (situação intermediária, mas que requer cuidados). “Neste momento não temos problemas significativos, mas dependemos da condição climática e do apoio de todos. Precisamos ter a consciência porque o momento é extremo”, destaca o diretor de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar, Julio Gonchorosky.
Embora a situação atual não seja considerada crítica em Irati, Alessandro Tribik destaca que é fundamental manter a vigilância constante e gerenciar os recursos hídricos de maneira eficiente. “A gente não está numa situação crítica, mas está numa situação que a gente tem que ficar em alerta. Então, tomar cuidado com a questão dos focos de incêndio e buscar usar o recurso hídrico da melhor forma possível. A gente quer que a agricultura desenvolva da melhor forma possível. Até porque a região, o município de Irati, é extremamente agrícola, o que é feito no município é baseado na agricultura. Se a agricultura vai bem, a gente vai bem. Se a agricultura vai mal, a gente também capenga”, afirma.
Queimadas controladas estão suspensas
Por sua vez, o Instituto Água e Terra (IAT) suspendeu, pelo período de 90 dias, qualquer queima controlada para atividades agrossilvopastoris no Paraná, incluindo o método usado para a despalha de cana-de-açúcar. A medida busca amenizar a ocorrência de incêndios florestais em todo o Estado. A combinação de áreas há muito tempo sem chuva e a baixa umidade relativa do ar com as altas temperaturas atípicas para o inverno fez com que o Paraná atingisse nesta semana o período de maior vulnerabilidade para queimadas ambientais.
O Departamento de Economia Rural (Deral) alerta que o risco de incêndios florestais em todas as regiões do Paraná está classificado como muito alto, especialmente nas áreas rurais, onde a estiagem prolongada aumentou significativamente o perigo.
“É um momento climático muito crítico, em que tivemos de tomar essa decisão para inibir qualquer queima no campo. Um foco de fogo, nas condições atuais, pode se transformar em incêndio de grandes proporções”, afirma a gerente de Licenciamento do IAT, Ivonete Coelho da Silva Chaves.
Na região dos Campos Gerais, já há produtores adotando medidas preventivas para mitigar os riscos de incêndios. “Nos Campos Gerais, alguns produtores, já prevendo que pode acontecer alguma coisa, fizeram a parte dos aceiros, aquela cobertura vegetal para fazer biomassa, o pessoal já vai lá e passa um gradão nas margens do asfalto para evitar que, se pegar fogo na margem da BR, não passe para dentro da produção”, afirma.
Impactos na saúde
O clima atual, somado às fumaças das queimadas controladas ou incêndios florestais, pode trazer prejuízos também à saúde. De acordo com o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), a umidade relativa do ar atingiu na segunda-feira (06), na capital do estado, 27%. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a umidade ideal para a saúde dos seres humanos deve estar entre 50 e 60%.
Lenon Diego Gauron