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Transporte escolar é um dos maiores desafios da volta às aulas totalmente presenciais

Com aumento do número de alunos da rede estadual frequentando as aulas presenciais, garantir o direito ao transporte a todos que precisam e manter o distanciamento nos ônibus tem sido uma questão difícil de resolver

28/09/2021

Transporte escolar é um dos maiores desafios da volta às aulas totalmente presenciais

A retomada das aulas presenciais trouxe muitos desafios para a comunidade escolar e um dos principais é o transporte escolar, que é compartilhado entre as escolas municipais e estaduais do Paraná. Com o aumento de alunos presenciais e a necessidade de medidas sanitárias  como o distanciamento, nem sempre há vagas no transporte para todos. O resultado é que há alunos que não estão indo para as aulas presenciais devido a isto.

O Colégio Estadual Antônio Xavier da Silveira, em Irati, é uma das instituições de ensino que tem alunos que possuem dificuldade com o transporte. “Temos muitos alunos que não estão vindo neste momento por falta do transporte escolar, principalmente o pessoal do noturno tem sofrido bastante”, conta a diretora Maria Amélia Ingles.

Ela destaca que a escola entende as dificuldades logísticas, mas ao mesmo tempo relembra que este é um direito do aluno. “Entendemos que eles têm um número exato de pessoas para estar no ônibus, que eles têm que dividir entre município e estado, mas é uma necessidade para que eles possam retornar presencialmente. É um direito do aluno que infelizmente não está sendo cumprido porque a maioria dos alunos que não está vindo presencial, se você questionar os pais, eles vão responder que é porque não têm condições de mandar, visto que estão longe da escola e precisam do transporte escolar”, afirma.

Segundo a secretária municipal de Educação de Irati, Jandira Terezinha Girardi, essa falta de vagas ocorre porque a rede estadual liberou 100% para o retorno das aulas presenciais. Atualmente, a rede municipal está apenas com 30% dos alunos de forma presencial, enquanto a rede estadual aumentou essa porcentagem. No Colégio Xavier, por exemplo, 60% dos alunos estão no ensino presencial. “Tem ônibus que já está com 50%, já ultrapassou os 30%. Eu não abri ainda do 30%, mas por causa do Estado e dessa volta de 100% do Estado, infelizmente, ele teve uma lotação maior”, conta a secretária.

Antes do início das aulas presenciais, a Secretaria Municipal de Educação traçou rotas para que os ônibus pudessem levar os alunos com uma ocupação mínima, respeitando o distanciamento. Contudo, o aumento de alunos na rede estadual tem exigido mais vagas.

Há uma funcionária que fiscaliza a ocupação dos ônibus para manter a segurança dos alunos e os próprios motoristas também tem colaborado. “Aonde os motoristas vêm e relatam. Eles dizem: ‘Olha, está passando’. ‘Está meio demais’. Já entramos em contato com essas escolas estaduais porque com os nossos, do município, não estamos tendo problema nenhum. Não tem lotação, as escolas escalonaram certinho quem precisa de ônibus. Se tem 10, cinco vão num dia, cinco no outro”, disse.

Os motoristas realizam a higienização dos ônibus e alguns dos assentos dos ônibus são marcados para que não sejam ocupados, respeitando o distanciamento. Jandira destaca que não são em todos os colégios que ocorre o problema, mas a lotação a mais existe em algumas rotas. “É um ou dois ônibus que têm um pouco a mais, graças a Deus estamos conseguindo fazer, mas tem. Não posso mentir que não está tendo a mais em ônibus porque, infelizmente, devido a essa volta do Estado, onde muitos colégios tem mais dificuldade para fazer essa escala. Tenho, por exemplo, o Colégio Militar que só ele tem 300 alunos que precisam de ônibus, só um deles precisa, o outro [colégio] mais 100. Então, faça as contas. Mas estamos diante dessa situação conseguindo manter mais ou menos o distanciamento”, disse.

Incompreensão de alguns pais

Outro problema é com os pais que querem que o filho tenha o transporte mesmo não atendendo a critérios. Um deles é que o transporte é para alunos que estejam a mais de dois quilômetros da escola. A pasta mapeou as rotas e definiu pontos de ônibus, onde os alunos conseguem pegar o transporte obedecendo o critério. Contudo, a secretária disse que há pais que querem que o filho seja buscado em locais próximos de sua casa.  “Se formos cumprir tudo isso, nós atrasamos todos os alunos nas escolas. Temos os pontos específicos, aonde eles pegam, aonde foi estudado linha por linha”, explica.

Para a secretária, os pais precisam entender como o transporte funciona. “Tem muitos pais que não entendem e não querem entender essa lei. Eles acham que o transporte é obrigatório para todo mundo. Outra coisa: o transporte é obrigatório para trazer o aluno à escola mais próxima da tua casa. Mas o que encontramos é assim: eles escolhem a escola que eles querem, eles matriculam naquela escola e nós temos que dar conta e levar. Não pode. Pela lei, você tem que matricular na escola mais perto da tua casa. A não ser que não tenha aquela série”, explica.

Apesar das situações dos pais com o transporte, a diretora do Colégio Xavier destaca que esse não é caso dos alunos da escola. Segundo ela, os endereços dos alunos com transporte público são cadastrados no sistema e respeitam o distanciamento de mais de dois quilômetros. “Os nossos alunos todos que têm direito ao transporte estão dentro da regra. Nós seguimos à risca. São sim alunos que vem do Pinho, alunos que vem do Alto da Lagoa, são alunos que vem do Rio Corrente, são alunos que vem de outros bairros e que têm esse direito adquirido. Essa desculpa não funcionaria aqui com o Xavier que a gente segue à risca essa regra”, diz.

Busca de soluções

A secretária municipal de Educação conta que o município tem buscado junto com  o Núcleo Regional de Educação resolver a situação dos ônibus. “Estamos conversando, tendo um diálogo muito bom com o Núcleo porque é muito parceiro o pessoal do Núcleo, o Marcelo [Fabricio Chociai Komar] do Núcleo é muito parceiro para trabalhar com a gente, e estamos conversando diretamente com as próprias escolas, com os diretores das escolas estaduais para podermos manter um equilíbrio”, explica.

Em nota, a Secretaria de Educação do Paraná também confirmou a negociação. “O Núcleo Regional de Educação de Irati e a Secretaria de Estado da Educação e do Esporte do Paraná têm feito reuniões com as direções de escolas estaduais do município de Irati, a Secretaria Municipal de Educação de Irati e com a Secretaria de Estado da Saúde do Paraná para encontrar e executar soluções para o transporte escolar de estudantes da rede pública no município de Irati, considerando as rotas percorridas pelos veículos e as medidas de biossegurança”, disse em nota. A assessoria da Secretaria de Educação do Paraná não respondeu se há algum projeto para o transporte escolar.

Professores

A volta das aulas presenciais antecipou a vacinação entre os professores. Contudo, muitos professores ainda não tomaram a segunda dose. Para o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), esta é uma preocupação. “A expectativa da categoria era de que a volta ocorresse após a imunização completa dos professores, mas infelizmente o governo não cumpriu com o que havia noticiado e convocou os professores mesmo antes da primeira dose”, disse a secretaria de assuntos municipais da APP-Sindicato, Tatiana Nanci da Maia.

Em Irati, a secretária municipal de Educação conta que a previsão é que somente em abril todos os professores terão a segunda dose aplicada. Enquanto isso, o município tem realizado um trabalho de adaptação com professores e funcionários. “Esse trabalho para a volta, para o retorno presencial foi um trabalho de formiguinha da Secretaria de Educação. Os psicólogos da Secretaria de Educação fizeram um trabalho com cada escola, com cada CMEI, desde o merendeiro até o diretor. O Agostinho Basso nos ajudou bastante. Ele fez uma live com os CMEIS e com as escolas separadamente, onde puderam tirar dúvidas e esclarecer pontos que ainda tinham tanto com aproximação dos alunos”, explicou.

A diretora do Colégio Xavier destaca que o trabalho para os professores dobrou neste momento, já que eles precisam ensinar em sistemas diferentes. “Além de fazer toda a transformação para trabalhar no EaD, que não foi fácil, hoje temos uma outra situação que lidamos com aluno que ainda continua on-line, por conta do transporte. Temos ainda aqueles que por conta do transporte ainda não conseguem vir no presencial e que são do material impresso. E temos os alunos presenciais. O trabalho multiplicou para os profissionais da educação”, relata Maria Amélia.

A representante da APP-Sindicato acredita que é preciso mais diálogo para conseguir uma boa volta às aulas. “Hoje, a Secretaria de Estado da Educação tem imposto as medidas, sem envolvimento direto da comunidade escolar, a esta tem sobrado cobrança e cumprimento de metas, desta forma a tendência é que não tenhamos sucesso na retomada das aulas e na recuperação da aprendizagem dos estudantes”, disse.

Avaliação

Apesar de todos os problemas gerados na volta às aulas presenciais, a avaliação geral é que a volta tem seus pontos positivos. A secretária de Educação de Irati conta que tem realizado visitas nas escolas e CMEIS para entender como está sendo essa volta. Segundo ela, o retorno tem sido mais tranquilo do que se esperava. “Estamos sentindo uma tranquilidade nas escolas em relação a isso. Nosso primeiro receio era esse medo, tanto dos professores, porque tinham apenas uma vacina, a maioria que está recebendo a segunda vacina. Era uma preocupação grande da Secretaria de Educação porque temos que preservar a nossa equipe, os alunos e a família. É um todo que nos preocupamos, não nos preocupamos apenas com o aprendizado”, disse.

Para a diretora do Colégio Xavier, o retorno presencial precisava acontecer e é preciso aprender a lidar com a nova situação. “É muito positivo o retorno. O lado negativo seria o medo da sociedade, dos jovens e dos profissionais da educação quanto a esses alunos ainda não vacinados. Mas penso que já estamos caminhando para vacinação dos jovens, acredito que logo conseguimos fazer a vacinação para que possamos ter mais segurança. Mas vemos como positivo o retorno, inclusive os professores estão muito felizes para poder trabalhar com esses alunos no presencial”, explica.

Defasagem na aprendizagem

Uma das principais ações nessa volta às aulas presenciais é a recuperação da defasagem de aprendizado dos alunos.

Na rede municipal de ensino, Irati tem optado em priorizar algumas disciplinas e os coordenadores pedagógicos chamam os alunos com mais dificuldades e fazem um trabalho separado com eles. “Elas vão trabalhar no momento o português e a matemática que é o essencial. Elas colocam em um horário diferenciado para eles e os que estão com mais dificuldade estão sendo atendidos por essas coordenadoras que vão chamando. Há até diretor que está fazendo esse trabalho’, relata Jandira.

Ela conta que o município tem dado suporte, respeitando a diferença das escolas. “Em uma escola lá X, os pais auxiliam mais, trazem mais tarefas, devolve mais, e a outra escola Y tem mais dificuldade para fazer os pais trazerem essas tarefas tem que ir atrás. Nisso você vê a diferença. Por isso a equipe pedagógica está trabalhando diretamente com cada coordenador, com cada escola, com os professores. Estamos em atendimento direto porque o nosso trabalho é ajudar as escolas e os CMEIS”, disse.

No Colégio Xavier, o trabalho para recuperar a defasagem também já iniciou. Segundo a diretora, a principal defasagem é com os alunos que receberam apenas o material impresso. “Estamos trabalhando com diagnóstico de aprendizagem para percebermos o que o aluno tem de conhecimento e onde ele ficou sem esse conhecimento para que possamos retomar. Por isso, trabalhamos com algo chamado currículo priorizado que é priorizar as ações pedagógicas às quais eles não tiveram acesso durante a pandemia. Depois desse currículo priorizado, que vamos seguir trabalhando com essas dúvidas e dificuldades, tentando recuperar o tempo perdido dos nossos alunos, dando apoio e ajuda às famílias, e principalmente, aos nossos professores”, explica.

Texto: Karin Franco

Fotos: Cibele Bilovus/Hoje Centro Sul

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