17/06/2024
Junho é o mês de celebração e devoção a alguns santos católicos, como Santo Antônio e São João Batista. Nesse período festivo, histórias de graças alcançadas entrelaçam-se com a rica cultura e tradição destes eventos que fortalecem também os laços comunitários. Além disso, essas festividades desempenham um papel crucial no desenvolvimento e sustento das instituições religiosas e educacionais
Em meio às fogueiras acesas, bandeirinhas coloridas e ao som das quadrilhas, as festas juninas destacam-se como um evento cultural e religioso de grande importância, celebrando tradições em alusão ao Dia de São João, comemorado em 24 de junho. Outra tradição marcante desta época é o Dia de Santo Antônio, celebrado em 13 de junho. Conhecido como o "Santo Casamenteiro", Santo Antônio atrai fiéis em busca de graças, especialmente através do tradicional bolo que contém as medalhinhas do santo.
O pároco da Matriz Nossa Senhora da Luz de Irati, padre Jorge Casimirski, comenta sobre a tradição católica de celebrar São João Batista e Santo Antônio. “Neste mês de junho nós celebramos alguns santos, através das solenidades celebradas, mas também festivas. Santo Antônio, com uma grande admiração, se tornou santo, porque ele era um grande pregador. Ele tinha na sua caminhada uma grande preocupação com os pobres, ajudava também doando as vestes para os casais que não podiam comprar”, conta o padre. “Depois, temos São João Batista, também na sua simplicidade. Então são santos celebrados que viraram uma tradição da igreja”, acrescenta.
As raízes das Festas Juninas
As festas juninas brasileiras misturam cultura popular e devoção religiosa em cada região do país. O vigário da paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Irati, padre Alexandre Spena Regueira, explica a origem destas comemorações na igreja. “A tradição das festas juninas nos foi trazida pelos portugueses e incorporada pelo povo brasileiro dentro de cada cultura regional e que hoje se apresenta a nós de diversos modos, mas, todos têm sua base cristã na comemoração da festa em honra a São João Batista. Por isso, ‘Festa Joanina’, que ao decorrer do tempo, foi sendo falada e chegou a este termo ‘Festa Junina’, que também celebra os grandes santos que celebramos no mês de junho”, explica o padre.
João Carlos Corso, doutor em História e professor do Departamento de História da Unicentro, destaca as tradições culturais associadas à colheita que remetem aos primórdios deste tipo de festa e são bem mais antigos que as comemorações no Brasil. “As festas foram incorporando elementos e modificando-se, então a gente vai ver isso até com a questão dos alimentos que vão ser usados, como o caso do milho, o amendoim, a abóbora etc. E a origem dessas festas, elas têm relação com as festas da colheita, e aí elas não eram festas exatamente cristãs, eram festas de outras culturas”, detalha.
Ele relata que ao longo da história, a colheita tem sido um momento de grande importância em diversas civilizações, onde a gratidão e a celebração se entrelaçam em rituais e festividades. Esses elementos foram se misturando, formando as festas atuais que reconhecemos hoje. “A agricultura era considerada uma atividade sagrada. Então tinha tanto isso na antiguidade com a questão dos rituais, como o cristianismo, quando você vai agradecer os frutos produzidos pelo processo de agricultura. A agricultura é entendida como uma atividade que depende de uma graça divina, que depende desse elemento sagrado”, explica o professor.
Corso comenta também como as festas juninas foram sendo adaptadas à agricultura e produção de alimentos de cada região do país. “O amendoim, a abóbora, o vinho, a cachaça, o quentão, por exemplo, são variedades mais no Sul. Lá no Nordeste, a cachaça, porque o Nordeste tem muito mais alambique e tem pouca produção de uva. A mandioca, lá no Nordeste, vem de uma cultura que é indígena. Então são alimentos que são provenientes da América e que o português, quando chega aqui, acaba tendo que adaptar a sua alimentação, porque ele não tinha aqui a alimentação que havia em Portugal”, detalha o doutor em História.
Festas juninas nas escolas
As festas juninas são data marcantes nas escolas, pois promovem a interação de pais e alunos, e ainda arrecadam fundos para a instituição, explica a diretora da Escola Municipal Professora Antonina Fillus Panka de Irati, Silvana Teresinha Rzepka. “A preparação para a festa junina já começa no mês de março, mesmo que tenha algum outro evento antes. A gente já manda bilhete para os pais, perguntando quem tem interesse em colocar os filhos de candidato a sinhazinha ou sinhozinho e, a partir do mês de abril, a gente já faz uma reunião com todos os interessados, já entrega os blocos e eles já começam a vender votos”, conta a diretora.
Para Silvana, as festas juninas na escola representam também um momento de grande celebração e participação. “A gente oferece as apresentações de cada turma, com temas específicos de festa junina, o desfile do concurso e depois mais algumas danças. Também tem a pescaria, que as crianças gostam muito, além das comidas, como pastel, pinhão, sonho, bolo, quentão, maçã do amor e muito mais”, descreve.
Ela conta como a colaboração da comunidade é fundamental para o sucesso dos eventos na escola. “Muitas mães vêm durante a semana que antecede a festa para ajudar na preparação da massa do pastel, na organização, preparando os bolos, então a gente trabalha durante a semana toda, o pessoal, as professoras e os funcionários”, conta Silvana.
A diretora cita que eventos do tipo são uma importante fonte de arrecadação financeira para a manutenção de projetos e atividades. “A importância da festa junina, além da questão financeira que a gente precisa para manter algumas coisas que às vezes a gente não consegue através da administração é a interação, a reunião, os pais vêm, participam, ajudam, então é para acontecer essa interação entre as famílias, família e escola, isso é muito legal”, comenta.
Santo Antônio, o Santo Casamenteiro
Além de São João Batista e as festas juninas, em junho também é comemorado o Dia de Santo Antônio, no dia 13. O padre Alexandre Spena Regueira conta como surgiu uma das histórias mais conhecidas sobre o ‘Santo Casamenteiro’.
“Reza a lenda que, certa vez, em Nápoles, havia uma moça cuja família não podia pagar seu dote para se casar. Desesperada, a jovem – ajoelhada aos pés da imagem de Santo Antônio – pediu com fé a ajuda do Santo que lhe entregou um bilhete e disse para procurar um determinado comerciante. O bilhete dizia que o comerciante desse à moça moedas de prata equivalentes ao peso do papel. Obviamente, o homem não se importou, achando que o peso daquele bilhete era insignificante. Mas, para sua surpresa, foram necessários 400 escudos da prata para que a balança atingisse o equilíbrio. Nesse momento, o comerciante se lembrou que outrora havia prometido 400 escudos de prata ao Santo, e nunca havia cumprido a promessa. Santo Antônio haveria de fazer a cobrança daquele modo maravilhoso. A jovem moça pôde, assim, casar-se de acordo com o costume da época e, a partir daí, Santo Antônio recebeu, entre outras atribuições, a de o ‘Santo Casamenteiro’”, conta o padre.
O Bolo de Santo Antônio
O bolo, parte integrante das festividades de casamento, tornou-se um símbolo marcante das uniões matrimoniais. Mas e a tradição do Bolo de Santo Antônio?
“O bolo faz parte da cultura da festa de casamento e é um dos símbolos altos do casamento: o bolo dos noivos. Tendo essa cultura, muitos confeiteiros devotos de santo Antônio começaram então a propagar a devoção ao santo colocando primeiramente medalhas com a imagem do santo e depois de certo tempo uma pequena imagem, que para muitos, significa que aquele que achar a medalha ou a imagem casar-se-á logo. Para a Igreja, o significado é o de propagar a fé pelo testemunho de Santo Antônio. Ao olharmos para a imagem dele devemos ter em nós o desejo ardente de seguir a Cristo assim como ele”, descreve o padre Alexandre.
Em Irati, um dos locais que confecciona o bolo de Santo Antônio é a Capela São Francisco. A iniciativa não apenas fortalece a fé dos devotos, mas também desempenha um papel crucial na arrecadação de fundos e na manutenção da capela. “A gente começa pelo recheio, neste ano vai ser com o coco natural. A gente rala a fruta, deixa tudo pronto, fica mais gostoso. No preparo, a gente faz a massa para rechear e montar o bolo. Isso demora mais ou menos um dia e meio para fazer. O pessoal ajuda bastante, vem ajudar a fazermos o bolo, ajuda e doa ingredientes, e dá tudo certo”, conta Maria Estela Gavlak, confeiteira que faz parte da equipe da produção do bolo na capela.
A tradição do bolo de Santo Antônio também é uma oportunidade de contribuir com a comunidade e a própria igreja. “É em prol da capela, para ajudar nas reformas, e claro que também para o pessoal da comunidade que gosta de comprar as coisas com a gente, além da tradição do bolo com as medalhinhas. O povo procura bastante por causa da medalhinha do santo”, conta Luciane Gauron, que também faz parte da equipe.
O padre Alexandre ressalta a importância da celebração cultural e religiosa das festas juninas e do dia de Santo Antônio. Para ele, os brasileiros expressam de forma carinhosa sua gratidão a Deus pelas bênçãos e graças concedidas e fortalecem os laços entre a comunidade. “A igreja busca fazer parte da cultura na realidade do povo. O povo brasileiro é um povo de fé e de alegria e celebra os seus padroeiros sempre com festa, numa forma carinhosa de elevar a Deus sua gratidão por todas as bênçãos e graças dispensadas sobre o povo por Deus pela intercessão dos santos”, finaliza.
Graças alcançadas
Edinir Pulner compartilha sua história que ecoa a fé e a tradição por trás da medalhinha encontrada no bolo de Santo Antônio. No ano passado, ao adquirir o bolo na capela São Francisco, ela encontrou a medalhinha, momento que desencadeou um pedido feito a Deus e aos santos. Com surpresa e gratidão, hoje ela testemunha que seu desejo se realizou.
“Ano passado que eu fui na capela São Francisco e comprei o bolo, eu achei a medalhinha, daí na época eu tinha feito o pedido, para Santo Antônio, para Deus, para São Francisco, que eu queria que Deus preparasse um companheiro para mim. E você acredita, deu certo? Já faz seis meses que nós estamos morando juntos, mas já faz nove que nós nos conhecemos. E por coincidência, o nome do meu companheiro é Francisco Eduardo, e é uma bênção de Deus”, conta Edinir.
Texto: Lenon Diego Gauron