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Por que Irati? Os motivos que levam pessoas de diferentes lugares a escolherem a cidade como novo lar

13/07/2024

Por que Irati? Os motivos que levam pessoas de diferentes lugares a escolherem a cidade como novo lar

Às vésperas de comemorar 117 anos de emancipação política, Irati se destaca não apenas por sua história e paisagens naturais, mas também pela diversidade e acolhimento aos que aqui encontram seu lar. Em meio a suas jornadas individuais, pessoas que deixaram os estados do Rio Grande do Norte, o Amapá e o Mato Grosso do Sul, além de uma família que veio da Venezuela para o Brasil,  destacam aspectos únicos de Irati: a paz que permeia os dias, a beleza das paisagens naturais, a segurança que permite caminhar tranquilamente pelas ruas, e a calorosa recepção dos iratienses. Mesmo encarnado as diferenças culturais e gastronômicas, todos concordam em um ponto: Irati é mais que um lugar para se viver, é um lar onde se constrói uma história de vida

 

Na próxima segunda-feira, dia 15 de julho, Irati celebra 117 anos de emancipação política. Com quase 60 mil habitantes, a cidade não só abriga iratienses, mas também recebe pessoas de diversas origens, tanto de outras cidades e estados brasileiros quanto do exterior, que decidiram fazer de Irati seu lar. Conheça algumas dessas histórias de quem escolheu a cidade e o que as faz permanecerem por aqui.

Das praias do Nordeste para Irati

Peterson Nogueira, natural de Areia Branca, Rio Grande do Norte, mudou-se para Irati em 2017 após ser aprovado em um concurso público para lecionar no Instituto Federal do Paraná (IFPR). Ele conta que se encantou com a receptividade da cidade e descreve Irati como um local de paz. “Fui lotado no Campus Irati em 2017 e desde então moro nesta cidade que me acolheu de forma calorosa – tão calorosa que os dias frios nem chegam a incomodar. Eu pensei que qualquer cidade do Sul teria seus contornos bairristas, mas Irati se mostrou agradável e calma, me recebendo bem. Às vezes, penso que Irati é o último recôndito de paz no mundo”, descreve.

Seus lugares preferidos em Irati envolvem contemplar a natureza, como cachoeiras, pores do sol e parques. “Já vi o pôr do sol e a lua nascendo gigante lá ‘nas torres’ e também lá do bairro Solaris. Já fui de bicicleta até a cachoeira do Pinho de Baixo, já fui à vinícola, já passeei por plantações, pela Flona, amo o Parque Aquático, pela representação de gente reunida para celebrar a vida. Adoro todos esses lugares e tenho dificuldade de dizer qual o melhor”, cita o professor, que é formado em Letras com doutorado em literatura brasileira.

A principal diferença entre Areia Branca e Irati, segundo ele, é a presença do mar. Nascido em uma cidade onde o sertão encontra o oceano, ele sente falta dos mergulhos nas águas salgadas. No entanto, ressalta que Irati lhe proporciona outros ‘mergulhos’, como a paz, a tranquilidade e um emprego que o deixa feliz. 

Ele também tem saudade da culinária de seu estado natal, mas contorna isso ao trazer pratos tradicionais para Irati. “Para diminuir essa distância, eu trouxe o cuscuz e a canjica, que é uma receita diferente da que existe por aqui. Mas sinto falta do feijão verde, queijo coalho e outras comidas. Por outro lado, incorporei o pinhão à minha experiência gastronômica”, destaca Peterson.

Ele relembra que uma das experiências mais marcantes em Irati foi receber um aluno surdo. Motivado pelo desejo de inclusão, aprendeu a Língua Brasileira de Sinais (Libras) diretamente com o aluno. De acordo com Peterson, atualmente se ele orgulha de ser o único professor na turma deste aluno que se comunica fluentemente na língua de sinais.

Amapaenses que escolheram Irati

Fabiane Duarte dos Santos também fez uma longa jornada para chegar a Irati. Ex-moradora de Santana, no estado do Amapá, ela e seu marido vieram em busca do que não encontravam lá: segurança, estabilidade financeira e novas oportunidades. Em Irati, eles construíram uma vida enraizada e têm uma filha que nasceu no município. “Os primeiros três meses foram bem difíceis, não estávamos acostumados com o clima, mas conseguimos nos adaptar e hoje podemos dizer que estamos bem financeiramente, meu esposo está empregado, temos uma filha iratiense com 9 meses”, conta.

Dentre outros aspectos da cidade, Fabiane comenta que se surpreendeu com o acesso à saúde pública no município. “Sempre fomos bem acolhidos aqui pelas pessoas, em questão de saúde, ótimo atendimento. Fiz meu pré-natal todo pelo SUS, tive até atendimento odontológico, que faço até hoje no posto de saúde. Posso dizer que nunca fui tão bem atendida e cuidada como aqui. E mesmo depois do parto, minha filha é bem cuidada na unidade de saúde, ela é acompanhada desde quando nasceu. Aqui tudo é super organizado, os atendentes são educados”, afirma Fabiane.

Além disso, a segurança e a tranquilidade de Irati a motivam a permanecer. “Irati é uma cidade maravilhosa, população acolhedora e educada, além do mais, tudo é perto, escola, posto, creche, farmácia etc. Sem falar da segurança que temos aqui. A forma como as pessoas são cordiais, o jeito que a cidade é tranquila à noite, as pessoas vão dormir cedo. Eu já tive várias experiências aqui, mas a questão da segurança foi a principal. Só de você andar na rua e se sentir segura, sem ter medo de ser assaltado, isso já é maravilhoso”, relata.

Fabiane cita ainda as opções lazer e as possibilidade de contato com a natureza como seus atrativos favoritos na cidade. “A cidade em si, ela é linda. Paisagens, o verde, a natureza. Eu gosto bastante do Parque Aquático, é perto de casa, é bem especial, um lugar cheio de paisagismo, de lazer, tem uma conexão maravilhosa com o meio ambiente, você pode fazer piquenique com a família, são várias coisas legais”, detalha.

Ela conta que uma das coisas que mais sente falta, que era comum em seu município anterior, é a diversidade de estilos de entretenimento. Em Irati, a cultura musical é predominantemente voltada para o sertanejo e músicas gaúchas, o que faz com que ela sinta falta de apresentações de rock, música gospel e católica em grandes eventos como a ExpoIrati. Apesar dessa diferença, ela reitera que isso não muda sua opinião positiva sobre Irati, continuando a recomendá-la para outras pessoas. “Quando as pessoas me perguntam se é bom morar em Irati, eu falo: se você procura uma cidade pequena, uma cidade familiar, tranquila, quieta e segura, Irati é uma das melhores opções”, avalia Fabiane.

Do Mato Grosso do Sul para Irati

Há poucos meses, Poliana Ramos Pavão, natural de Naviraí (MS), chegou a Irati para cursar fonoaudiologia na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). Ela conta que quando viu seu nome na lista de aprovadas para o curso, embarcou para Irati e foi amor à primeira vista. “Como foi de última hora tudo, quando saiu minha vaga, tive que procurar moradia pela internet e fui conhecer a cidade no momento que pisei aqui praticamente já para morar. Quando cheguei, estava com minha mãe, ela me ajudou com a mudança, nós duas gostamos desde o primeiro dia, andando e frequentando o comércio, achamos as pessoas bem queridas e atenciosas”, descreve.

Uma das motivações de Poliana em cursar Fonoaudiologia em Irati foi por uma experiência pessoal com seu irmão mais novo, que necessita de acompanhamento fonoaudiológico desde a infância. Por capricho do destino, a profissional que atende o irmão de Poliana no Mato Grosso do Sul também se graduou em Irati, o que despertou ainda mais o interesse dela pela cidade, sua universidade e o curso.

Além disso, ela relata experiências boas em Irati e diz ainda estar se adaptando ao clima. Seu local favorito é o Santuário de Nossa Senhora das Graças, no alto da cidade. “Estou tendo experiências boas, gostei da cidade, a estética do Paraná com essas araucárias que eu acho simplesmente lindas, vários lugarzinhos aconchegantes conhecendo a cidade. O clima que acho meio doido, do nada está calor em um dia, no outro está aquele frio de congelar, mas isso já estou me acostumando. O meu lugar preferido definitivamente é a vista do mirante da Santa de dia e à noite; já tive a oportunidade de ir nos dois momentos e é muito lindo em ambos”, comenta.

Dentre as principais diferenças de Irati para Naviraí, Poliana cita o relevo com subidas em Irati, algo que ela não estava acostumada, o sotaque e também a culinária. “Aqui tem muito costume de comer pinhão e tomar chimarrão, estou aqui há 3 meses e ainda não experimentei nenhum dos dois, mas está na minha lista de costumes do Paraná que preciso experimentar ou conhecer. Algo também recente que descobri que aqui não tem é chá de amendoim nas festividades juninas, que sinto muita falta. Muita coisa da cultura muda e a cada dia estou descobrindo particularidades de Irati e de toda essa cultura rica do estado”, conta.

Apesar das diferenças culturais e da culinária, ela diz que o que sente falta é da família. E entre as principais características que a fazem recomendar Irati para outras pessoas, Poliana também destaca a segurança e a tranquilidade do município. “Só estou tendo experiências boas da cidade e dos lugares também, prezo muito por segurança e andar tranquila para onde for e aqui é o lugar certo pra isso”, enfatiza a estudante.

Da Venezuela para Irati

Desiree Del Carmen Hernandez Rodriguez é natural de Maturín, na Venezuela, e veio para Irati com a família em busca de oportunidades melhores de vida. Após passar pelo estado de Roraima e pela cidade de Prudentópolis, ela conta que foi em Irati que encontrou seu verdadeiro lar. Com as condições desfavoráveis no seu país anterior, foi convencida pelo marido a procurarem uma vida melhor no Brasil. “Eu estava doente e a comida que eu conseguia era para a minha filha, eu já estava muito magra, então ele falou para a gente ir embora do país”, lembra.

Desiree destaca que uma das maiores surpresas ao chegar em Irati foi o acesso facilitado à saúde pública. Ela comparou com sua experiência na Venezuela, onde enfrentava dificuldades para conseguir tratamentos e medicamentos, algo que encontrou com mais facilidade em Irati. “Eu agradeço muito ao Brasil, aqui em Irati, porque agora as coisas estão dando certo, estamos mais tranquilos. A nossa cidade era tranquila, mas ficou muito difícil as coisas por lá. A saúde era horrível, aqui é tudo certo. Minha filha ficou doente, com muitas dores nas costas e disseram que em Irati era melhor a parte da saúde. Graças a Deus deu certo a fisioterapia dela. Na Venezuela eu não pude tirar os dentes que eu precisava, e aqui eu consegui e já tenho tudo encaminhado para o tratamento”, descreve a venezuelana que também conseguiu tratamento para artrite reumatoide em Irati.

Desiree conta que sua filha gosta bastante de Irati e já se adaptou à Escola Municipal Padre Wenceslau, no bairro Rio Bonito, a qual frequenta. “Eu quero permanecer aqui em Irati, porque a minha filha está muito tranquila, ela já se adaptou à escola, nós saímos fazer as coisas, ela gostou bastante”, diz.

Ela também destaca a segurança e a tranquilidade de Irati como principais aspectos para gostar do município. “Minhas primeiras impressões quando cheguei aqui em Irati é que tudo é tranquilo, dá para usar o telefone na rua, nós ficamos muito tranquilos, passeamos e não temos problemas”, conta.

O que Desiree sente falta é da comida tradicional da sua região da Venezuela, como a arepa, que de acordo com ela é feita de farinha de milho e o cassabe, derivado da mandioca, mas conta que também já se adaptou à culinária local.

Adaptação faz parte da natureza humana

Apesar de diferenças culturais, gastronômicas e diversas outras dificuldades que pessoas que vêm de outras regiões podem encontrar, a psicóloga clínica Paola Padilha dos Anjos Velozo explica que faz parte da natureza humana a adaptação.

“Todos nós enquanto seres humanos temos a capacidade de adaptação, porque foi justamente isso que nos fez evoluir enquanto espécie humana e também possibilitou a continuidade da nossa existência”, descreve.

De acordo com ela, a adaptação pode ser mais desafiadora no aspecto cultural predominante na transição. “Aqui falamos em comidas, formas de falar e se relacionar, formas de se vestir etc. Claro que considerando o fato de que ainda estamos falando em uma mudança dentro do mesmo país, existem questões que não sofrem tanta variação, como por exemplo, a língua e a política. Pessoas que se mudam para outros países podem sofrer ainda por essas questões”, avalia.

A psicóloga destaca que o processo de adaptação de cada pessoa é profundamente influenciado por sua história de vida e pelas experiências prévias de mudança. “O que de mais forte vai influenciar o processo de adaptação é a história de vida da pessoa, as experiências que ela teve até então. Poderíamos considerar, por exemplo, se ela já teve outras experiências de mudança. Se sim, como elas aconteceram? Quais crenças ela possui a respeito de mudar? o que influenciou a mudança para Irati?”, cita Paola.

 

Mais de 60 anos em Irati: O que mudou?

Bem adaptado com a vida no município, o mecânico Antônio Serafim veio da cidade vizinha, Rio Azul, há mais de 60 anos para morar em Irati e construir a vida toda no município. Ele relata as mudanças que viu ao longo das décadas no município. “Mudamos para cá em 1963, faz mais de 60 anos – eu estou com 70 anos. Irati era bem diferente, não tem nem comparação. Para vir para Irati de Rio Azul gastava o dia inteiro, porque vinha de trem. Hoje, vai e volta em uma hora. Naquela época Irati era muito menor, não tinha muitas lojas, oficinas, carros eram bem poucos”, recorda.

Com 56 anos dedicados à profissão, foi pela curiosidade que começou a ter interesse por automóveis. “Eu entrei na mecânica 'por metido', eu gostava de mexer nas coisas. Na rua Trajano Grácia, onde tem o hipermercado, era uma oficina mecânica e eu morava ao lado, me criei ali. Eu chegava da escola, tinha uma fresta na cerca de ripa e eu ia lá na oficina. Meu pai pagava uns trocados para o dono da oficina para eles me aguentarem o dia todo lá; eu não ganhava, eu pagava para ficar lá. Daí foi indo e fui aprendendo, comecei varrendo chão, limpando banheiro, lavando peças, e depois de um ano eu comecei a receber meu salarinho”, conta Antônio.

Após isso trabalhou em outras oficinas e até para a própria Volkswagen. Possui uma oficina própria há 34 anos, a qual mantém com muito trabalho e dedicação. Junto com sua esposa Anastácia, constituiu família, teve filhos e hoje ambos sentem orgulho do que construíram em Irati.

Com o lema ‘Para viver bem não precisa muitos bens’, Antônio diz que nunca pensou em morar em outra cidade. “Eu gosto muito de Irati, vim para cá criança, cresci aqui, casei, formei minha família e estão todos por aqui ainda, então é sinal que é uma cidade muito boa. Eu não trocaria Irati, eu gosto muito de Irati. Tudo o que eu consegui foi aqui, trabalhando bastante”, finaliza.

Texto e fotos: Lenon Diego Gauron

 

 

 

 

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