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Piores decisões em relação ao dinheiro são tomadas quando a saúde emocional está abalada

A série Round 6 traz a história de pessoas que aceitam participar de um jogo macabro para poderem pagar suas dívidas. O debate sobre limites para lidar com problemas financeiros vem à tona com a série.

24/11/2021

Piores decisões em relação ao dinheiro são tomadas quando a saúde emocional está abalada

Você aceitaria participar de um jogo onde concorresse a um prêmio que pagaria todas as suas dívidas e modificaria sua vida financeira para sempre? Porém, para ganhar, você teria que chegar à etapa final. Mas se perder em uma das etapas, você morre. E aí, aceitaria?

É essa a proposta de Round 6, a série mais assistida da Netflix, com mais de 111 milhões de espectadores. Além da grande audiência, a série tem sido muito discutida por causa de sua extrema violência, que pode chocar espectadores mais sensíveis. Contudo, por trás da violência e da ficção, a série aproveita para discutir valores da sociedade, como ambição, ganância e a desvalorização da vida humana perante a falta de dinheiro.

O principal questionamento que a série lança são os limites das pessoas desesperadas por causa de dívidas para resolver sua situação financeira. Se na ficção, muitos optam por participar do jogo, na vida real, o desespero pode levar as pessoas a se descuidarem da sua saúde mental. “A crise financeira que estamos passando é um dos principais motivos para crises de ansiedade que afetam diretamente a saúde mental e quando estamos com a saúde emocional abalada tendemos a tomar as piores decisões sobre nosso dinheiro”, destaca a coordenadora do curso de psicologia da Universidade Pitágoras Unopar, Giuliana Carmo Temple.

Para contornar isso, o primeiro passo é entender como está a situação real. “O passo fundamental para evitar crises é realizar um planejamento financeiro, colocando em um papel ou em uma planilha tudo que você ganha  e gasta. Dessa maneira, você cria um orçamento pessoal e consegue enxergar bem onde estão seus principais gastos”, conta.

Compartilhar seus problemas e pedir ajuda evita que o endividamento lhe cause desespero. “Outro ponto fundamental é dividir o problema.Converse com amigos, parentes ou até mesmo um especialista. Assim, você se sentirá mais aliviado, pois receberá apoio e cuidado. Dessa forma, você ainda poderá conseguir alguns conselhos e dicas que podem ajudar a resolver alguns problemas financeiros”, explica.

A psicóloga especialista em terapia cognitiva comportamental, Adriana Severine, também aconselha a dividir o que está acontecendo. “A melhor coisa é conversar com alguém que você confie e conheça sobre negociação de dívidas e esteja fora dessa situação para poder auxiliar a negociar as dívidas, enxergar qual a real situação”, detalha.

Se as conversas com amigos e pessoas de confiança não surtirem efeito, a psicóloga alerta que em alguns casos é preciso buscar ajuda profissional. “E emocionalmente buscar auxílio psicológico gratuito nas universidades com curso de psicologia ou pós, além dos CAPS que dão atendimento de psicólogos e psiquiatras gratuitos”, sugere Adriana. Atividades simples como uma caminhada ou uma conversa com pessoas, como os vizinhos, podem ajudar a evitar um descontrole emocional.

Prevenção

Crises financeiras mundiais já foram apontadas como causas de suicídio. No Brasil, há relatos de empresários que perderam seus investimentos após o Plano Collor, no início da década de 90, e acabaram tirando suas vidas.

O psicanalista Reinaldo Nascimento alerta que a crise financeira pode ser apenas um gatilho para pensamentos e desejo suicidas, e não, necessariamente, a causa. “Muitas vezes uma situação de dívida não é o fator fundamental para estes pensamentos. Pode ser apenas o gatilho que deu vazão para estes pensamentos e desejos. Por isto é importante fazer uma ‘escavação psíquica’, um processo terapêutico que ajude a compreender os seus processos psíquicos, o inconsciente, e ajudá-lo a desengatilhar os desejos suicidas”, conta.

Ele ressalta que as pessoas neste estado precisam ser incentivadas a buscar ajuda. “É importante ressaltar que uma pessoa em estado depressivo, com pensamentos suicidas, tem dificuldade de buscar ajuda. Se percebermos que alguém do nosso convívio passou a ficar mais introspectivo, usando palavras ou frases como `é o fim’, ‘acabou’, ‘não tem o que fazer’, procure incentivá-lo a procurar ajuda, acompanhe na busca pela ajuda, isto pode salvar uma vida”, conta.

A psicóloga Adriana destaca outros sinais de que a saúde mental não está em ordem: muita apatia, tristeza, falta de vontade de fazer qualquer coisa, pensamentos rápidos e ininterruptos, excesso ou falta de sono, mudança nos hábitos alimentares, ansiedade e depressão. “É imprescindível que a pessoa busque também ajuda profissional para ter um diagnóstico adequado e seguir o tratamento. Nunca se considere fraco por pedir ajuda, ou precisar fazer um tratamento psicológico ou psiquiátrico. O importante é entender que é uma fase, e que você está precisando de ajuda nesse momento”, disse.

Giulinana conta que compartilhar os sentimentos e pensamentos são importantes para que essas emoções sejam externalizadas nesse momento. “É de suma importância as pessoas conseguirem externalizar esse problema. Quando conseguimos falar do assunto sempre conseguimos apoio para enfrentá-lo. As mulheres, na maioria das vezes, conseguem externar esses problemas chorando, desabafando com amigas e com os homens isso não acontece por conta do estigma social de que ‘homem não chora’, que ‘homem precisa ser forte’. É de suma importância externalizar esse problema”, explica.

Por isso, ela alerta que quem precisa desabafar possui opções gratuitas. “Caso a pessoa não queira se consultar com um psicólogo ou falar com um amigo sobre o assunto, desabafe com o CVV no número 188, um atendimento gratuito que salva muitas vidas com orientação e apoio”, disse.

Ambição

Nesses momentos de crise, a ambição por ter mais também pode crescer. Os especialistas destacam que ter ambição não é algo negativo, mas não ter o controle disso pode ser prejudicial. “A ambição é boa, ela nos motiva a crescer, estudar, conhecer coisas novas. A ambição passa a ser algo ruim quando você esquece seus princípios básicos de humanidade, perde a empatia e coloca o aspecto financeiro acima de qualquer outra coisa”, explica Adriana.

Giuliana destaca que é preciso um limite para a ambição. “Sem ambição somos seres passivos e sem vontade de ir além, de ver o outro lado, de conhecer mais. O problema nesse caso da série é que já passa para ganância e o tipo de pessoa está focada no ter pelo ter. O que motiva a sua ação é a vontade de ser superior, ter o que os outros não conseguiram, ela está muito ligada ao poder, à superioridade, nada tem um significado especial ou propósito que justifique os esforços empregados”, conta.

Adriana alerta que em alguns casos, a ambição pode ser destrutiva. “Pessoa com uma ambição destrutiva pode inclusive estar associada a um estágio de psicopatia, narcisismo, o que merece atenção para ter um diagnóstico adequado”, destaca.

E as crianças?

O jogo macabro proposto na série Round 6 usa brincadeiras infantis da cultura coreana para selecionar os participantes que estarão nas etapas seguintes. Os personagens e músicas desse ambiente infantil têm chamado a atenção de crianças e preocupado escolas que chegaram a enviar comunicados aos pais, alertando sobre os cuidados com a série.

Para profissionais, é preciso evitar que os mais novos tenham contato. “Na minha visão é válida a ideia de proteger nossos filhos até os 7 anos, onde criança precisa ser criança, mas infelizmente tem pais que prezam pelo crescimento prematuro de seus filhos”, disse o diretor de Educação Abradi SP, Luiz Tibiriçá.

Paranaenses endividados

Fonte: Fecomércio PR

Os paranaenses chegaram ao fim de outubro um pouco mais endividados. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio PR), 89,9% das famílias paranaenses possuíam algum tipo de dívida em outubro.

O maior aumento no endividamento ocorreu nas famílias de maior renda, entre as quais a PEIC passou de 92,8% em setembro para 95,8% em outubro. Já entre as famílias de menor renda, o endividamento praticamente ficou estável, partindo de 88,6% em setembro para 88,7% no mês passado.

Os indicadores paranaenses seguem a tendência nacional de aumento no endividamento, que subiu de 74% para 74,6% na variação mensal.

Apesar do aumento no volume de dívidas, as condições de pagamento dos débitos são as melhores dos últimos oito anos. A parcela de endividados com contas em atraso ficou em 19,3% em outubro e os que não têm condições de pagar suas dívidas corresponderam a 6,9% no mês passado. Situação mais favorável do que esta só foi registrada em junho de 2013, quando 18,7% dos paranaenses estavam com as contas atrasadas, e em agosto de 2013, quando apenas 6,7% reconheciam não ter meios de quitar as dívidas contraídas.

O cartão de crédito, sempre no topo dos motivos que levam ao endividamento, correspondeu a 73,4% das dívidas dos paranaenses em outubro, seguido pelo financiamento de veículo, com 13,2%, e pelo financiamento imobiliário, com 8,5%.

Texto: Karin Franco

Foto: Pixabay

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