06/08/2021
Celso Bermudes mora em Irati e é pai de um menino de dois anos. Pai e filho ficam em casa com todas as tarefas do dia a dia enquanto a mãe, Patrícia Bermudes, trabalha fora. Ele acredita que se os pais pudessem passar mais tempo com os filhos seria construtivo para a formação das crianças. “É lógico que nem todos conseguem, mas quem pode é muito gratificante, não tem dinheiro que pague isso. E nós queremos ter mais um filho ou filha futuramente, se for possível eu quero cuidar do outro também, sem problema nenhum”, frisou o pai.
Patrícia conta que a presença paterna no cotidiano do filho traz bons resultados. “A gente sabe que há famílias que não podem fazer isso, que precisam dos dois trabalhando, mas aqui conseguimos nos adequar e há um equilíbrio entre abrir mão de algumas coisas para ter qualidade de vida com o nosso filho. O Celso é um pai muito presente, os dois se curtem muito, passam o dia todo juntos”, relata.
O psicólogo e professor da Unicentro, André Marques Choinski, explica que cada vez mais as famílias têm se organizado de formas variadas, fugindo de padrões culturais rígidos, que determinavam que o cuidado das crianças era exclusividade das mulheres, que não podiam ter uma profissão, pois tinham que se dedicar em tempo integral aos filhos, por “dom natural” e/ou por “obrigação” .
“Eu trabalho com famílias há alguns anos e tenho observado essa mudança nas relações familiares, temos várias configurações diferentes de família”, diz André. O psicólogo explica que o que realmente importa é se a criança está sendo cuidada adequadamente. “Essa criança precisa ter adultos que olhem por ela, coloquem regras, sejam modelo de desenvolvimento para que cresça e seja educada com autonomia”, frisou, comentando que isso vale para famílias com filhos, formadas por homem e mulher, para famílias monoparentais e para casais homoafetivos.
“O essencial é que os pais tenham contato com a criança para suprir as demandas dela, pois criança sempre exige muita atenção, tempo, cuidado e o importante é que os pais estejam presentes para proporcionar um desenvolvimento saudável. Não importa se são dois pais, duas mães, se é o pai ou a mãe que cuida, a questão que realmente gera impacto é a qualidade do cuidado e a presença da família”, informa o psicólogo.
Rotina
Celso conta como é sua rotina de pai em tempo integral. “Acordamos, tomamos café e saímos passear com a Mel [cachorrinha de estimação da família], brincamos e eu faço almoço, depois que almoçamos com a Patrícia o pequeno dorme. Brincamos bastante ao ar livre quando dá, para gastar as energias dele, inventamos um pouco de tudo”, comenta o pai.
O casal inverte padrões que a sociedade está acostumada a seguir, o que não os incomoda mais, pois o bem-estar da família está acima de tudo.
“É tudo um processo, temos que quebrar nossas barreiras, nossos preconceitos e tocar a vida da gente sem se importar com a opinião dos outros, porque sempre tem umas piadinhas, mas o bem-estar do nosso filho, a nossa família está em primeiro lugar e está funcionando muito bem dessa forma”, relata Patrícia.
O casal mora em Irati por exigências do trabalho de Patrícia e não tem parentes por perto para ajudarem no cuidado com a criança. Então, o pai se dispôs a assumir esta tarefa, mesmo tendo que abrir mão de outras atividades profissionais.
“Desde que nosso filho nasceu entramos em um acordo para que eu ficasse me dedicando totalmente a ele em casa, antes eu até pensava no que os outros vão achar sobre isso, pelo fato de eu não estar trabalhando formalmente e ficar com o filho, mas agora não me incomodo e gosto do que estou fazendo e quero continuar assim, o que importa é como está dentro da minha casa”, afirma Celso.
Nos finais de semana Patrícia não abre mão de passar o tempo com o filho, até mesmo para o pai descansar. “Eu não abro mão de passar os finais de semana com ele, minha prioridade é brincar com ele, ir em parquinhos e assim o Celso consegue descansar um pouco também. Nosso filho é uma criança muito feliz, tem muito carinho, nós não nos apegamos muito às regras, de por exemplo, ‘não pode dormir junto’, ‘não pode dar muito colo’. Não, a gente aproveita mesmo e fica bem juntinho dele e por isso vemos que ele é uma criança feliz, gosta de sair, passear, é bem companheiro nosso”, relata Patrícia.
No próximo ano o menino irá para a escola por meio período, pois os pais acreditam que ele importe para ele se socializar, brincar com outras crianças, então novas mudanças devem ocorrer no dia a dia da família Bermudes.
Auxílio aos pais e mães
Discutir sobre o cuidado com os filhos e como melhorar as relações familiares é a proposta de um grupo formado por professores e alunos da Unicentro que atende pais e mães na a Clínica Escola de Psicologia da universidade.
“Sempre trabalhei com famílias e dificuldades que as crianças enfrentam. Quando faço terapia com crianças os responsáveis por ela estão presentes porque a dificuldade que a criança enfrenta seja no aprendizado ou outras áreas tem relação com a família sempre”, comenta o psicólogo e professor da Unicentro, André Marques Choinski.
No próximo mês será aberto um novo grupo e os interessados podem ir até a Clínica Escola de Psicologia da Unicentro para se inscreverem. Os encontros acontecerão semanal ou quinzenalmente. Outras informações pelos telefones: (42) 3421-3224 e (42) 99128-9980. “O grupo é para o cuidador da criança, seja pai, mãe, tio, avó, quem estiver responsável pela criança, pode entrar em contato e participar, buscamos ajudar as relações familiares”, finaliza André.
Texto: Cibele Bilovus e Letícia Torres
Foto: Glauciele Pereira