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Violência contra a criança e o adolescente aumentou 78% durante a pandemia

Os números, contabilizados pelo Creas de Irati, incluem casos de maus tratos, negligência, violência psicológica e casos suspeitos de abuso sexual contra crianças e adolescentes

22/05/2020

Violência contra a criança e o adolescente aumentou 78% durante a pandemia

O número de casos de violência contra crianças e adolescentes subiu 78% em Irati desde o início da pandemia, comparando os atendimentos às vítimas realizados nos meses de abril e maio de 2019 e de 2020.

Em 2019, nesses dois meses, o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas) atendeu 14 crianças e adolescentes vítimas de violência física, psicológica e/ou sexual. Nesse ano de 2020, no mesmo período, foram 25 crianças e adolescentes vítimas de violência atendidos.

De acordo com a coordenadora do Creas, a assistente social Patrícia Izaura Bonato Pedroso dos Santos, em abril e maio deste ano foram atendidos 05 casos suspeitos de abuso sexual e 20 casos de maus tratos, negligência e violência psicológica.

“Em Irati os casos de violência infanto-juvenil tiveram um crescimento considerável comparado ao mesmo período do ano anterior. Esse crescimento pode estar ligado à condição em que o país se encontra, onde o distanciamento social se fez obrigatório fazendo desta maneira com que famílias permaneçam por mais tempo juntas. Fatores como a vulnerabilidade social, a condição socioeconômica, contexto histórico também podem ter contribuído no aumento dos índices”, comenta Patrícia.

Ela destaca que, nos últimos meses, a Covid-19 mudou a vida e a rotina de crianças e famílias em todo o mundo. “Esforços de quarentena, como fechamento de escolas e restrições de movimento, embora considerados necessários, estão alterando as rotinas das crianças e os sistemas de apoio. Infelizmente a pandemia do novo coronavírus deixou algumas crianças mais vulneráveis à violência e ao sofrimento psicossocial, tendo em vista que a maioria dos agressores são pessoas próximas às vítimas”, relata.

João Carlos dos Santos, assistente social do Creas, atua no atendimento direto às vítimas de violência. A orientação que ele dá é para que as pessoas denunciem sempre que observarem qualquer situação suspeita.  “Nesse sentido, reforçamos que caso identificados esses tipos de situações de violência, seja feita a denúncia para o Conselho Tutelar ou disque 100, podendo essa ser feita de forma anônima”, explica.

Abuso e exploração sexual infanto-juvenil

Nos meses de abril e maio de 2019, o Creas de Irati atendeu dois casos suspeitos de abuso sexual contra crianças e adolescentes. No mesmo período deste ano já são cinco os casos suspeitos atendidos. O aumento do número de dois para cinco casos, representa 150% a mais de casos suspeitos atendidos, o que preocupa os profissionais da área de assistência social.

“É preciso garantir a toda criança e adolescente o direito ao seu desenvolvimento de forma segura e protegida, livres do abuso e da exploração sexual. A violência sexual praticada contra crianças e adolescentes envolve vários fatores de risco e vulnerabilidade quando se considera as relações de gênero, de raça/etnia, de orientação sexual, de classe social, de geração e de condições econômicas”, explica a coordenadora do Creas.  

Ela destaca que, nesse tipo de violação, são estabelecidas relações diversas de poder, nas quais pessoas ou redes utilizam crianças e adolescentes para satisfazerem seus desejos e fantasias sexuais e/ou obterem vantagens financeiras e lucros.  “Vale ressaltar, que essa violência ocorre em todas as classes sociais, porém nas classes mais baixas esses abusos são mais visíveis, chegando com mais frequência aos serviços públicos de atendimento”, comenta.

O trabalho do Creas no combate à violência, abuso e exploração sexual infanto-juvenil consiste em acolhida, escuta, orientação familiar e atendimento psicossocial e sócio jurídico, onde a equipe recebe a denúncia seja ela oriunda dos demais equipamentos da rede de proteção, ou da busca espontânea.

O caso é acompanhado pela equipe técnica formada por profissionais de nível superior (Serviço Social, Psicologia e Direito), tendo o apoio também de profissionais de ensino médio e fundamental (administrativo e motorista) para execução do Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (Paefi).

“São prestados atendimento à vítima e seus familiares, através de atendimento individual e coletivo, pelo prazo que se fizer necessário. Nos casos mais graves, se houver a necessidade de afastamento da vítima do seio familiar, esse procedimento se dará apenas por encaminhamento do Conselho Tutelar e por determinação judicial”, relata Patrícia. O protocolo de atendimento de crianças e adolescentes no Creas é feito inicialmente pelo Conselho Tutelar.

Atuação do Creas

O Centro de Referência Especializada de Assistência Social (Creas) atua com o intuito de alertar, proteger e prestar atendimentos as vítimas de qualquer tipo de violência ou violação de direitos. De acordo com a coordenadora do Creas, a assistente social Patrícia Izaura Bonato Pedroso dos Santos, o atendimento deve ter postura “acolhedora, de respeito à dignidade e não discriminação”. Postura esta que deve ser mantida desde os momentos iniciais até o desligamento das famílias e indivíduos. “Vale mencionar também que no município existe quatro CRAS que realizam o trabalho preventivo e de acompanhamento familiar, prevenindo situações de violações de direitos que envolvem crianças e adolescentes”, diz Patrícia.

Números do Paraná e do Brasil

No Paraná, durante todo o ano de 2019, dados do Sistema de Informação de Agravos (Sinam) apontam que dos 40.551 mil casos notificados de violência 17.863 envolviam crianças e adolescentes.

No que se refere às notificações de violência sexual, os dados no Estado são alarmantes, dos 4.326 registros no sistema, 76,9% (3.329) foram praticados contra crianças e adolescentes.

No Brasil, em 2019, mais de 90% dos estupros contra crianças e adolescentes foram causados por agressores que compartilham laços sanguíneos ou de confiança com a família da vítima.

A coordenadora do Creas de Irati orienta os pais a sempre conversarem abertamente com os filhos.  “Nessas relações, muitas vezes, o agressor manipula emocionalmente a vítima que nem sequer percebe estar sendo vítima naquela etapa da vida, o que pode levar ao silêncio por sensação de culpa. Por isso é importante os pais, cuidadores ou responsáveis manter sempre um diálogo aberto com as crianças e adolescentes, dando a liberdade e saber ouvir as situações sem culpabilizar a vítima”, destaca Patrícia.

Covid-19

Devido às medidas de isolamento social pela Covid-19, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), junto a Organização Mundial da Saúde, alertam que as crianças e os adolescentes estão mais expostos a situações de violência física, sexual e psicológica devido ao aumento das tensões intradomiciliares.

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) reforça a importância do papel da rede de proteção e dos profissionais de saúde no acolhimento, cuidado e proteção das crianças e dos adolescentes, de forma integral e humanizada.

“Em tempos de pandemia e distanciamento social, temos que estar atentos e alertas, garantindo cada vez mais o direito das crianças e dos adolescentes. É fundamental promover debates e reflexões sobre este tema, desenvolver ações e estratégias de proteção direcionadas para o enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil, visando à garantia do pleno desenvolvimento das crianças e adolescentes de forma digna, saudável e protegida, livres do abuso e da exploração sexual”, explica a diretora de Vigilância em Saúde da Sesa, Maria Goretti David Lopes.

18 de maio

O dia 18 de maio foi instituído Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil pela Lei Federal 9.970/00.  Esta data foi escolhida  porque em 18 de maio de 1973, na cidade de Vitória (ES), um crime bárbaro chocou todo o país e ficou conhecido como o “Caso Araceli”. Araceli era uma menina de apenas oito anos de idade, que foi raptada, estuprada e morta por jovens de classe média alta daquela cidade.

Como denunciar

Disque Denúncia: 181. A denúncia pode ser anônima.

Disque 100, telefone nacional para a denúncia.

Caso seja emergencial, o telefone 190 poderá ser acionado para atender a ocorrência no momento.

Creas de Irati: 0800 643 4041, 3907-3108 e 99134-3852

Conselho Tutelar de Irati: 3907 3125 e 3422 9930

Texto: Letícia Torres/Hoje Centro Sul

Imagem: Divulgação

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