Surpresas e desafios de ser uma mãe especial
Toda mãe sonha em ter um filho com saúde plena e um futuro cheio de conquistas. Anna, mãe de um “menino” de 49 anos, também sonhou e realizou esse sonho, mas de uma maneira um pouco diferente
“Imagine que você sempre sonhou em conhecer a Itália. Você compra guias, faz planos e eis que chega o grande dia. Mas algo acontece e, em vez de desembarcar na Itália, você vai parar na Holanda. E é lá que deve ficar. O primeiro sentimento, inevitavelmente, é o de frustração. Com o tempo, porém, você vai conhecer (e se deslumbrar) com as tulipas, os moinhos de vento, vai descobrir as pinturas de Rembrandt e Van Gogh”.O trecho foi escrito pela escritora americana Emily Perl Kingsley, no livro “Bem vindo à Holanda”. No texto a escritora faz uma comparação entre a experiência de ter um filho com alguma deficiência e uma viagem para a Itália que acaba sendo desviada para a Holanda.
Para a aposentada Anna Maria Cordeiro, de 81 anos, algo parecido aconteceu. Ela é a mãe de Antônio Carlos, de 49 anos, que tem Síndrome de Down.Durante a gravidez ela idealizou o filho, construiu sonhos para ele. Quando ele nasceu ela começou a perceber que tinha alguma coisa diferente, então veio o choque.Para ela a viagem que seria para a “Itália” acabou sendo para a “Holanda”, os projetos de vida que tinha acabaram tendo de ser outros.
Anna conta como aconteceu a descoberta. “Quando o neném nasceu estava tudo bem, achávamos que ele era perfeito, fomos para casa, e logo a gente começou a perceber que ele não firmava a cabeça, demorou muito para se firmar, para sentar um pouquinho foram meses. Alguns amigos falaram:‘Nossa, ele tem meningite, precisa levar no médico’.Pelo modo dele a gente não sabia o porquê”, relembra.
Então, ela levou o filho ao médico para saber o que estava acontecendo. Foi então que se surpreendeu com o diagnóstico. “Não lembro quanto tempo ele tinha, mas era menos de um ano. O médico vendo o menino pegou um livro e explicou, naquele tempo falava-se‘mongolismo’, não era Síndrome de Down, e ele leu sobre uma criança com mongolismo, uma criança mongole”, relata Anna.
No Brasil, nasce uma criança com Síndrome de Down a cada 600 a 800 nascimentos, independente de etnia, gênero ou classe social. Para as mães, um acontecimento desses é uma mudança brusca, um misto de medo, solidão e incompreensão, seguido de amor, alegrias e surpresas.
As descobertas de um mundo novo
Depois da descoberta da síndrome do filho, iniciava-se um mundo novo, com muitas novidades, vários aprendizados e muito amor.
Segundo a aposentada, receber a notícia que seu filho era especial não foi nada fácil. “A aceitação foi difícil no começo, a gente não queria que fosse, lógico ninguém quer.Muitas vezes me perguntei, por que comigo? Porque isso? Tanta coisa eu imaginava para o futuro dele”, relembra.
Portadores dessa síndrome amadurecem mais lentamente, possuem características de crianças mesmo depois de adultos. “Cuidar dele também foi difícil, porque ele precisa de assistência constante, porque ele é uma pessoa inocente e indefessa, até agora ele é. Ele é uma criança, uma eterna criança, não tem maldade e não tem malícia”, explica a mãe.

