Setembro Amarelo incentiva a procura de ajuda para entender o sofrimento e prevenir o suicídio

Ampliar o diálogo, identificar sinais de sofrimento e fortalecer as redes de apoio e atendimento são formas essenciais de ajudar a salvar vidas
O mês atual é marcado pela campanha Setembro Amarelo, iniciativa nacional que reforça a importância da prevenção do suicídio e da valorização da vida. Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil registra cerca de 14 mil mortes por suicídio por ano, o que equivale a uma vida perdida a cada hora. Entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio já aparece entre as principais causas de morte, mostrando a urgência em abrir espaço para o diálogo.
A psicóloga Rafaela Ferençz, que atua na Secretaria de Assistência Social de Irati, destaca a relevância da campanha. “Cuidar da saúde mental é muito importante, mas muitas vezes, esse cuidado é negligenciado. Dessa forma, termos um mês para discutirmos esse tema na sociedade vem ao encontro a essa grande demanda que, infelizmente, está cada vez maior. O suicídio é o desfecho infeliz para muitas pessoas que acabam não recebendo ajuda a tempo”. Ela entende que o Setembro Amarelo se tornou uma grande oportunidade de salvar uma vida.
Nos últimos anos, muitos destes casos possuem relação com a pandemia de Covid-19, como relata o médico psiquiatra Lucas Batistela. “Eu diria que os danos psicológicos foram piores que quaisquer outros. No pós-pandemia, houve um aumento significativo nos casos de ansiedade, depressão e crises emocionais. Muitas pessoas foram impactadas pelo pânico, isolamento social e pelas perdas de pessoas queridas”.
Sinais
Você sabe como identificar uma pessoa nestas dificuldades? Rafaela alerta para as evidências que precisam de atenção: “Comportamentos que observamos em pessoas que estão dando sinais de grande sofrimento são, principalmente, o isolamento e as falas desesperançosas”. Ficar muito tempo sozinho também é um sintoma que indica que algo está errado e a psicóloga enfatiza a necessidade de atenção ao motivo do isolamento.
Falas do tipo “não vejo mais saída”, “a única solução é morrer”, “quero dormir e não acordar”, “queria desaparecer” são alguns dos exemplos que não devem ser desconsiderados, pois são indicadores de grande sofrimento com forte indício de que pode haver uma tentativa de suicídio em seguida.
Além disso, há as doenças que estão relacionadas ao suicídio, como a depressão, ansiedade, psicose, e uso abusivo de álcool e drogas. “Caso observe que uma pessoa está se isolando, mudou de comportamento e tem tido falas sobre morrer, desaparecer, dormir para sempre, procure conversar com ela. Tentar entender o que está acontecendo, de forma genuína, em seguida, falar sobre a importância de conversar com um profissional, que estará capacitado para atender aquele sofrimento e fazer os encaminhamentos necessários”. A psicóloga explica que, junto da ajuda profissional, uma maneira é buscar alternativas para tirar a pessoa do isolamento, convidar para atividades sociais, fazendo um movimento de apoio que muitos precisam nessa situação.
Lucas Batistela também reforça a importância da atenção aos sinais e da busca por ajuda, adicionando a mudança repentina de comportamento, tanto para melancolia quanto euforia, alterações no sono ou no apetite, queda no rendimento no trabalho ou nos estudos e, principalmente, as falas sobre desesperança ou vontade de desaparecer. Segundo ele, esses sinais merecem atenção e acolhimento.

Atendimento adequado e tratamento especializado
De acordo com o médico, não é necessário esperar um agravamento para procurar apoio. “O ideal é buscar ajuda sempre que o sofrimento emocional começa a interferir na sua vida, seja no trabalho, nos relacionamentos, nos estudos ou na capacidade de sentir prazer. Não é preciso esperar chegar a um extremo. Quanto antes o cuidado começa, mais rápido a recuperação acontece”, frisa Batistela.
Quando se trata de saúde mental, explica o médico, cada caso é único. “Mas o tratamento pode envolver mudanças no estilo de vida, como sair do sedentarismo, alimentação mais saudável, cultivar sua espiritualidade. Nesse processo é essencial a psicoterapia e, se necessário, o uso de medicações. É importante lembrar que não existe uma fórmula mágica, o tratamento é individualizado e vai sendo construído junto com o paciente”.
Rafaela enfatiza, ainda, o papel da assistência profissional especializada. “O acompanhamento psicológico é fundamental na superação de crises de intenso sofrimento emocional que podem levar à ideação suicida. O psicólogo auxilia o paciente a compreender a origem da dor, favorecendo a elaboração de estratégias de enfrentamento, a construção de resiliência e a adoção de mudanças na rotina que possam reduzir o sofrimento”. De acordo com a psicóloga, esse processo permite que a pessoa encontre novos caminhos para lidar com a crise e reconquistar qualidade de vida.
Para prevenir doenças, como ansiedade e depressão, que têm crescido significativamente, o cuidado com a saúde emocional deve fazer parte da rotina. “O primeiro passo é não deixar o sofrimento acumular e buscar apoio psicológico desde os primeiros sinais de dificuldade é essencial. A terapia ajuda a compreender as causas dos sintomas e a desenvolver estratégias de enfrentamento, complementando o tratamento médico quando necessário”.
Além disso, o autocuidado é indispensável. “Ter uma rotina equilibrada, que inclua alimentação saudável em horários regulares, sono de qualidade, atividade física, momentos de lazer e contato com a natureza ajudam a reduzir o estresse e melhorar o bem-estar. Um exemplo prático: quando passamos muitas horas sem nos alimentar, o corpo libera cortisol, hormônio do estresse que pode gerar irritabilidade, ansiedade e até favorecer quadros depressivos. Relações saudáveis também fazem diferença: conversar, estar com amigos e familiares fortalece a saúde mental. Rafaela resume que, cuidar das próprias necessidades e se colocar como prioridade no dia a dia, são uma das melhores formas de proteger a saúde emocional.
O psiquiatra transmite uma mensagem a quem enfrenta dificuldades: “Não importa o quão difícil seja o momento que esteja passando, sempre existe um caminho possível, às vezes, agora não seja possível enxergar, mas um dia, você poderá vê-lo! Pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem. Falar sobre o que sentimos é o primeiro passo para encontrar alívio e esperança. Você não está sozinho. Procure alguém de confiança, um amigo, um familiar ou um profissional. Cuidar da mente é mais importante que cuidar do corpo”, descreve o médico.
Em caso de necessidade, a população pode procurar atendimento nas Unidades de Saúde, no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) ou ligar para o CVV – Centro de Valorização da Vida, pelo número 188, disponível gratuitamente 24 horas por dia.
Fernanda Hraber
