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Setembro Amarelo: expressar sentimentos e problemas pode evitar o suicídio

O mês é dedicado à conscientização da população sobre a importância da prevenção do suicídio. Psicólogas explicam como as relações humanas podem contribuir para evitar o suicídio e como buscar tratamentos gratuitos na região

22/09/2021

Setembro Amarelo: expressar sentimentos e problemas pode evitar o suicídio

Este mês é dedicado à campanha “Setembro Amarelo” que tem como objetivo a conscientização da população sobre a importância da prevenção do suicídio. A ideia é ressaltar a necessidade das pessoas cuidarem mais umas das outras, promovendo uma sensibilização maior quanto a olhar e ajudar o próximo, estar à disposição para ouvir e acolher quem precisa. “Nós temos medo de que se a pessoa contar o que sente vai fazer o ato, e é justamente o fato de contar que permite que o indivíduo pense no que está falando, quando se comunica tira um pouco do peso que está sentindo”, afirma a professora de Psicologia Claudia Regina Magnabosco Martins, coordenadora da Clínica-Escola de Psicologia da Unicentro.

Ela explica que a população em geral entende o suicídio como algo que pode estar prestes a acontecer e falar sobre irá dar chance para que se concretize, também há profissionais que defendem que é mais prudente não falar do assunto. Entretanto, a questão que Claudia ressalta, especialmente diante do “Setembro Amarelo”, é a necessidade de falar e não sufocar sentimentos em hipótese alguma. “Mesmo que o que a pessoa esteja sentindo a faça pensar em morrer, deixar as pessoas falarem sobre absolutamente tudo o que pensam é fundamental, pois são os pensamentos e os sentimentos que podem levar a pessoa a fazer algo”, diz.

Procurando levar mais informação à população, principalmente aos profissionais que atuam nas áreas de saúde e educação, durante o “Setembro Amarelo”, o Centro de Atenção Psicossocial CAPS II CIS Amcespar de Irati realizou uma palestra on-line com o tema: “Abordagem técnica a tentativa de suicídio”, ministrada pelo major Diógenes Munhoz, do Corpo de Bombeiros de São Paulo. O evento contou com a participação de vários profissionais da rede intersetorial dos municípios pertencentes a 4ª Regional de Saúde. “O objetivo desse encontro foi levar informações aos profissionais atuantes, sobre a importância da abordagem humanizada frente às tentativas de suicídio”, explica a psicóloga Paula Jordania Macarroni,  coordenadora do CAPSII.

Dificuldades da atualidade

Atualmente, demonstrar bem-estar, consumir e ocupar o dia e a noite com coisas para fazer é um resumo do cotidiano de grande parte das pessoas. A psicóloga Claudia alerta que isto pode conduzir as pessoas a viverem solitárias, com suas dificuldades. Ela frisa que há uma sobra de ocupações com tecnologias e uma falta de relação humana entre as pessoas.

“Falar sobre os problemas hoje em dia parece que é dizer que o mundo não é tão bom, as pessoas fogem dos seus pensamentos e sentimentos. Se várias pessoas estão com dificuldades emocionais é porque esse mundo está um pouco pesado para todos nós, precisamos rever as exigências, o modo de vida que estamos levando, essas questões levam as pessoas a adoecer”, diz.  A coordenadora da Clínica-Escola de Psicologia da Unicentro acredita que diante do crescimento do número de tentativas e de suicídios, “precisamos parar um pouco e pensar que alguma coisa está acontecendo de errado e precisamos ajudar o próximo e se ajudar dentro das nossas possibilidades”.

A tristeza pode abater qualquer indivíduo em algum momento da vida, porém, não se deve guardá-la somente para si. “A maioria das pessoas procura ajuda quando já está em um estágio mais avançado do problema, porque todos têm dificuldade de aceitar que precisam de ajuda”, pontuou Cláudia.

O isolamento social ocasionado pela pandemia do novo coronavírus foi outro fator que distanciou ainda mais as pessoas e afetou a saúde mental. “A pandemia atingiu diretamente a saúde mental da população em geral, isso é notável no crescente número da procura por atendimento no CAPS”, informa Paula coordenadora do CAPS II.

Para melhorar a saúde mental, uma das sugestões é que as pessoas se aproximem mais umas das outras, pois existem muitos meios de comunicação sendo usados, no entanto cada vez mais diminui o contato físico e visual. “Só conversar por mensagem eu não ouço a voz do outro, não tem como saber se ele está triste, então fazer ligações é muito importante, na medida do possível marcar de se encontrar, ter relações de amizades, conhecer seu próximo para poder observar se está tudo bem”, enfatizou Claudia.

Sinais de que é preciso ajudar

As pessoas que planejam cometer suicídio dão alguns sinais, que na verdade podem ser pedidos de socorro implícitos, seja nas redes sociais ou em conversas. Frases como: “estou sozinho na vida”, “tenho pensado em sumir”, e outras, são alerta de que a pessoa está precisando de ajuda.

“Primeiro a pessoa vai procurar conversar com alguém que ela confia, um amigo ou alguém da família, depois é preciso que, tendo apoio dessa referência, busque um profissional de psicologia para fazer um tratamento junto a uma rede de apoio, para que acompanhem o paciente, principalmente, em momentos mais difíceis que são a noite e nos finais de semana”, explica Claudia.

Ninguém é culpado

São muitas as razões que levam uma pessoa a cometer suicídio. São sempre motivos dela, não têm relação direta com outras pessoas, embora no senso comum algumas pessoas busquem encontrar um culpado por trás do suicídio. “Dizer que tal pessoa provocou o suicídio da outra, ou que o motivo foi uma dívida, um término de relacionamento, não é correto, pois, essas e outras situações podem ter auxiliado a tomar aquela decisão, mas não é o fator decisivo”, explica a  coordenadora da Clínica-Escola de Psicologia da Unicentro.

A depressão – considerada pela Organização Mundial da Saúde o “mal do século XXI” –, muitas vezes evolui a ponto de a pessoa cometer suicídio, porém, nem sempre está relacionada, pois o suicídio pode se desencadear por diversas razões, como o uso de substâncias tóxicas, transtornos psicológicos, fases específicas da vida. “Há casos em que a pessoa poderia estar praticando uma tentativa de suicídio, sem a intenção da morte, porém acabou culminando no ato. Precisamos ter cuidado em saber que nem todo depressivo pode cometer suicídio, assim como, nem todo aquele que pensa em suicídio é depressivo, portanto, não é somente aquela pessoa que tem o clássico perfil de triste que vai tentar a morte”, relata Claudia.

Tanto o suicídio quanto a depressão não são restritivos a classes sociais ou fases da vida, há casos de adolescentes e crianças, por exemplo, que sofrem com isso, existem tendências favoráveis, porém não existe um perfil para definir. “O próprio momento em que todos ficaram mais isolados por conta da Covid-19 gerou tentativas de novos públicos, pessoas que antes não tentariam o suicídio”, explica a psicóloga, frisando  a importância de ajudar quando necessário.  

Clínica-Escola de Psicologia da Unicentro

A Unicentro desenvolve projetos que visam atender a população de Irati e região gratuitamente, a Clínica-Escola de Psicologia é um deles. Tem como objetivo promover a saúde mental, os atendimentos são feitos por acadêmicos do 5º ano de Psicologia.

Na clínica são realizadas psicoterapias em casos de pessoas que procuram o serviço ou são encaminhadas pela saúde do município. Há projetos voltados para pessoas que sofrem com a ansiedade, mulheres grávidas ou puérperas, atendimentos à pessoas que foram diagnosticadas com AIDS e trabalhos para auxiliar na relação entre pais e filhos.

A população que precisar pode esclarecer dúvidas ou procurar o atendimento pelos telefones: (42) 3421-3226 ou 3421-3227 e (42) 99128-9980. O retorno dos atendimentos presenciais está sendo gradativo e os serviços remotos continuam.

Grupo de apoio é oferecido pelo CAPS II

O Centro de Atenção Psicossocial CAPS II CIS Amcespar de Irati oferece um grupo de apoio às pessoas que têm comportamento suicida e seus familiares. Os grupos tiveram início em setembro e se estendem até o final do ano. “E pretendemos continuar ano que vem, caso houver público interessado em participar”, informa a psicóloga Paula Jordania Macarroni. Ela esclarece que as pessoas podem procurar mais informações de como participar pelo telefone (42) 3422-9028.

O CAPS presta atendimentos presenciais seguindo todos os protocolos sanitários. Entretanto,  por um período passou por ajustes no atendimento por conta do protocolo de enfrentamento da Covid-19.

Texto: Cibele Bilovus/Hoje Centro Sul

Foto: Pixabay

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