Programa Ganhando o Mundo está transformando o futuro de estudantes da região

Por Redação Hoje Centro Sul 10 min de leitura

Estudantes revelam os bastidores, o impacto emocional e pedagógico do maior intercâmbio público do Paraná, que agora leva também os educadores em uma iniciativa que conecta a rede estadual às melhores práticas do mundo

Viajar para o exterior, aprender uma nova língua e mergulhar em uma cultura desconhecida deixou de ser um roteiro de filme para se tornar realidade na rede pública de ensino do Paraná. O programa Ganhando o Mundo, iniciativa do Governo do Estado, provou ser um divisor de águas na vida dos jovens da região Centro Sul.

É o que sente Ana Luiza Brandalize, estudante do 1° ano do ensino médio no Colégio Estadual Trajano Grácia, em Irati. Selecionada para passar aproximadamente seis meses estudando no Canadá, ela diz: “Estou muito animada e contente com a escolha do destino”. A inspiração, conta Ana Luiza, veio de perto: “Tudo começou quando minha vizinha participou de um intercâmbio na Nova Zelândia e voltou com histórias incríveis, o que me inspirou muito. Desde então, foquei totalmente em cumprir os requisitos do programa”.

Programa Ganhando o Mundo está transformando o futuro de estudantes da região
Ana Luiza vive a expectativa de fazer intercâmbio no Canadá

A conquista da vaga foi resultado de uma estratégia acadêmica. Ana Luiza dedicou-se intensamente durante o 9º ano para manter notas altas e uma frequência escolar exemplar, empenhando-se também para obter boas pontuações na Prova Paraná, os certificados necessários na plataforma Inglês Paraná e no projeto de monitoria.

Na fase atual, a preparação foca intensamente no idioma e na logística. Ela explica que aproveita ao máximo a plataforma ‘English Central’, utilizando especialmente as aulas com professores nativos (como os das Filipinas), o que a força a praticar a conversação real. Por conta própria, ela ainda faz aulas extras em uma escola de idiomas para acelerar o aprendizado. Na parte logística, ela já organiza a documentação, malas e roupas adequadas para o frio, separando também lembranças do Brasil para levar como presentes culturais.

A visão de Ana sobre a viagem é madura. Ela afirma encarar o intercâmbio não como um passeio, como turismo, mas como uma oportunidade real de crescimento pessoal e acadêmico. “Quero absorver o máximo da cultura canadense, que é bem diferente da nossa, e desenvolver minha autonomia. Meu objetivo é voltar com uma bagagem de experiências que vá muito além da sala de aula, trazendo conhecimentos que levarei para o resto da vida”.

Por fim, Ana Luiza conclui a sua avaliação sobre a importância do projeto. “Eu vejo esse programa como um verdadeiro divisor de águas na minha vida, abrindo portas que só uma vivência internacional pode proporcionar”, compartilha a estudante.

A realidade a milhares de quilômetros, na Escócia

Programa Ganhando o Mundo está transformando o futuro de estudantes da região
Matheus está na Escócia desde agosto

Enquanto Ana Luiza prepara a documentação, Matheus Henrique Gonçalves dos Santos, de 16 anos, também aluno do C.E. Trajano Grácia, vive o auge da experiência na Escócia.

A jornada do intercambista começou em agosto deste ano e seu retorno ao Brasil está programado para janeiro de 2026. “A alegria da aprovação vem junto com uma correria enorme e um friozinho na barriga que parece não ir embora tão cedo”, conta Matheus.

Ele detalha os procedimentos posteriores à seleção para o Ganhando o Mundo. “Primeiro, o estudante precisa organizar uma série de documentos obrigatórios: passaporte, autorização de viagem internacional, documentos escolares, comprovantes assinados pelos responsáveis, carteirinha de vacinação atualizada, formulários específicos do governo e da agência que gerencia o intercâmbio, além de possíveis traduções juramentadas dependendo do destino”, explica. O jovem afirma que este é um período de agitação, filas, agendamentos, prazos apertados e muita atenção aos detalhes.

Matheus acrescenta que a ansiedade é constante. “O coração acelera, bate aquela sensação de ‘não acredito que isso está acontecendo’, e o friozinho na barriga aparece cada vez que a palavra ‘embarque’ surge na mente. É normal se sentir animado, nervoso e orgulhoso ao mesmo tempo”. O estudante reforça que o curso de inglês intensivo, financiado pelo Governo do Paraná, com aulas ministradas por professores nativos e proficientes, é um diferencial essencial para lidar com a host family e as aulas. “Esse curso não é só para melhorar o inglês: ele prepara o estudante para situações reais do intercâmbio,” explica.

Em solo escocês, o jovem pôde quebrar o mito da frieza local. “O aspecto que mais me impressionou nas diferenças culturais foi o modo como os escoceses valorizam suas tradições e história, além da maneira acolhedora com que recebem pessoas de outros países, por mais que muitos digam que eles são pessoas mais frias, desde o primeiro dia sempre me senti acolhido, bem-vindo e que faço parte daqui”, observa Matheus.

Ele acrescenta que a pontualidade, a organização e o respeito ao espaço pessoal e à privacidade são características marcantes da cultura local. Sobre a gastronomia, ele garante que as comidas, embora possam parecer estranhas para os brasileiros, são absolutamente deliciosas, destacando ainda, o refrigerante local chamado IRN BRU, que lembra um pouco o gosto da gengibirra.

A experiência tem influenciado seus planos futuros. Antes sem certeza sobre uma carreira internacional, Matheus agora considera seriamente essa possibilidade ou a de se tornar contador, seguindo o exemplo de seu host family.

O legado do retorno e a visão da família

O ciclo do intercâmbio se completa quando o estudante volta e o aprendizado se enraíza. Emanuelle Cristhine Gaievski, aluna do 3º ano de Formação de Docentes do Colégio Estadual Antônio Xavier da Silveira, passou seis meses na Nova Zelândia, vivendo com uma família anfitriã e frequentando a Kamo High School.

“Foi uma experiência enriquecedora, conviver com a cultura maori, estar em contato constante com o inglês e me adaptar a uma rotina totalmente diferente me fez crescer como pessoa, desenvolvendo ainda mais autonomia, responsabilidade e confiança”, avalia Emanuelle.

A experiência não só mudou sua visão de mundo, mas também seus planos de carreira. “Essa vivência modificou bastante minha perspectiva sobre meu futuro, passei a acreditar mais em meu potencial, ampliar meus objetivos profissionais e essa experiência poderá ser utilizada futuramente na minha profissão!”.

Emanuelle ficou particularmente impressionada com a estrutura educacional e a consciência ambiental local. Ela detalha que as escolas públicas da Nova Zelândia apresentam infraestrutura de alta qualidade, oferecendo disciplinas diversificadas como culinária, fotografia e música. A rotina escolar iniciava-se às 9h e se estendia até 15h, sendo organizada em blocos com o deslocamento dos alunos para salas específicas a cada disciplina.

Ela também ressalta o rigor na fiscalização ambiental em Whangarei. “O mar era muito limpo e o descarte inadequado de resíduos poderia resultar em uma multa de até $100, demonstrando um enorme comprometimento com o meio ambiente”.

O pai de Emanuelle, Edson José Gaievski, que é assistente administrativo do município e faz a função de secretário escolar, reforça o valor do programa do Governo do Estado. “Foi muito importante para nossa família, pois a Emanuelle já tinha o desejo de realizar um intercâmbio e, levando em questão a situação econômica, sabíamos que seria inviável. O programa Ganhando o Mundo nos trouxe essa oportunidade”, salienta Gaievski.

Ele relata a ansiedade compartilhada em família. “Foi uma experiência ímpar para nós, pois cada fase do programa que acontecia, íamos participando juntos. Tudo foi novidade: passaporte, documentação necessária, primeira viagem de avião e a ansiedade de receber notícias quando da chegada dela na Nova Zelândia”.

Quando Emanuelle retornou, a família vivenciou o seu amadurecimento e o quanto ela evoluiu. “Enviamos para o intercâmbio uma adolescente com receios e dúvidas, retornou uma jovem com mais responsabilidades, autonomia, domínio da língua inglesa e com uma nova perspectiva de vida”, descreve o pai.

O agradecimento de Edson é categórico, incentivando a participação de outros jovens e famílias. “Fica nosso agradecimento pela iniciativa do governo que, através desse programa, proporciona a oportunidade aos nossos estudantes de vivenciar essa experiência visando seu crescimento profissional”. Eles incentivam os pais que apoiem seus filhos a participarem do programa.

A vez dos mestres: Ganhando o Mundo Professor

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A professora Joana Gardasz Serconhuk conhecerá o processo de ensino e aprendizagem canadense

A experiência internacional se expandiu e agora alcança os educadores. A representante da categoria, a professora Joana Gardasz Serconhuk, formada em História e Mestre em Ensino de História, foi classificada em 1º lugar entre os técnicos inscritos do Núcleo Regional de Irati.

Joana mora em Prudentópolis, já atuou como formadora, hoje é Técnica Pedagógica na Tutoria do Estágio Probatório no NRE de Irati e deve partir do Brasil em fevereiro. “Entendo o peso desta representação e farei o meu melhor para que todos os colegas se sintam parte dessa experiência”.

Ela conta que o processo de seleção foi bem competitivo neste Programa, que disponibilizou 250 vagas no Paraná todo, sendo que, a maioria delas para professores, havia apenas uma vaga de técnico pedagógico por NRE. A classificação se deu pela pontuação máxima de 100 pontos, decorrentes dos cursos “Formadores em Ação” ofertados pela Secretaria de Estado da Educação (SEED) em 2024, somada ao número de dias trabalhados no mesmo ano.

Joana explica que o destino, o Canadá, é altamente referenciado no Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (PISA). “Este programa é uma oportunidade única de observação e troca de conhecimentos. O objetivo é absorver ao máximo: conhecer a cultura e os costumes, ouvir as pessoas, observar como vivem e trabalham e, o mais importante, entender um pouco de como acontece o processo de ensino e aprendizagem em um país de referência”, explica a professora.

Segundo ela o grupo do NRE de Irati pretende “trazer experiências significativas focadas na melhoria da aprendizagem dos estudantes e no aprimoramento profissional na nossa rede pública”.

Professores selecionados na região

Rosana Ales – Professora QPM – Física – Irati

Silvia Valeski – Professora QPM – Matemática – Irati

Samanta Jagher – Professora QPM – História – Teixeira Soares

Marcia Salete Grenteski Dal Magro – Professora QPM – Matemática – Mallet

Jey Marinho de Albuquerque – Professor QPM – Ciências e Biologia – Rebouças

Ketoli de Oliveira – Professora QPM – História e formadora – Prudentópolis

Pedro Henrique Sanches QPM – Turismo – Professor de História e Educação Física – Prudentópolis

Fernanda Hraber