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Precisamos falar sobre o suicídio

27/09/2022

Precisamos falar sobre o suicídio

Campanhas de prevenção como o Setembro Amarelo incentivam as pessoas a ficarem atentas aos sinais de doenças da mente e a falarem sobre o tema como forma de aliviar a dor. O médico psiquiatra Murilo Forbeci destaca que é preciso auxiliar as pessoas em risco a buscarem ajuda especializada. O Caps II, do CIS/Amcespar, é um dos locais de atendimento à saúde mental de pessoas de toda a região pelo SUS

A campanha Setembro Amarelo reforça a importância da prevenção ao suicídio no mundo todo. Atualmente, é a maior campanha do tipo, e em 2022 o lema é “A vida é a melhor escolha”.  Segundo dados da última pesquisa feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS), são registrados mais de 700 mil casos de suicídio por ano em todo o mundo, além dos casos subnotificados – que podem elevar os números a um milhão. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, com uma média 38 pessoas por dia que tiram a própria vida.

O assunto é complexo e delicado e afeta pessoas de diferentes culturas, idades e classes sociais, sendo um problema de saúde pública que impacta negativamente a sociedade e precisa de prevenção. Também de acordo com a OMS, mais pessoas morrem por conta do suicídio do que pelo HIV, malária, câncer de mama, guerras e homicídios.

Em Irati, trabalhos de prevenção ao suicídio e recuperação da saúde mental são realizados por instituições públicas e privadas. Uma dessas instituições é o Centro de Atenção Psicossocial (Caps II) do Consórcio Intermunicipal de Saúde CIS/Amcespar, uma unidade especializada em acolhimento à saúde mental para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e persistente. “O centro oferece um atendimento interdisciplinar, composto por uma equipe multiprofissional, que reúne médico psiquiatra, assistente social, psicólogas, enfermeira, pedagogo, técnicas em enfermagem, equipe de apoio e transporte próprio”, explica a assistente social e coordenadora do Caps II, Patrícia Zeaginski.

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O atendimento oferecido pelo Caps II é direcionado às pessoas com problemas psiquiátricos ou em sofrimento e ideação, e tem o objetivo de promover a recuperação da saúde mental e a integração do paciente com sua família e comunidade. “Para alcançar esse objetivo, o Caps conta com uma equipe multiprofissional e com atividades coletivas e individuais, além do atendimento médico”, explica a assistente social.

Para o médico psiquiatra Murilo Forbeci, a pessoa que está decidida a tirar a própria vida está consciente da sua escolha no momento da ação. “O ato deliberado é executado pelo próprio indivíduo, objetivando a morte de maneira consciente e intencional por meio de um método que ele acredita ser letal”, afirma.

Ele destaca a alta taxa média de suicídios e explica que a maioria daqueles que têm a tendência em tirar a própria vida nunca procurou ou foi levado para uma consulta com um médico psiquiatra. “Praticamente 100% dos suicidas têm alguma doença mental, sendo que 50 a 60% dos que morrem por suicídio nunca foram a um profissional de saúde mental”, comenta Forbeci.

E a ajuda incorreta e ineficiente não tem efeito. “Metade dos que morrem por suicídio foram a uma consulta médica nos seis meses anteriores, sendo que 80% foram ao médico não-psiquiatra. Trata-se de um ato consumado que afeta, pelo menos, outras seis pessoas”, diz o psiquiatra, referindo-se ao fato do suicídio fazer com que familiares, amigos e conhecidos passem a sofrer por conta do ocorrido.

Fatores de risco

Quando se fala em prevenção ao suicídio, é preciso antes de tudo identificar sinais e comportamentos que apresentam indiretamente o problema. A maioria das pessoas que têm a predisposição em tirar a própria vida dão sinais como forma de pedido de ajuda, o que muitas vezes é ignorado pelas pessoas que fazem parte de seu círculo social. O reconhecimento desses fatores é necessário e pode ajudar a salvar vidas. 

A campanha Setembro Amarelo identifica os fatores de risco como modificáveis e não modificáveis, considerando fatores que podem ser alterados (como depressão, bipolaridade e uso de substâncias psicoativas), enquanto outros vêm junto ao histórico de vida do paciente e não sofrem alterações (como perdas familiares, conflito pessoal relacionado à identidade sexual e doenças crônicas).

O psiquiatra Murilo Forbeci explica que amigos, familiares e pessoas próximas devem ficar atentos aos sinais, principalmente quanto aos fatores que envolvem tentativas prévias de suicídio e problemas psicológicos. “A tentativa prévia é isoladamente o fator mais importante que possui o risco em 5 a 6 vezes de nova tentativa, pois 50% dos que cometeram o ato, tinham tentativas prévias. Também a doença mental. Quase todos os suicidas possuem doenças não tratadas ou tratadas de forma inadequada”, enfatiza Forbeci.

Ele  cita pesquisas sobre o tema. “Estudos em populações gerais mostram a relação entre suicídio e doenças mentais, sendo que 35,8% estão relacionados ao transtorno do humor, 22,4% ao uso de substância psicoativa, seguido por transtorno de personalidade, esquizofrenia e outras”, diz o psiquiatra.

Mitos

Um dos mitos que relacionados ao suicídio é achar que a pessoa que fala que irá tirar a própria vida está querendo apenas chamar a atenção ou que é “frescura”.

Boa parte dos que cometem suicídio tentaram avisar muito tempo antes que passavam por problemas, alerta o psiquiatra. “As pessoas que ameaçam se matar não farão isso porque querem apenas chamar a atenção. A maioria das pessoas fala ou dá sinais sobre suas ideias de morte. Boa parte dos suicidas expressou, dias ou semanas antes, frequentemente, aos profissionais da saúde, seu desejo de se matar”, avalia Forbeci.

E, ao contrário do que muitos podem imaginar, falar sobre o assunto ajuda sim a prevenir. “Muito se diz que não devemos falar sobre suicídio, pois isso pode aumentar o risco. Falar não aumenta o risco. Pelo contrário, alivia a angústia e a tensão que esse sofrimento traz”, afirma o psiquiatra.

Ele destaca que após a tentativa não consumada, os riscos de uma nova tentativa tendem a aumentar. “Dizem que quando um indivíduo dá sinais de melhora ou sobrevive à tentativa de suicídio, está fora de risco. Na verdade, um dos períodos de maior risco é quando se está melhorando da crise ou quando está no hospital após a tentativa”, explica.

Outro fator a ser considerado por quem está próximo de uma pessoa de risco, é que normalmente ela não tem a capacidade de tomar decisões coerentes por conta própria devido aos problemas que a afetam, e por isso, precisam de todo o apoio possível. “Quase que, invariavelmente, todos os suicidas estão doentes, o que altera, de forma radical, a percepção da realidade e a capacidade em tomar decisões”, alerta o médico psiquiatra. Entretanto, segundo ele, “com um tratamento eficaz esse desejo [de morrer] desaparece”.

Onde buscar ajuda?

“Os pacientes com problemas psiquiátricos, em alguns momentos, estão sujeitos a crises; e o Caps é o lugar indicado para seu acolhimento, pois o vínculo que o paciente estabelece com a equipe é muito importante neste momento”, destaca a assistente social e coordenadora do CapsII Patrícia Zeaginski.

A unidade atende não somente a Irati, mas também os municípios da região. “Nosso Caps é um serviço regional, atendendo aos nove municípios da 4ª Regional de Saúde, sendo eles: Teixeira soares, Fernandes pinheiro, Irati, Rebouças, Rio Azul, Mallet, Guamiranga, Inácio Martins e Imbituva”, explica.

No mês de setembro, o Caps está realizando a Campanha da Valorização da Vida com grupos terapêuticos voltados para a temática de prevenção ao suicídio, além de atendimentos individuais para os pacientes que são encaminhados para o serviço.

Profissionais de saúde mental incentivam as pessoas que apresentem risco de atentar contra a própria vida a procurar ajuda profissional. Todo apoio oferecido ao paciente, desde uma simples conversa a até mesmo auxiliar na busca por um médico psiquiatra, pode salvar vidas. Além disso, outra ferramenta de fácil acesso que pode auxiliar a quem esteja passando por problemas é o Centro de Valorização da Vida (CVV), que promove apoio emocional e prevenção do suicídio, com atendimentos gratuitos a qualquer pessoa. O centro garante sigilo total e atende por telefone, e-mail e chat 24 horas por dia, nos sete dias da semana, pelo telefone 188. Através da ferramenta, é possível falar com voluntários e profissionais que vão ajudar a enfrentar os problemas e auxiliar na busca pela recuperação da qualidade de vida.

Faculdade São Vicente realiza ações de prevenção ao suicídio

A Faculdade São Vicente de Irati realizou, no dia 19, uma palestra ministrada pelo médico psiquiatra Murilo Forbeci, que tratou sobre a saúde mental e a necessidade de prevenção ao suicídio.

A ideia de realizar a palestra surgiu após as aulas presenciais no polo retornarem e a equipe perceber que alguns alunos não estavam totalmente à vontade. “A gente sentiu com os alunos, principalmente nesse momento pós-pandemia, nos primeiros dias de aula, o pessoal tendo crise de ansiedade, crise de pânico, então é um problema muito atual”, descreve a assistente de marketing e coordenação da Faculdade São Vicente de Irati, Camila Schaefer Martins.

Além da palestra, durante todo o mês de setembro, outras iniciativas de prevenção estão sendo feitas em Irati pela faculdade. “Em setembro surgiram algumas ideias e fizemos parcerias. Fizemos o ‘Abraço grátis’ e materiais com telefones onde as pessoas podem ligar e procurar apoio. Tentamos trazer mais informação para a sociedade, fomos atrás de um médico psiquiatra para falar com propriedade sobre esse assunto, que é muito delicado”, comenta Camila.

Durante a palestra, Murilo Forbeci, comentou que campanha de prevenção ao suicídio concebida como Setembro Amarelo, foi inspirada em um caso que aconteceu nos Estados Unidos, em 1994. Na época, um jovem de 17 anos tirou a própria vida. Durante o velório, seus pais e amigos distribuíram bilhetes com fitas amarelas com dizeres como: "Se você precisar, peça ajuda". A iniciativa foi a inspiração pela realização de campanhas de prevenção ao suicídio que continuam até hoje.

Lenon Diego Gauron

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