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Por que ondas de frio e calor e chuvas em excesso parecem estar "bagunçando" as estações do ano?

16/12/2024

Por que ondas de frio e calor e chuvas em excesso parecem estar "bagunçando" as estações do ano?

Mudanças frequentes nas temperaturas nos dão a sensação de que as estações do ano estão menos definidas. Segundo o meteorologista Reinaldo Kneib, fatores globais têm contribuído para essa instabilidade. Nesta semana, a região Centro Sul enfrentou grandes volumes de chuva que provocaram sensação de frio, além de problemas como alagamentos em alguns pontos isolados. Com isso, o monitoramento e as previsões climáticas tornam-se peças-chave para antecipar e minimizar esses impactos

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A percepção de que as estações do ano não são mais tão bem definidas tem sido cada vez mais comum. O meteorologista Reinaldo Kneib, do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), destaca que, embora o clima a longo prazo não mude drasticamente, oscilações significativas podem ocorrer dentro das estações, influenciadas por fenômenos climáticos globais e locais. 

De acordo com Reinaldo, essas variações podem ser atribuídas a fatores meteorológicos que alteram os regimes de ventos, temperatura e umidade em diversas partes do planeta. “Nos últimos anos, a gente teve um pouco mais de variabilidade. Essas variações que foram observadas no clima também estão associadas não somente aos sistemas meteorológicos predominantes aqui no estado do Paraná, mas outros sistemas de grande escala, que ocorrem em outras regiões, como a La Niña, que é o resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial, então, ela altera o regime do vento, da temperatura, da umidade em vários pontos do globo”, explica.

Nesta semana, a região de Irati enfrentou clima instável, com chuvas persistentes e temperaturas mais baixas, mesmo a apenas uma semana do início do verão. Reinaldo explica a causa desse fenômeno: “Tem períodos do ano como agora, que uma frente fria chegou ao estado do Paraná, e nós estamos com um transporte de umidade e calor da região amazônica para o Paraná, por isso que tivemos bastante chuva nos últimos dias. Quando a chuva fica persistente e a nebulosidade predomina sobre uma região, é natural que haja uma diminuição da temperatura do ar. Passando vários dias consecutivos com cobertura de nuvens e chuva, aumenta-se a sensação de frio e, às vezes, não é só a sensação, é frio mesmo, porque há a ausência do sol”, detalha o meteorologista.

Ele compara esse fenômeno ao chamado "veranico", um termo mais conhecido que descreve períodos no inverno com temperaturas mais altas ou ondas de calor atípicas. “Seria o equivalente ao veranico que acontece no inverno e fica mais quente. No verão, é um período com temperaturas mais baixas. No inverno, a gente espera que o período como um todo seja de temperaturas baixas e pouca ocorrência de chuva aqui no estado do Paraná, inclusive na região de Irati. E este ano, até tivemos algumas ondas de calor, que não são comuns para a época do ano”, avalia.

De acordo com Reinaldo, a chegada desses fenômenos climáticos impacta diretamente a variabilidade do clima, as temperaturas e os padrões de chuva, contribuindo para a sensação de que as estações do ano estão menos definidas. “O clima fica mais variável quando há atuação destes fenômenos. Assim como é o El Niño, entre outros fenômenos. Então, muitas vezes, o que acontece é que a gente passa por vários meses, ou, às vezes anos, como foi em 2019, 2022, nós tivemos uma crise hídrica aqui no estado do Paraná, associada, em parte, ao fenômeno La Niña, que provocou uma redução no volume de chuvas”, explica.

No entanto, ele ressalta que as variações climáticas dentro de uma mesma estação do ano são fenômenos comuns e, muitas vezes, perceptíveis no dia a dia. “Ao longo das estações, sempre a gente tem variações. Se a gente olhar a longo prazo, o clima, ele não muda. Mas, às vezes, a gente observa essas oscilações dentro de uma estação”, descreve.

Impactos e monitoramento 

No fim de semana passado, um grande volume de chuva inesperado na região de Irati provocou alguns transtornos em pontos isolados. No entanto, o comandante da 6ª Companhia Independente do Corpo de Bombeiros de Irati, que monitora a região, explica que o fenômeno se dissipou rapidamente. "Nós tivemos uma atenuação dos volumes de chuva no domingo. O sistema que trouxe bastante chuva para a nossa região sofreu algumas alterações, então ele dividiu um pouco essa chuva com o restante do estado, passamos a ter uma chuva mais forte na área Central até o Norte do estado e litoral. E o menor volume na região Sul e Sudeste do Paraná no domingo", explica o major Jorge Augusto Ramos.

Segundo o ele, o monitoramento das chuvas intensas e seus impactos nos rios da região é fundamental para prevenir problemas e planejar ações emergenciais. Ele destaca que a equipe sempre acompanha de perto o aumento do volume de água de canais hídricos da região, como o Rio Iguaçu, e explica que as medições realizadas pela Copel ao longo da bacia do rio são essenciais tanto para o controle das barragens quanto para auxiliar no trabalho de monitoramento e segurança das cidades da região.

Embora as chuvas em excesso possam causar danos significativos quando em grandes quantidades, o meteorologista Reinaldo Kneib destaca que, por outro lado, a falta de precipitação durante a primavera e o verão também traz prejuízos importantes. “Mudanças no tipo de clima afetam diretamente a cultura e outros setores, sem dúvida. Por exemplo, agora na primavera e verão, que são os meses mais chuvosos, se não houver precipitação, com certeza a safra, os cultivos, vão sofrer bastante, porque dependendo da época, da fase das plantas, dos cultivais, precisa ter chuva, precisa ter umidade no solo. Então, quando não cai no momento exato da fase de cultivo, pode ter uma diminuição na quantidade da produção”, destaca.

E esses impactos podem ir além da agricultura, afetando também áreas essenciais como o abastecimento de água e a geração de energia elétrica. “Além do que, por exemplo, o abastecimento pode ser afetado, a questão de geração de energia elétrica. No Brasil, a maior parte da matriz energética ainda está associada à fonte hidráulica. Se começa a ficar seco, diminui o potencial para a geração de energia, afeta todos os setores da sociedade”, acrescenta.

Previsão como prevenção

Para reduzir os impactos de fenômenos meteorológicos extremos, tanto em excesso quanto em falta, órgãos como o Simepar e a Defesa Civil realizam monitoramentos e ações de vigilância contínua. “O Simepar faz acompanhamento do tempo e clima de forma contínua. Então, por exemplo, nós estamos vivenciando uma mudança do tempo relacionada a alterações nas condições em poucos dias. E também tem a mudança climática, ou variação climática. Como é que a gente vai saber se uma estação é mais seca ou mais chuvosa? Vai ser mais quente ou mais fria? Então, essas condições nós ficamos acompanhando e fazendo as previsões, as análises meteorológicas e climatológicas. Estamos sempre acompanhando o tempo e o clima”, descreve Reinaldo.

O trabalho de monitoramento e alerta sobre eventos climáticos extremos é fundamental para minimizar impactos. Ele explica que, ao identificar sinais de fenômenos atípicos, o Simepar comunica a Defesa Civil e outros órgãos responsáveis, utilizando previsões que abrangem desde o dia a dia até projeções de até 15 dias.

De acordo com o meteorologista, o Simepar utiliza tecnologias avançadas para elaborar previsões e acompanhar o comportamento do tempo e do clima. Ele detalha que os modelos climáticos são configurados para reproduzir eventos passados, testando sua eficácia antes de projetar condições futuras. “As previsões climáticas, usamos modelos que fazem prognóstico de como é que serão as próximas estações, como é que serão os próximos anos. Então, a gente procura reproduzir o passado, como é que a gente roda esses modelos, para ver se eles conseguem reproduzir o que aconteceu para fazer o prognóstico do futuro. Então, é desta forma que a gente faz as previsões e o acompanhamento do tempo e do clima”, conclui Reinaldo.

Chuvas causaram transtornos nesta semana

As chuvas intensas que foram registradas recentemente chamaram a atenção pela quantidade acumulada em curto período. De acordo com o meteorologista Reinaldo Kneib, em várias regiões do estado o volume de precipitação superou o esperado. “Em relação a essas chuvas que vêm sendo registradas nos últimos dias, tivemos mais de 200 milímetros em vários pontos, inclusive na região de Irati, um volume bastante significativo, no que é a média histórica para o mês de dezembro em poucos dias. Isso pode acontecer”, explica.

Esse grande volume de chuvas causou diversos transtornos, incluindo alagamentos em várias localidades.

No interior de Irati, localidades como Itapará e Gonçalves Júnior sofreram com o transbordamento de rios, impedindo temporariamente a passagem de moradores. Na Serra da Esperança, um deslizamento de terra interditou os dois sentidos da BR-277, agravando o trânsito na PR-364, que passa por Inácio Martins, utilizada como rota alternativa. 

Já de acordo com o Corpo de Bombeiros, em Mallet, o rio que corta a área urbana extravasou no sábado (7), mas as águas recuaram ainda no sábado. Já em Prudentópolis, uma família ficou ilhada após um rio transbordar na Linha Esperança. Apesar do susto, a família não precisou de resgate imediato e aguardou o nível das águas baixar. 

Lenon Diego Gauron

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