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Pais e alunos das APAEs encaram dificuldades depois de mais de um ano longe das escolas

“A vida de muitos alunos tinha a base na escola, até mesmo para fazer refeições e higiene”, destaca o presidente da Apae de Irati, Fernando Amaral

22/03/2021

Pais e alunos das APAEs encaram dificuldades depois de mais de um ano longe das escolas

Há mais de um ano sem ir para a escola devido à pandemia da Covid-19, os alunos matriculados nas Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) têm enfrentado várias dificuldades, pois o meio educacional é, sobretudo para estes alunos, uma porta para o mundo. Nas Apaes, eles têm acesso à educação, atendimento na área de saúde e assistência social – que são os três eixos de atuação das Apaes. Além disso, mantêm as interações sociais por meio do contato com colegas, professores e profissionais de saúde.

Fernando Ricardo Insaurriaga Amaral é presidente da Apae de Irati e pai do Fernando Mosele Amaral, que é aluno da instituição. Ele relata que a desigualdade social entre as famílias é um fator que altera visivelmente as condições em que os alunos vivem fora do ambiente escolar. A começar pelos meios de comunicação, que estão sendo a forma de manter contato com professores, pedagogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e outros profissionais que prestam atendimento nas Apaes.  Fernando conta que muitas famílias não têm condições de ter aparelhos como smartphones e tabletes, ou ainda, não sabem utilizá-los de maneira eficiente.

“Eu percebo, porque estou no grupo do meu filho. Vejo que têm pais que enviam respostas bem simples, não sabem usar muito as tecnologias, nesses casos a professora tem que tratar em particular com estas famílias, e nesse sentido o trabalho remoto está sendo muito bem feito pela equipe. Felizmente, meu filho está conseguindo se manter bem, mas nem todas as famílias conseguem”, comenta.

Ele destaca ainda que “a vida de muitos alunos tinha a base na escola, até mesmo para fazer refeições e higiene”. Por isto, os reflexos da pandemia foram mais intensos para as famílias com condições socioeconômicas desfavoráveis.  “Realmente, há casos bem complicados, de famílias que tivemos que pedir a orientação do Dr. Ladislao Obrzut Neto, que atende os alunos da Apae. Por passarem o dia inteiro dentro de casa, o estresse tomou conta dos pais e dos filhos”, relata o presidente da Apae de Irati. 

Nesses casos, alguns pais levavam os filhos para dar uma volta de carro na Apae Rural. Entretanto, devido ao agravamento da situação da pandemia, atualmente esses passeios estão suspensos.  Mas a ideia é que assim que possível essas famílias voltem a fazer visitas isoladas.

Antonia de Fátima Koblinski é mãe do Isaque Fernandes, que estuda na Apae de Fernandes Pinheiro. Ela descreve que não levar o filho para a escola é uma experiência muito diferente, pois além de ser mãe está no lugar do professor, e nesse momento ela se deparou mais ainda com a importância dos professores. “A gente participa, tenta fazer o melhor para que ele se sinta bem, pois com a pandemia o meu filho sente muita falta da escola, ele pergunta todos os dias se tem aula. Todos os dias o Isaque levava balas para as professoras. Ele faz as atividades em casa e eu aprendo com ele, mas sente muita falta da escola e eu não sou professora. Dá vontade que volte às aulas, mas com essa pandemia desse jeito não tem como, todos os alunos já têm a imunidade mais baixa e precisam de mais cuidados”, afirma Antonia.

José Carlos de Souza, mais conhecido por Juca, trabalha no transporte escolar de Irati há mais de 20 anos. Sempre prestou serviço à Apae e afirma que esta é a fase mais difícil que já enfrentou na vida profissional, por não poder fazer aquilo que mais gosta, que é levar os alunos para a escola.

“A escola está fazendo muita falta para os alunos da Apae, pois eles amam ir para aula. Com certeza um dos momentos mais esperados durante o dia de nossos alunos é a hora que  o transporte passa buscá-los. Para transportar diariamente os 143 alunos da Apae de Irati, somos em cinco profissionais, eu e meus colegas, Altevir, Élcio, Luiz e Cica, que trabalhamos com van, micro ônibus, ônibus e kombi”, disse o motorista.

Desde o início da pandemia, os motoristas estão à disposição da Secretaria Municipal de Educação, prestando serviço em diversas áreas, bem como auxiliando a Apae na entrega mensal de atividades escolares impressas. Também fizeram a entrega de cestas básicas, para as famílias selecionadas pela assistência social.

“Alguns alunos mandam mensagem, falando que estão com muita saudade. E as famílias relatam sobre a falta que a escola faz na vida dos filhos, alguns ficam agitados, outros ficam deprimidos. Pois é na escola que os alunos fazem amizades, aprendem e se desenvolvem, e têm a oportunidade de participar de atividades, como jogos, festivais, viagens e lazer”, revela Juca.

Como as Apaes estão atendendo

O assessoramento pedagógico não parou, desde que as aulas presenciais foram suspensas em março do ano passado, os professores postam as atividades, interagem com as famílias por meio de grupos de WhatsApp e os alunos acompanham as aulas.

Em 2020, os profissionais de educação e assistência social fizeram várias visitas, tomando todos os cuidados de proteção, aos alunos em situação de vulnerabilidade social ou outros problemas. Neste ano, com o aumento do número de infectados pelo novo coronavírus, o trabalho social também está sendo feito por telefone, ou marcado atendimento individual.

Na área de saúde, as equipes estão atendendo remotamente. Com o apoio das famílias, os profissionais realizam técnicas de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia, serviço de enfermagem e atendimento médico. Houve tentativas de retomar os atendimentos presenciais na área da saúde, mas o aumento de casos de Covid-19 freou todas as chances.

Ponderações sobre o retorno às aulas presenciais

Nos primeiros dias do mês de fevereiro, foi cogitado o retorno presencial das aulas nas Apaes no mês de maio. A Federação das Apaes do Paraná chegou a orientar as instituições, mas a Secretaria Estadual de Educação (Seed) recuou diante do aumento das contaminações, internamentos e mortes causadas pela Covid-19. Então, assim como as demais escolas estaduais, as Apaes terão que aguardar para poder reiniciar os trabalhos presencialmente.

Além dos cuidados pertinentes a todos os estabelecimentos de ensino, nas Apaes ainda há outras ponderações devido às particularidades dos alunos, como comenta a diretora auxiliar e coordenadora pedagógica da Apae de Irati Nadicler dos Santos de Souza.  “Considerando que os alunos têm comorbidades, muitos necessitam de contato físico maior para locomoção. Dos 143 alunos de Irati, cerca de 60% são cadeirantes. Outros podem não conseguir utilizar máscaras o tempo todo por dificuldades respiratórias. Não temos previsão de retorno presencial. Depois que tiver vacinas para os alunos e profissionais das escolas, teremos mais segurança para voltar”, ressalva.

Noeli Elisabete Filus, diretora da Escola Andreia Cristina Cabral, a Apae de Fernandes Pinheiro, conta sobre as dificuldades enfrentadas por todos e ao mesmo tempo o empenho em fazer o possível para manter contato com os alunos e seus familiares. “Todo esse período tem sido bastante difícil para todos nós. E para os alunos da nossa escola não tem sido diferente. A vida social de grande parte dos alunos sempre se deu na escola e com esse afastamento acabou fazendo com que o isolamento e a dispensa de muitos atendimentos presenciais aumentassem bastante”, disse.  Apesar disto, Noeli afirma que toda a equipe continua desenvolvendo o trabalho, sempre pautado na real necessidade dos alunos. “Fazemos o melhor que podemos nesse momento tão sério pelo qual estamos passando”, finaliza a diretora da Apae de Fernandes Pinheiro.

Situação de Vulnerabilidade Social

As Apaes não possuem um caixa para fazer a compra de alimentos e levar aos alunos que precisam. No ano passado foram feitas algumas ações a partir de doações e com ajuda das prefeituras.

O presidente da Apae de Irati cita que se houver empresas e/ou pessoas interessadas em ajudar será de grande valia.

“Se tivermos alimentos, entregaremos às famílias que necessitam, pois são 16 famílias que se encontram em situação de extrema necessidade. Sendo que o benefício para uma criança com deficiência é muito baixo e tem famílias que vivem disso”, comenta Fernando Amaral. Quem tiver interesse em ajudar as famílias de Irati pode entrar em contato pelo telefone (42) 988235923, falar com Ronaldo.

Texto: Cibele Bilovus e Letícia Torres

Foto: Divulgação

 

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