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Filas para cirurgias eletivas aumentam com a pandemia

Governo do Paraná deverá fazer uma fila única de espera e já enviou recursos para diminuição do número de pessoas esperando por cirurgias nos municípios. Na região, contratação de profissionais tem permitido mais procedimentos cirúrgicos

06/12/2021

Filas para cirurgias eletivas aumentam com a pandemia

A pandemia de coronavírus fez com que a fila de espera para conseguir uma vaga para cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) aumentasse no último ano. No Paraná, estima-se que a fila tenha 200 mil procedimentos em espera. “Houve um represamento de muitas cirurgias eletivas. Foram mais de 200 mil procedimentos que deixaram de acontecer no estado”, conta o chefe da 4ª Regional de Saúde, Walter Trevisan. Contudo, o número ainda pode mudar porque o Governo do Paraná está reorganizando a fila, de modo a conseguir diminuí-la no próximo ano.

Em Irati, o cenário se repete. No município, a espera aumentou tanto para procedimentos feitos através da Secretaria Municipal de Saúde, quanto para os realizados por meio do Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS/Amcespar). “Temos bastante munícipes na fila de espera, principalmente na cirurgia geral e cataratas”, conta a secretária de Saúde de Irati, Jussara Aparecida Kublinski Hassen.

Segundo ela, ao todo, são 490 pacientes esperando para fazer cirurgias. “Nesta fila estão aguardando para cirurgia geral, otorrinolaringologia, ginecologia, urologia de criança e de adulto e cataratas”, explica a secretária.

Um dos motivos dessa fila maior foi a pandemia. Os hospitais tiveram que suspender as cirurgias eletivas devido ao risco de contaminação pelo coronavírus. “Os hospitais estavam proibidos de fazer os procedimentos de rotina, ficando somente com casos de urgência e emergência. Isso tudo fez com que as filas aumentassem”, conta o chefe da 4ª Regional.

Para contornar isso, o Governo do Estado enviou recursos aos municípios. Em Irati, a fila de espera dos pacientes que precisam fazer cirurgias mais simples teve uma diminuição.  Mais de cem pacientes foram atendidos, com os R$ 101 mil depositados pelo Estado diretamente para a Santa Casa. Quatro tipos de cirurgias atendidas. “Nós conseguimos cirurgia geral, cataratas, laqueadura e cirurgia pediátrica de fimose”, comenta Jussara.

No entanto, o recurso ainda não é suficiente para conseguir recuperar o tempo perdido. De acordo com a secretária, para resolver o problema seria preciso ter mais vagas no sistema estadual. “A dificuldade é vir essas vagas para mandarmos os pacientes. É o Estado que gerencia essas vagas. Diariamente abrem essas vagas, mas é para o estado todo”, relata.

Outra dificuldade é ter médicos para atender em algumas especialidades. “Nós também temos limitação de prestador. Como o otorrinolaringologista que atende pelo Consórcio é só um, são nove municípios que dependem da agenda do médico. Dependemos da agenda do prestador”, conta.

Os consórcios de saúde foram os meios que os municípios encontraram para oferecer consultas, exames e cirurgias especializadas. Os municípios da região Centro Sul, como Irati, fazem parte do Consórcio Intermunicipal de Saúde CIS/Amcespar. A partir de um pagamento mensal, o município encaminha pacientes para consulta e procedimentos com médicos especialistas.

Contudo, assim como nas demais estruturas de saúde, o consórcio ficou com muitos procedimentos represados. O resultado foi o aumento da fila que tem sido combatido pelo consórcio. “Os pacientes que estavam na fila tiveram suas cirurgias eletivas canceladas no período da pandemia, conforme o decreto estadual, mas a maioria já foi ou está sendo remarcada e realizada. Os  casos que evoluíram, tiveram cirurgias realizadas em emergência”, explica a presidente do CIS/Amcepar, Cleonice Schuck.

Dentre as especialidades mais afetadas no consórcio estão a otorrinolaringologia e urologia. Houve espera de seis a doze meses para a realização de cirurgias. Segundo a presidente, a pouca oferta de prestadores de serviço nestas especialidades foi uma das causas. Com a contratação de profissionais, a espera foi solucionada. “Contratamos um médico urologista e mais um profissional de otorrinolaringologista, oferecendo mais vagas de consultas e sucessivamente ampliando e realizando as cirurgias eletivas geradas pelas consultas dos profissionais que estavam com as maiores filas”, conta Cleonice.

Porém, as cirurgias mais complexas ainda devem demorar por falta de profissionais. “Ficando algumas cirurgias de alta complexidade que estão há muitos anos represadas e sem profissionais para resolver. Por exemplo: cirurgia de ortopedia (coluna, ombro, joelho), implantes, etc”, afirmou.

Nas demais cirurgias, o CIS/Amcespar e os municípios têm se aliado a vários hospitais regionais para suprir a demanda. “Estamos realizando cirurgias eletivas no hospital Santa Casa de Irati, Hospital Agnus Dei e o Hospital Sagrado Coração de Prudentópolis’, disse. Outra opção que também é usada pelos municípios é o encaminhamento, por meio do Governo do Estado, para hospitais maiores. “Os municípios também podem encaminhar ao Hospital do Rocio e o Hospital Universitário de Ponta Grossa (via Tratamento Fora de Domicílio, TFD) para ajudar a suprir suas demandas”, explica Cleonice.

Fila única

Para tentar solucionar a espera por cirurgias eletivas, o Governo do Paraná está unificando o sistema de trabalho. “Existem filas nos municípios, existem filas no Consórcio e existem filas nos prestadores. Então, o Estado quer ter o conhecimento real, uma transparência, daquilo que precisa ser feito, que precisará ser desenvolvido”, explica o chefe da 4ª Regional. E ele acrescenta: “Vamos fazer um projeto para o ano que vem de uma fila única. Fazer com que o Estado tenha essa visibilidade daquilo que se tem de necessidade de cada município”.

A assessoria da Secretaria Estadual de Saúde (SESA) confirmou em nota que essa reorganização está sendo feita, mas não divulgou mais detalhes sobre as ações. “Os números reais de pessoas que aguardam na fila de espera para as cirurgias eletivas estão sendo depurados (levantados) para que se tenha um panorama mais próximo da realidade. Ainda não há maiores informações sobre isso, tão logo seja possível, divulgaremos os dados”, disse em nota.

Enquanto isso, Walter conta que a 4ª Regional tem acompanhado os municípios nas ações para diminuir a fila de espera. “É importante dizer que estamos acompanhando o processo de retomada da organização de toda a Atenção em todos os níveis, tanto na Atenção Primária, Terciária e na Especializada. Tivemos uma retomada agora também em relação ao PlanificaSUS e estamos acompanhando essa questão das cirurgias de caráter de urgência e emergência. E também aquelas que estavam ainda com cirurgias eletivas e que vem sendo iniciado novamente a retomada desses procedimentos”, relata.

Busca de atendimento

No dia 5 de outubro a costureira Kelli Cristina Correia de Santos, 33 anos sentiu uma dor aguda na coluna, que chegou a paralisar uma de suas pernas e a impediu de caminhar. Com a ajuda do marido, ela foi levada ao Pronto Atendimento (PA) de Irati. Lá, recebeu uma injeção e soro, que aliviaram a dor e ficou internada até o dia seguinte. Então, ela ouviu do médico de plantão que precisaria de uma ressonância para o diagnóstico e que o SUS não cobre o exame. O médico a aconselhou a fazer particular.

“Foi tudo um choque. Tudo de repente”, disse a costureira. A consulta particular e o exame custariam R$ 1.280,00. Sem ver outra alternativa, o casal arrecadou o valor com ajuda de vizinhos e foi para a consulta. Lá, Kelli soube que um disco da coluna cervical “estourou” e que outro disco também está prejudicado. Se fizer muito esforço, o disco romperá e ela poderá não conseguir caminhar mais. O médico disse que no futuro ela terá que fazer uma cirurgia, mas antes, indicou um procedimento chamado infiltração que custa R$ 12 mil.

Sem recursos, Kelli conseguiu um atestado de quatro meses, mas ainda espera o auxílio do INSS – apesar de já ter feito a perícia. Enquanto isso, fez uma rifa que arrecadou recursos para a compra de medicamentos que custam quase R$ 400 mensais.  

A esperança da costureira é que um mutirão, em janeiro, possa a ajudar a fazer o procedimento, segundo lhe contou o médico.

O caso de Kelli é um em muitos que começam a ser atendidos na rede pública, acabam indo para a rede particular e os pacientes não sabem o que fazer – pois não têm condições financeiras de continuar o tratamento particular e não podem ser transferidos para o SUS, exceto se recomeçarem todo o atendimento.

A secretária de Saúde de Irati explica que não há como o médico na rede particular encaminhar para o SUS. “Isso nós vamos privilegiar um e deixar outros. O que precisamos é igualdade para todos”, afirmou Jussara.

O único meio para conseguir entrar na fila de espera para o atendimento público é o caminho que começa no posto de saúde. “O PA manda direto para a Santa Casa, quando o médico avalia que é urgente. Se no PA manda fazer uma consulta, vai pela UBS [Unidade Básica de Saúde], a UBS encaminha para uma consulta especializada, para então começar todo um processo pelo SUS”, relata a secretária de saúde.

Aviso de cirurgia

Os pacientes que forem comunicados pela Secretaria de Saúde para realizar a cirurgia precisam dizer no ato se não puderem ir na data marcada. “Nós temos marcado algumas cirurgias, é ligado para o paciente, o paciente confirma. Tem uns que vem até aqui na especializada, retiram a guia e não comparecem no dia da cirurgia. Isso para nós é frustrante porque tem muitas pessoas na fila”, disse a secretária.

É possível avisar com antecedência que não poderá comparecer no dia marcado, mas quem optar por isso voltará ao final da fila. “Para remarcar o motivo tem que ser muito grande, senão ela vai para o final da fila e a fila terá que continuar andando. Não podemos continuar remarcando porque senão a fila não vai andar”, conta.

Para obter informações sobre a cirurgia, é preciso ir pessoalmente no setor de consultas especializadas, com documentos em mãos, como o RG e o comprovante do encaminhamento da cirurgia. É possível entrar em contato no telefone (42) 3132-6326, mas mais informações são dadas pessoalmente.

Texto: Karin Franco

Foto: Pixabay

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