26/02/2025
O que as empresas querem? O que os trabalhadores esperam? Por que sobram tantas vagas e há muitas pessoas desempregadas? Afirmar que o problema é apenas a baixa capacitação está correto? Mas, por que mesmo entre trabalhadores com formação universitária faltam habilidades mínimas? A presidente da Associação Comercial de Irati, Samara Coelho; a psicóloga organizacional responsável por uma empresa que faz o recrutamento de pessoas, Daniele Pires Soares; e o gerente da unidade do Senac em Irati, Denilson Alessi discutem estas e outras questões que impactam na empregabilidade
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A incompatibilidade entre as necessidades das empresas e as expectativas dos trabalhadores tem sido um dos principais desafios para o mercado de trabalho. Em Irati e região, muitas vagas permanecem abertas por falta de candidatos, enquanto diversas pessoas enfrentam dificuldades para encontrar oportunidades de trabalho que ofereçam as condições que esperam. Exemplo disso é a falta de interesse por vagas em áreas de produção e operacionais, como destaca o Instituto Bem Estar, que tem o recrutamento de pessoas como uma de suas atividades.
"A principal dificuldade está no alinhamento entre o perfil do candidato e os requisitos da vaga. Muitas empresas exigem experiência prévia, o que limita as oportunidades para quem busca o primeiro emprego ou uma transição de carreira. Além disso, algumas funções exigem habilidades técnicas ou comportamentais específicas, e nem sempre encontramos candidatos com essa qualificação. Outro fator é a falta de interesse em determinadas áreas, como produção e operacional, onde há alta demanda, mas pouca procura", observa a psicóloga organizacional Daniele Pires Soares, proprietária do Instituto Bem Estar.
A escassez de profissionais qualificados impacta diversos setores, segundo a presidente da Associação Comercial e Empresarial de Irati (Aciai), Samara Coelho. "A grande demanda é a Indústria, depois vem prestadores de serviços na área alimentícia (lanchonetes, restaurantes, sorveterias) e em terceiro lugar a área administrativa. Essas são as áreas com maior número de vagas de trabalho", afirma Samara.
Apesar do alto número de vagas, a dificuldade de preenchimento persiste. Com o objetivo de reduzir essa lacuna, a Associação Comercial realiza nesta sexta-feira, 21 de fevereiro, o Mutirão de Empregos, na Rua da Cidadania, das 9h às 12h. O evento conta com a parceria de diversas instituições, como Senac, Instituto Bem Estar, Sistema FIEP-IEL, Agência do Trabalhador de Irati, Secretaria de Indústria e Comércio, Prefeitura Municipal e Sindicato da Indústria da Madeira e Mobiliário de Irati.
Durante o mutirão, empresas locais oferecem oportunidades de emprego em diversas áreas. Além de conferir as vagas disponíveis, os participantes poderão participar de entrevistas diretamente no local. "Há muitas empresas participantes que mandaram o número de vagas que será divulgado no mural das oportunidades. Outras empresas irão montar tendas. Dentre elas: Yazaki, grupo Ivasko, Fobrás, Employer e Via araucária", relata a presidente da Aciai.
O desafio da contratação
Enquanto as empresas relatam escassez de mão de obra qualificada, muitos trabalhadores enfrentam dificuldades para encontrar emprego. "Esse paradoxo ocorre porque, embora existam vagas disponíveis, especialmente em áreas técnicas e especializadas, muitos candidatos não possuem a formação ou experiência necessárias para preenchê-las. Além disso, a falta de informação sobre as oportunidades existentes e a ausência de canais eficazes de comunicação entre empregadores e candidatos contribuem para a percepção de escassez de empregos", analisa Samara.
Outro fator que deve ser lavado em consideração é que o perfil dos trabalhadores também está mudando, aponta a proprietária do Instituto Bem Estar. "Os jovens estão mais preocupados com qualidade de vida e propósito no trabalho. Diferente de gerações anteriores, que priorizavam estabilidade e tempo de casa, os mais jovens buscam empresas que ofereçam flexibilidade, desenvolvimento e um ambiente alinhado com seus valores. Eles também valorizam mais feedbacks constantes e crescimento rápido, o que pode gerar desafios para empresas que ainda seguem modelos mais tradicionais de gestão", explica a psicóloga Daniele.
Muitas empresas ainda operam sob modelos rígidos, nos quais o trabalho é repetitivo e mecanizado. Sem a modernização de conceitos e processos, estas empresas deixam de ser atrativas para os trabalhadores. "Diante dessa nova realidade, as empresas precisam se adaptar para atrair e reter talentos, investindo em qualificação profissional, modernização dos processos e oferta de condições de trabalho mais alinhadas às expectativas dos novos profissionais", defende a presidente da Aciai.
A proprietária do Instituto Bem Estar detalha algumas das condições de trabalho de certas vagas que, na prática, fazem com que haja menor número de candidatos interessados. "Muitas dessas vagas exigem esforço físico, turnos noturnos e rotinas repetitivas, o que pode afastar candidatos que buscam melhores condições de trabalho. Além disso, questões como deslocamento, baixos salários e falta de benefícios também pesam na decisão de aceitar ou não essas oportunidades”, esclarece Daniele.
Por outro lado, as empresas também determinam alguns requisitos básicos, que certos candidatos não possuem. “Em alguns casos, a falta de qualificação mínima, como ensino fundamental completo ou habilidades básicas, também impede a contratação. A solução passa por um esforço conjunto entre empresas e instituições para oferecer treinamentos, melhores condições e maior valorização dessas funções", sugere a proprietária do Instituto Bem Estar.
Capacitação
O Senac é uma das instituições parceiras do Mutirão de Empregos deste dia 21. Denilson Alessi, gerente da unidade do Senac em Irati, destaca que a instituição investirá R$ 3,7 milhões em cursos gratuitos para capacitar profissionais em 2025.
"Por se tratar de uma instituição que qualifica e aperfeiçoa profissionais para atender as demandas do comércio de bens, serviços e turismo, nesse dia o Senac participará do evento promovido pela Aciai prestando orientações ao público quanto a elaboração de um bom currículo, técnicas de comunicação assertiva em uma entrevista de emprego, além é claro realizar a divulgação dos cursos de qualificação profissional que o Senac de Irati está ofertando para os próximos meses através do nosso programa de gratuidade", explica.
Denilson cita alguns profissionais que sempre estão em falta no mercado. “Há carência de padeiros, confeiteiros, cozinheiros, açougueiros, cuidadores de idosos, atendentes de farmácia e repositores de mercadorias”, comenta, acrescentando que periodicamente são oferecidos cursos pelo Senac em Irati e em vários municípios da região para qualificar profissionais para atuarem nessas áreas.
Migração para grandes centros
Outro desafio enfrentado pelas empresas locais e regionais é a migração de jovens para cidades maiores em busca de estudo e trabalho, reduzindo a oferta de profissionais qualificados na região. "As empresas de Irati enfrentam desafios significativos na contratação de profissionais, principalmente devido à escassez de mão de obra qualificada. Um dos fatores que contribuem para essa dificuldade é a migração de jovens para cidades maiores em busca de oportunidades de estudo e trabalho, sem que muitos retornem à cidade", comenta a presidente da Aciai, Samara Coelho.
Formação acadêmica e despreparo
Mesmo com formação superior, muitos profissionais apresentam dificuldades para atender às exigências mínimas do mercado de trabalho, como capacidade de comunicação e agilidade para o desempenho das funções para as quais são contratados.
A psicóloga organizacional, proprietária do Instituto Bem Estar, Daniele Pires Soares, explica porque isso acontece. "A formação acadêmica nem sempre prepara o profissional para os desafios práticos do dia a dia. Muitas faculdades focam no conhecimento técnico, mas deixam de lado habilidades essenciais como comunicação, resolução de problemas e inteligência emocional. Além disso, algumas pessoas saem da faculdade sem experiência profissional, o que torna mais difícil a adaptação ao ritmo e às exigências do mercado", destaca Daniele.
Mutirão de Empregos
O Mutirão de Empregos surge como mais uma tentativa de reduzir muitas dessas lacunas entre empresas e trabalhadores, promovendo o contato direto entre recrutadores e candidatos. A expectativa da Associação Comercial e Empresarial de Irati (Aciai) é que, ao facilitar esse encontro, mais pessoas consigam uma oportunidade no mercado de trabalho e as empresas consigam os profissionais alinhados às suas necessidades.
Letícia Torres e Camile Fedaracz