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Evolução da agricultura tem a infraestrutura, a tecnologia e o associativismo como aliados

03/08/2022

Evolução da agricultura tem a infraestrutura, a tecnologia e o associativismo como aliados

Sem perder a essência da agricultura familiar, produção de alimentos em Irati começa com a chegada dos imigrantes europeus e passa por processos de modernização ao longo dos anos. Atualmente, Secretaria de Agricultura de Irati incentiva produtores a criarem uma cooperativa para melhorar o preço da compra de insumos e venda da produção

Irati ainda tem como uma de suas principais atividades econômicas o setor agrícola, com a produção de soja, feijão, milho, fumo, leite, cebola, trigo, carne, madeira e outros bens que abastecem o mercado regional e que também vão para exportação. Para chegar até o cenário atual, muita coisa mudou ao longo dos 115 anos de Irati. A agricultura do jeito que conhecemos começou em Irati com a chegada dos primeiros imigrantes europeus, por volta de 1908, e passou a se desenvolver com a chegada da estrada de ferro, das melhorias da malha rodoviária e também dos processos produtivos.

Com a chegada dos primeiros europeus, o Paraná pretendia criar um modelo agrícola que abastecesse o mercado interno, o que não foi possível inicialmente devido às dificuldades da época, explica o doutor em História e professor do Departamento de História da Unicentro, João Carlos Corso. “Irati, lá no final do século IXX, início do século XX, começa a formar as ideias das colônias de imigração. O próprio Estado organizou esse processo, primeiramente mais próximo de Curitiba e, em um segundo momento, ele expande isso para mais regiões como Antônio Olinto, São Mateus do Sul e Irati. Essas regiões não tinham uma economia contínua antes da chegada dos imigrantes. Antes disso, o interior do Paraná foi mais utilizado pelo tropeirismo, para a criação de gado, com o comércio de carne, charque e de mulas, desde o século XVIII, quando foi encontrado ouro lá em Minas Gerais”, descreve.

Quando começaram a plantar, os imigrantes passaram a encontrar dificuldades até mesmo para se manter, devido às limitações da época, o que motivou uma produção de subsistência.

 Algum tempo depois, a estrada de ferro Rio Grande do Sul - São Paulo passou por Irati e alterou esse cenário aos poucos. “Com a chegada do trem, começa a facilitar isso. O fato de ter a estação central em Irati, depois a estação do Gutierrez e depois próximo a Fernandes Pinheiro, vai tendo lugares para levar [a produção agrícola] para fora da região de Irati. Começa a ter a possibilidade de se ter um alimento que vai ser vendido não só para o mercado interno do município”, explica Corso.

Mesmo depois de se passarem vários anos e a estrutura de transportes melhorar, nem todos os produtos conseguiam ser destinados a outros locais naquela época, e muita coisa precisava ser vendida dentro do próprio município. O professor relembra que por ser uma cidade com poucos habitantes, as dificuldades de se comercializar a produção eram grandes. “Meu avô morava na região do Cadeadinho e uma vez ele trouxe uma carroça cheia de batatas para vender em Irati. Ele rodou todos os comércios e ninguém queria comprar, porque não tinha para quem vender, já que a cidade era muito pequena. Aí um comerciante falou que daria um cacho de banana em troca das batatas. Depois de um tempo, ele voltou para ver se o homem tinha vendido – e ele não tinha conseguido vender”, conta.

Neste período, o comércio através da troca de produtos entre os agricultores era comum. “Era mais ligado à subsistência, com a batata, trigo, milho, feijão e a criação de animais voltado para o próprio consumo. Além disso, eles compartilhavam, por exemplo, quando se matava um porco, eles distribuíam, porque não se tinha onde guardar, a não ser fritar toda aquela carne e colocar na banha”, cita.

Infraestrutura alavanca o setor agrícola

Com as melhorias da malha rodoviária, modernização e barateamento de equipamentos, a agricultura regional começa a ter uma mudança significativa e passa a se desenvolver. “Com a melhoria das estruturas, a energia elétrica começa a chegar em mais locais, as estradas começam a ser melhores, isso ajuda, porque o transporte começa a ficar mais eficaz; as estruturas para se guardar os alimentos, como moinhos e cerealistas começam a ter equipamentos melhores, assim como a construção de cooperativas. Aí entra na questão do que a gente chama de modernização da agricultura, com maquinários novos, mas que não chegam na mão de todos. Aos poucos, tratores vão ficando mais baratos e se tem uma mudança significativa na agricultura a partir disso. E há também uma mudança no que se produz: se antes era subsistência, passa-se a produzir para o mercado. Aí entra a questão da soja. Hoje a gente anda pelo interior de Irati e vê a quantidade de soja que se produz, assim como o milho e o trigo. Aí já entra em um mercado maior, em que a produção muitas vezes nem foi plantada e já foi vendida na bolsa de valores”, detalha Corso, referindo-se às commodities.

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Apesar de estar inserida em processos produtivos com tecnologia envolvida e de exportar diversos produtos, a agricultura iratiense ainda tem por base pequenos produtores, explica o secretário de Agropecuária, Abastecimento e Segurança Alimentar de Irati, Raimundo Gnatkowski. “Hoje a gente pode considerar a maioria da nossa agricultura como familiar, independente da área que ela está – seja da área de grãos ou outra atividade. Familiar são pequenos e médios produtores. É o mínimo do mínimo que nós temos de grandes produtores hoje aqui em Irati. A agricultura familiar aqui no município está em todas as atividades e corresponde hoje pela maioria da nossa produção”, explica o secretário.

Ele considera que a agricultura no município continua evoluindo devido ao acesso às novas tecnologias e melhorias aplicadas nos processos produtivos. De acordo com Gnatkowski, cerca de 52% do orçamento de Irati, de maneira direta ou indiretamente, vem da agricultura, o que gera aproximadamente 14 mil empregos e ocupa 4.300 famílias. “A produtividade vem aumentando de ano para ano devido ao uso de tecnologia e equipamentos de precisão; também o uso das melhores sementes – o que traz uma melhor produtividade por área devido à tecnologia e estudo das sementes –, além da questão animal, pois o pessoal que trabalha com a bacia leiteira tem acesso a uma genética melhor e cada dia mais extraindo uma melhor produtividade. A tecnologia veio e está auxiliando bastante a nossa agricultura”, avalia o secretário.

Dias atuais

Vilson Bazilio e Alisson Augusto Bazilio possuem uma propriedade agrícola familiar na localidade de Caratuva I, em Irati. No local, produzem soja, feijão, milho e aveia. Futuramente a família pretende aumentar os negócios com a produção de quinoa, cevada, centeio e batata. Além das atividades de cultivo, eles mantêm uma leitaria de médio porte e a produção vai para os laticínios da cidade, que posteriormente é distribuída para os mercados da região. Mesmo com o avanço da tecnologia no campo, Alisson aponta que uma das dificuldades do pequeno produtor está relacionada aos custos de produção, além dos imprevistos naturais. “Só a gente sabe do sofrimento que é, as dificuldades enfrentadas, seja no dia, à noite, chuva ou sol, o clima não ajuda. Perde a produção toda e tem que começar o plantio desde o zero.  Sem falar que o adubo está caro demais, o diesel está caro, tudo caro. É um processo que fazemos até chegar na mesa do consumidor, muitas vezes até sem reconhecimento. Se alguém tem em casa alguns desses produtos, é porque alguém produziu”, comenta.

O secretário Raimundo Gnatkowski avalia que a melhor maneira de se conseguir manter bons resultados na agricultura familiar é através da união de produtores rurais por meio de cooperativas. Ele explica que o município está criando uma nova organização do tipo em Irati. “Nós estamos criando uma nova cooperativa central, com vários departamentos, como por exemplo grãos, para as pessoas se organizarem com a produção de soja, milho e feijão, e aí eles vão poder fazer compras em conjunto e também podem se organizar na hora da venda. Em outras áreas também serão organizados dentro da cooperativa para que eles possam comprar equipamentos e o que eles precisarem dentro da produção. Também dentro desta cooperativa, haverá uma ala da erva mate, outra ala da bacia leiteira”, detalha o secretário.

De acordo com ele, a união de produtores faz baixar o preço dos insumos e sementes devido à compra em quantidade, aumentado, da mesma forma, o preço na hora da venda. “A partir do momento que você começa a trabalhar dentro do cooperativismo, você já ganha na compra, pois se você comprar dois sacos de adubo é um preço; se você comprar duas carretas, o preço muda, baixa bastante. Assim também é na hora da comercialização. Seja para o médio, para o pequeno ou para o grande produtor, a cooperativa traz resultados. Essa é a nossa intenção: organizar o agricultor para que ele possa ter competitividade”, afirma.

As cooperativas começaram a surgir no Brasil há mais de um século e hoje boa parte das maiores indústrias do ramo rural do Paraná são cooperativas, explica o secretário. “As 20 empresas maiores, fora da capital, são cooperativas. As empresas que estão hoje ligadas à cooperativa estão superando as dificuldades. Precisamos superar o passado, pois teve um trauma com uma cooperativa que era muito forte que acabou quebrando e deixou dívida para os agricultores. Isso trouxe uma marca negativa para os agricultores, mas é preciso superar”, enfatiza o secretário, acrescentando que é possível atuar com transparência.

Segundo ele, a nova cooperativa está em fase de planejamento e a Secretaria de Agricultura tem conversado com os agricultores sobre o tema, obtendo aceitação favorável. “Em setembro a gente vai fazer a assembleia sobre a cooperativa e aí já vamos montar uma diretoria provisória”, comenta.

Atualmente, funciona em Irati através da união de produtores de hortaliças, a Feira do Produtor Iratiense em um espaço na área central da cidade, que tem 18 estandes e reúne diversas famílias. Irineu Lucavey produz e vende repolho, couve, rúcula, cheiro verde, alface, brócolis, couve flor, pepino, geleia, cenoura, tomate, macarrão e pão caseiro. Ele destaca a importância do espaço, onde atua há 35 anos. "Tem aproximadamente uns 25 feirantes que vivem só da venda aqui na feira. Já faz 39 anos de existência, então a gente sobrevive  disso”, diz.

Mudanças

O professor do Departamento de História da Unicentro, João Carlos Corso cita que a cultura ligada à agricultura vem passando por alterações com o passar dos anos. “Até os anos 70 e 80, a agricultura tinha muito o foco religioso. O agricultor tinha quase que uma missão, um ato sagrado. Hoje, com a produção mais voltada para o mercado, até a nomenclatura tem mudado, o agricultor passou a ser chamado de produtor rural e empresário. Isso mostra uma mudança de significado que a produção passa a ser em escala industrial, sem os simbolismos religiosos”, acrescenta.

Gnatkowski também observa que os processos de produção de alimentos estão em constante mudança e que é preciso adaptação. “A agricultura é sempre dinâmica. De ano para ano ela vem mudando, vem se aperfeiçoando a tecnologia cada dia mais vai ficando mais apurada. Com isso, a produtividade vai aumentando. E é inevitável, o agricultor terá que acompanhar isso para que através da produtividade ele pague o custo e tenha lucro. Por isso a gente sempre fala em união para superar as dificuldades”, destaca.

Agricultura iratiense em ascensão

Em cinco anos, o valor bruto de produção iratiense aumentou consideravelmente. O secretário de Agropecuária, Abastecimento e Segurança Alimentar de Irati, Raimundo Gnatkowski, enumera os dez primeiros lugares da produção agropecuária em Irati. “Em 2017 a gente tinha soja como primeiro colocado na questão da produção em Irati, com 26 mil hectares, seguido pelo fumo, com 4.005 hectares, pelo feijão, o milho, o leite, a cebola, vacas para cria, o repolho, a madeira em tora serrada e, em décimo lugar, a madeira em tora laminada. Esses eram os dez mais bem colocados em produção bruta em Irati, com um valor de R$ 448.992.000”, explica.

“Hoje estamos próximos a 1 bilhão; é R$ 945.519.399,00 – aumentou bastante. Hoje a soja continua em primeiro, mas já com 39 mil hectares plantados; o feijão ficou em segundo lugar, seguido pelo milho, fumo, leite, cebola, trigo e os suínos, que estão em oitavo e décimo lugar, com o leitão para terminação e para corte, respectivamente, somando um valor de R$ 28 milhões por ano. Em nono lugar, ficou a madeira em tora laminada. Então houve essa mudança entre as dez culturas mais produzidas dentro de Irati”, acrescenta o secretário.

Reportagem de Lenon Diego Gauron, com apoio de Emanuelle Rocetim

Fotos: Emanuelle Rocetim e Agência Estadual

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