10/05/2022
Ano após ano tem ocorrido queda nos registros de nascimentos de crianças com mães entre 15 e 19 anos, mas o número de casos de gravidez na adolescência registrados no Brasil ainda é 50% superior aos do mundo. Isso aponta para a necessidade de reforço nas políticas públicas e nas ações familiares para garantir o acesso à educação sexual e a métodos preventivos.
O grande problema é que falar sobre sexo ainda é um tabu para muitos adolescentes e muitos pais, o que dificulta o processo educacional. E em uma parcela significativa das escolas, o conservadorismo ainda é forte, dificultando a abordagem direta e franca sobre o tema.
Faltam espaços de conversa e informação, pois os jovens têm acesso a muitos conteúdos através da internet e nem sempre têm a maturidade necessária para filtrar as informações, para compreender o que é encenação pornográfica e o que é a vida real.
Por outro lado, eles têm curiosidade, hormônios à flor da pele e vontade de desafiar o mundo. A época é de transformação, em busca de construir a própria identidade frente aos pais, aos familiares, aos grupos sociais. O corpo está mudando, o modo de encarar o mundo está se alterando. Há muitas dúvidas, conflitos, necessidades de autoafirmação. E é nesse contexto que a gravidez na adolescente acontece, sem ser programada e desconstruindo possibilidades nas vidas das jovens mães.
O curioso é que muitas delas ficam otimistas com a gravidez precoce, como apontou uma pesquisa realizada por estudantes a Unicentro. Provavelmente porque ao engravidar elas conseguem um espaço diferente e mais autonomia dentro de suas famílias, quando continuam morando com os pais ou responsáveis. Quando não continuam, são forçadas a construir uma nova estrutura de família, conforme suas crenças, desejos e escassas possibilidades.
O que vem à tona, nas pesquisas e casos concretos que conhecemos, é a realidade do abando dos estudos com a gravidez precoce, seja pela demanda dos cuidados para com o bebê ou por não serem aceitas nos grupos onde anteriormente estavam. É uma vida nova e apressada, que atropela etapas, como a profissionalização e a inserção no mercado de trabalho. Com isso, por vezes, estruturas socioeconômicas precárias acabam se perpetuando, com o subemprego, a dependência econômica, a falta de perspectivas e de condições psicológicas e financeiras de dar um bom lar e educação de qualidade para essas crianças.
Em outros casos, ocorre de familiares assumirem a responsabilidade para com os filhos das mães adolescentes, o que também não é o ideal, pois tira delas a possibilidade da construção de vínculos maternos reais com as crianças e de assumirem as consequências de seus atos, o que resulta em adultos frágeis, infantilizados, com identidade mais imperfeita que a média.
É um contexto amplo e complexo, o da gravidez na adolescência e suas implicações familiares e sociais. É preciso falar mais sobre o tema, discutir mais e quebrar tabus atrapalham a vida de todo mundo.