22/02/2023
Ao longo deste mês, a campanha Fevereiro Laranja busca conscientizar a população sobre o diagnóstico, prevenção e combate à leucemia, linfomas e alguns tipos de anemia que são tratados através do transplante de medula óssea. A doação de medula pode ajudar pacientes que têm o transplante como única chance de cura. É um ato simples e que pode trazer de volta a qualidade de vida para o paciente e alívio para a família que vive a expectativa de encontrar um doador compatível.
Anicleia da Cruz Siqueira precisou passar por um transplante de medula óssea e relembra emocionada sobre a confirmação do seu diagnóstico de leucemia. Ela relata que vivenciou momentos difíceis e que chegou até mesmo a desacreditar na cura, pois na época não tinha tantas informações como tem hoje em relação aos procedimentos. “Faz 22 anos que eu recebi o diagnóstico que eu estava no começo da leucemia, fiz várias quimioterapias, radioterapias e foi uma época muito difícil. A minha família toda entrou em pânico e eu entrei em depressão, emagreci bastante e teria que fazer uma transfusão de sangue”, relata.
Para receber a medula óssea, o doador e o paciente precisam ser compatíveis, o que torna o procedimento mais demorado. “Foi solicitado para todos da minha família fazerem o teste para ver a compatibilidade da medula óssea, só que infelizmente nenhum atingiu. Estava muito fraca, fui fazer uma radioterapia já sem esperança e o médico chegou trazendo a notícia de que nós tínhamos conseguido, o hospital tinha entrado em contato com outros bancos [de sangue] e encontrado poucos, mas já era o começo. Vinte e dois dias depois de feito o cadastro nesse banco de sangue, recebemos uma ligação que tinha um doador que era do Rio de Janeiro, e quando chegou essa notícia, eu tive esperança”, descreve Anicleia.
Após o transplante dar certo, Anicleia passou por um período de recuperação, fez os acompanhamentos necessários e recuperou a sua qualidade de vida. “Fazia acompanhamento a cada três meses, depois a cada seis meses, depois um ano e três anos. Graças a Deus e a transfusão de medula, hoje em dia estou curada, muito saudável e sem indícios algum da doença, se não fosse feito na época a doação dessa medula eu não estaria aqui hoje fazendo esse relato”, comenta emocionada.
Como se tornar um doador
O primeiro passo para se tornar um doador de medula óssea é realizar o cadastro em um Hemocentro. Para isso basta estar dentro dos requisitos solicitados e após a conclusão do preenchimento dos dados, é feita a coleta de uma pequena amostra de sangue (5ml).
Esta amostra é enviada a um laboratório de referência, onde é realizado um exame de histocompatibilidade, um teste que identifica as características genéticas do sangue. As informações pessoais e resultado são incluídos no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME). Então, é feito o cruzamento dos dados constantemente com os dos pacientes que precisam do transplante de medula.
“Caso você for compatível com alguma pessoa, outros exames serão necessários e se a compatibilidade for confirmada aí sim você será solicitado para fazer a doação de medula óssea”, explica a médica especialista em hemoterapia e diretora técnica do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar) de Irati, Dra. Larissa Mazepa.
Ela ressalta que é importante o doador manter o cadastro no Hemepar sempre atualizado. Toda vez que mudar de telefone ou endereço, a orientação é comunicar a unidade de coleta e transfusão para que atualizem os dados. “É essencial a atualização dos dados do cadastro sempre que possível caso alguém for compatível a gente possa localizar esse doador o quanto antes”, orienta.
Transplante
O transplante de medula óssea é realizado em pacientes com doenças no sangue e que não respondem a tratamentos com medicamentos convencionais. “Quando existe uma doença que acomete a medula óssea, por exemplo leucemia ou outras doenças do sangue, e quando não se consegue conter a doença através de medicamentos, o único tratamento que é possível é o transplante de medula óssea, por isso é tão importante”, relata a diretora técnica do Hemepar de Irati.
Para receber o transplante de medula é preciso que tanto o doador quanto o receptor tenham as mesmas características genéticas. “Infelizmente para que a doação ocorra depende da compatibilidade entre doador e receptor, essa compatibilidade para fazer a substituição da medula óssea doente por uma saudável é muito necessário que o doador tenha as características idênticas ao receptor e por isso é tão difícil encontrar doadores de medula óssea”, explica Larissa.
O procedimento para a doação de medula óssea é seguro e indolor, de acordo com a médica.
Requisitos para ser doador de medula
Para se tornar um doador é preciso ir até um hemocentro, estar em boas condições de saúde e preencher um formulário. “Para ser um doador de medula óssea você deve ter entre 18 e 54 anos, 11 meses e 29 dias, porém para fazer o cadastro hoje em dia, o Governo de Estado tem nos obrigado a fazer o cadastro somente até 35 anos. Todas as pessoas que querem ser doadoras devem fazer até seus 35 anos o cadastro, e aqueles que já têm cadastro até 54 anos, 11 meses e 29 dias poderão estar sendo chamados pra fazer essa doação”, detalha Larissa.
Não possuir doenças transmissíveis e infecciosas e estar em boas condições de saúde também são algumas das características para se tornar um doador de medula óssea. “Para a doação a pessoa precisar estar em boas condições de saúde, não ter doença infecciosa, transmitida pelo sangue como hepatite b e C, HIV, doença autoimune ou doença hepatológica ir até o Hemepar e apresentar um documento oficial com foto e CPF”, complementa.
O que é a medula óssea?
A médica especialista em hemoterapia e diretora técnica do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar) de Irati, Dra. Larissa Mazepa, descreve a importância da medula óssea para o organismo. “A medula óssea é um tecido gelatinoso, que é localizado no interior dos ossos, principalmente nos ossos grandes e longos. Esse tecido é popularmente chamado de ‘tutano’ e é onde são produzidos os componentes do sangue. Então a medula óssea é conhecida como a fábrica de sangue. No sangue a gente tem a parte vermelha e a parte branca; a parte vermelha é a que transporta o oxigênio para todos os nossos tecidos; e a parte branca é a que contém a nossa imunidade para todas as doenças que possamos ser acometidos”, explica Larissa.
Você sabe a diferença entre medula óssea e medula espinhal?
A médica ressalta que existe diferença entre medula óssea e medula espinhal e que muitas pessoas acabam confundindo. Ela comenta que por esse e por outros motivos algumas pessoas acabam não se cadastrando para realizar a doação.
“A medula óssea é diferente de medula espinhal, que todos confundem pensando que a doação de medula óssea é uma injeção na coluna e não tem nada a ver com a coluna e sim com ossos longos. Hoje em dia é retirado através de um mecanismo que se chama aférese, um equipamento que possui no Hemepar. Esse sangue periférico sai do doador, passa pela máquina e são retiradas somente células que são percursoras, ou seja, células da medula óssea, e o restante do sangue volta para o doador novamente, é praticamente indolor o procedimento e muito seguro”, detalha.
Como ser doador de medula óssea?
Para ser doador de medula óssea, procure o Hemocentro mais perto de sua casa. É preciso ter boas condições de saúde e até 35 anos de idade para fazer o cadastro e ter suas informações genéticas incluídos no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME).
O Hemocentro de Irati fica na Rua Coronel Gracia, 761, Centro. Telefones: (42) 3422-3119 e (42) 3423-2400.
Texto: Emanuelle Rocetim/Hoje Centro Sul
Fotos: Divulgação/Ministério da Saúde