Dificuldade de aprendizagem na escola: Preguiça ou transtornos neurológicos?
Quando uma criança não consegue desenvolver as habilidades acadêmicas na escola logo o sentimento de fracasso passa a fazer parte do seu dia a dia. Ao não acompanhar o conteúdo da mesma forma que os colegas, vários estigmas são criados a seu respeito. Um aluno assim, que permanece durante meses ou até mesmo por anos com dificuldades no rendimento escolar tem preguiça de estudar? Ou pode ter transtorno de aprendizagem?
A psicóloga especialista em terapia cognitiva, comportamental e psicodiagnóstico, Mariangela Bello explica que o problema pode ser neurológico e que tratamentos adequados ajudam. “A criança que sofre fracassos escolares não é porque ela quer, mas sim porque não consegue acompanhar, não consegue aprender e isso causa nela vontade de desistir de estudar. Normalmente, essa criança é julgada como preguiçosa, mas isso precisa ser melhor investigado, pois pode ter a ver com uma dificuldade neurológica”, afirma Mariangela.
Segundo a profissional, os transtornos de aprendizagem consistem na incapacidade neurológica de assimilar conteúdos, cujas causas podem estar relacionadas ao aspecto biológico e influências genéticas. A psicóloga cita que em muitos casos não há cura, entretanto, o tratamento ajuda a conviver bem com o problema.
No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5, da Associação Americana de Psiquiatria – há classificações quanto aos Transtornos Específicos de Aprendizagem, como o prejuízo na leitura, na escrita e no raciocínio exigido pela matemática. “O prejuízo na leitura resulta na precisão da leitura de palavras, a velocidade, a fluência e a compreensão. Antigamente para isso era dado o nome de dislexia, é como se a criança lesse, mas o cérebro dela não consegue enxergar as letras como a gente, e isto segue pela vida toda”, relata Mariangela.
O prejuízo na escrita é observado na ortografia, gramática, pontuação. Mesmo que a pessoa saiba escrever, comete muitos erros porque não consegue fazer de forma organizada. E o prejuízo na matemática é quando a pessoa não consegue ter um senso numérico, memorizar fatos aritméticos, não consegue ter raciocínio matemático.
“Quem vai dizer se a criança tem um atraso na aprendizagem normalmente é a escola, percebendo que a criança não consegue acompanhar os outros alunos no mesmo ritmo. Cada criança é diferente, umas têm facilidade com matemática, outras com português, algumas conseguem fazer bem a parte escrita, outras não, mas a professora começa a perceber que existe uma dificuldade que vai além dos demais e começa a ficar muito ressaltado”, enfatiza a psicóloga.
Além dos transtornos permanentes, existem as dificuldades momentâneas, ocasionadas por questões emocionais. “Por exemplo, os pais se separaram e a criança tem uma queda no desempenho escolar, isso pode afetar a atenção e a concentração. Então, existem as dificuldades de aprendizagem que podem ser só momentâneas”, ressaltou Mariangela. A psicóloga destaca que muitas vezes os transtornos e dificuldades de aprendizagem não interferem somente no meio escolar, impactam também na área social, cognitiva e emocional. “Isso porque altera a forma como o sujeito se vê e se posiciona diante do mundo”, comenta.
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