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Como é a percepção do Natal sob diferentes pontos de vista religiosos

19/12/2024

Como é a percepção do Natal sob diferentes pontos de vista religiosos

O Natal, mais do que uma data de celebração e união, carrega significados profundos que variam entre diferentes tradições religiosas. Para explorar essas perspectivas, líderes católicos, espíritas e luteranos discutem a essência da data, destacando aspectos como preparação espiritual, caridade e renovação da fé

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A compreensão do significado do Natal pode variar consideravelmente dependendo do ponto de vista religioso. Para explorar essas diferentes interpretações, três representantes de importantes tradições religiosas comentam sobre o assunto:  padre Jorge Casimirski, pároco da Matriz Nossa Senhora da Luz de Irati, a direção do Espaço Seiva, que compartilhou a visão Espírita sobre o Natal, e o pastor Jefferson Schmidt, da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana (IECLB).

O Advento: tempo de preparação e esperança no catolicismo

Para o catolicismo, o Natal é precedido por um tempo litúrgico especial: o Advento. Este período, de acordo com o padre Jorge Casimirski, tem suas raízes no século IV e é um momento de preparação para a vinda de Cristo, com uma ênfase particular na expectativa da segunda vinda de Cristo, o que confere ao Advento uma forte dimensão escatológica. Para ele, o Advento é um tempo de esperança, uma preparação para a chegada gloriosa de Cristo, lembrando os fiéis de que a salvação prometida por Deus ainda está por se completar.

O padre explica que o Advento é dividido em duas partes distintas: até o dia 16 de dezembro, quando o foco está na preparação espiritual para a vinda do Messias no final dos tempos. Já entre os dias 17 e 24 de dezembro, a liturgia se concentra na celebração do nascimento de Cristo, momento fundamental para o cristianismo. “O Advento é tempo litúrgico em que, de modo diverso dos outros, se dá destaque à cooperação de Maria no mistério da redenção”, comenta o padre, enfatizando que a figura de Maria é essencial, mas sem que o Advento se reduza a um ‘mês de Maria’.

Com isso, o padre Jorge destaca que o Natal não é apenas uma celebração do nascimento de Jesus, mas também uma recordação das promessas divinas que se realizarão no fim dos tempos, com a vinda gloriosa de Cristo. “O advento, ao mesmo tempo que nos revela as verdadeiras, profundas e misteriosas dimensões da vinda de Deus, recorda também o compromisso missionário da Igreja e de todo cristão para o advento do reino de Deus. A missão da igreja, em face do anúncio do Evangelho, a todas as nações é essencialmente baseada no mistério da vinda de Cristo, enviado pelo Pai, sobre a vinda do Espírito Santo mandado pelo Pai e para o Filho”, conclui.

O Natal no Espiritismo: Renascimento e Caridade

Enquanto o catolicismo encara o Advento como uma preparação para a chegada de Cristo, o Espiritismo traz uma abordagem diferente, explica a direção do Espaço Seiva. Para os espíritas, o Natal é uma oportunidade de reflexão sobre a vida e os ensinamentos de Jesus Cristo, mas sem as celebrações religiosas tradicionais.

O Espiritismo não celebra o Natal como uma data litúrgica, mas valoriza o momento como uma ocasião para o renascimento espiritual. “O Espiritismo, especialmente na visão de Allan Kardec e da doutrina codificada por ele, valoriza o Natal como um momento de reflexão, fraternidade e renovação espiritual, embora não o celebre como uma data religiosa, mas como uma oportunidade de vivenciar os ensinamentos de amor e caridade do Mestre Jesus.”

No Espiritismo, o Natal vai além da celebração tradicional, sendo visto como uma oportunidade especial para reflexões e práticas que reforçam os valores ensinados por Jesus.

O Espaço Seiva, em sintonia com esses princípios, destaca a importância do período para promover a fraternidade, o amor ao próximo e o renascimento espiritual, valorizando ações de caridade e renovação interior como pilares para a evolução moral e espiritual.

Fraternidade e Amor ao Próximo: O Natal é visto como uma ocasião para praticar os ensinamentos de Jesus, que são baseados no amor, na humildade e na caridade. É um período para reforçar os laços de solidariedade e ajudar aqueles que estão em necessidade como familiares, amigos e tantos outros.

Renascimento Espiritual: Mais do que uma celebração material, o Natal é encarado como uma oportunidade para o renascimento interior. É um momento de renovar pensamentos, sentimentos e atitudes em busca de evolução espiritual.

Exemplo de Jesus: A data remete à vida e aos ensinamentos de Jesus, considerado no espiritismo como um guia e modelo para a humanidade. O foco é menos na comemoração do nascimento físico e mais na importância do seu legado moral e espiritual.

Caridade e Benevolência: Durante o Natal, muitas casas espíritas promovem ações solidárias, como doações e trabalhos voluntários, alinhando-se aos princípios de ajudar o próximo.

O Espaço Seiva explica também que,  “embora não exista uma recomendação formal na doutrina espírita para comemorar o Natal, a data é respeitada e valorizada como um momento de união e reflexão”.

O Natal na perspectiva Luterana

Para o Pastor Jefferson Schmidt, que atua na Comunidade Evangélica de Confissão Luterana (IECLB), o Natal é uma época rica em simbolismo, mas também marcada por uma preocupação com o que realmente deveria ser o foco da celebração. Ele compartilha sua visão crítica sobre a modernização das celebrações natalinas, em que muitos símbolos e tradições se distanciaram do verdadeiro significado cristão. Segundo o pastor, “nem tudo que é celebrado no Natal tem origem cristã”. Ele cita como exemplo as tradições do Papai Noel, a troca de presentes e as decorações como práticas que, embora importantes, acabam por ofuscar o centro da festividade: o nascimento de Jesus Cristo.

No entanto, o pastor também reconhece que, embora as tradições populares desempenhem um papel importante, o mais essencial é a renovação da fé.

Ele explica que Natal luterano é visto como um momento para relembrar a promessa de Deus cumprida com o nascimento de Cristo, e para refletir sobre o papel de cada um na construção de uma vida mais justa e compassiva. “E essa, é uma promessa também para nós hoje, porque a Bíblia fala de uma segunda vinda, e nós também vivemos muitas vezes de forma errada, não valorizamos nossas famílias, tantas coisas que são o contrário do Natal. Eu também sempre digo que Natal é uma época para a gente fazer as pazes, para a gente buscar conviver, para a gente estar em comunidade, celebrar a vida, a esperança diante de um novo tempo que Deus nos dá de presente”, afirma o pastor Jefferson.

Ele explica que a tradição luterana enfatiza o valor do nascimento de Cristo como um sinal da esperança para toda a humanidade. Assim como o povo judeu aguardava a chegada do Messias, os cristãos de hoje devem se preparar para a segunda vinda de Cristo, mantendo viva a promessa de renovação.

O Natal, para os luteranos, é uma celebração que convida a refletir sobre a missão de Cristo e sobre como a fé pode renovar e fortalecer a vida, especialmente em um mundo tão marcado por pressões e dificuldades. “Hoje em meio às nossas correrias e modernidade, tecnologia, a gente muitas vezes tem a fé, a presença de Deus, de Jesus na nossa vida muito ofuscada. A gente acaba não percebendo muitas vezes as bênçãos de Deus na nossa vida. E isso é algo extremamente perigoso, porque se nós não temos Deus, nós nos tornamos nosso próprio deus, e isso é algo com o qual nós não conseguimos lidar muito bem. Acabamos muitas vezes nos soterrando, acabamos muitas vezes esperando demais de nós mesmos e colocando um peso sobre nós com o qual a gente geralmente não costuma saber lidar”, explica.

Ele destaca a importância de reconhecer e valorizar aquilo que já se tem, especialmente diante da fartura que muitas famílias possuem nesta época do ano. “Essa é a mensagem essencial para o nosso Natal: O que nós fazemos com esse presente de Deus? Nós o acolhemos na nossa casa, oferecemos um espaço na nossa mesa, na ceia do Natal ou nós somos incapazes de reconhecer que somos pessoas abençoadas? E se nós pararmos para olhar, a maioria das famílias terão uma mesa farta, geladeira cheia. Talvez muito mais do que nós precisamos na ceia de Natal. E talvez fomos incapazes de reconhecer que isso também são bênçãos”, enfatiza Jefferson.

O pastor destaca a importância de resgatar a essência da mensagem cristã, enfatizando que pequenos gestos de gratidão a Deus, como uma breve oração antes das refeições, têm sido negligenciados na correria do dia a dia.

Ele também ressalta que as tradições modernas, como a troca de presentes, não deveriam ocupar o papel principal na celebração. “Nós somos hoje uma sociedade extremamente consumidora. (...) Talvez a gente nem reflete o que está por trás disso, da troca de presentes, pois o próprio Cristo é o presente de Deus para a nossa vida, para encontrar sentido. As tradições modernas hoje ocuparam a cena principal do Natal e tudo isso não deveria ser o essencial, deveria ser apenas um complemento, porque o essencial, o que é o necessário e que é o aniversariante do Natal é o próprio Jesus Cristo”, comenta o pastor.

Da Redação/Hoje Centro Sul

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