Clima instável desafia o comércio e impacta os setores de vestuário e alimentação

Oscilações de temperatura desafiam comerciantes pela mudança de hábitos no consumo dos clientes
Os dias começam frios e terminam quentes, ou trazem chuva e sol em sequência. Esse cenário, que marca o início de setembro no Centro Sul do Paraná, é explicado pela amplitude térmica característica dos períodos de transição, conforme relata o meteorologista do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), Samuel Braun.
“A mudança do dia ocorre, principalmente, pela amplitude térmica – de manhã frio e à tarde calor. Em regiões de maior altitude, como é o caso de Irati, essa situação é comum, principalmente quando temos dias de céu claro”, explica Braun.
Segundo o meteorologista, trata-se de um comportamento típico da transição entre estações. “São condições mais favoráveis porque temos massas de ar seco relacionadas à amplitude térmica do dia. Neste momento, não há nenhum fenômeno climático atuando diretamente, como El Niño ou La Niña, mas para a primavera deve haver um pequeno resfriamento, já que a La Niña fraca traz menos chuva e possibilidade de temperaturas baixas mais tardias”. Brau acrescenta que alguma onda de frio não está descartada.
No comércio de vestuário, a instabilidade climática reflete diretamente nas vendas. Jaqueline Babiuki e Rafaela Mayer, proprietárias da loja Liberté Mode em Irati, relatam que os clientes ficam inseguros. “Muitas vezes, deixam de comprar as peças de verão que já estão expostas porque está frio”, afirma Jaqueline.
Segundo elas, o período de meia-estação é complicado. “O povo fica bem inseguro, ninguém quer comprar inverno mais e nem verão, pois ainda está frio. Ou eles compram roupas quentes, bem no inverno, ou frescas, bem no verão”, comenta Rafaela. Durante o inverno, a loja vende muito térmicas e casacos e, no verão, vestidos e saias são as peças preferidas.
Para enfrentar o desafio, as lojistas trocam a vitrine até três vezes por semana, adaptando-se às mudanças. “As peças curinga dessa época são camisas, jaquetas jeans e roupas leves. Já estamos com a coleção de verão na loja, pois os clientes querem novidades, mas ainda não estamos vendendo como o esperado”, conta Jaqueline. Em breve, elas farão o lançamento oficial da coleção.
Números
O comportamento dos clientes relatado pelas proprietárias da Liberté Mode é confirmado pelos números da Pesquisa Mensal de Comércio, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), que aponta uma pequena redução no volume de vendas do comércio varejista em todo o país.
Em julho de 2025, o volume de vendas do comércio varejista variou -0,3%, frente a junho, na série com ajuste sazonal, acumulando o quarto resultado negativo seguido. A média móvel trimestral repetiu o mesmo resultado (-0,3%).
Entretanto, na comparação com o mesmo período do ano anterior, julho de 2024, o volume de vendas do varejo cresceu 1,0%, a quarta alta consecutiva. No ano, o varejo acumulou crescimento de 1,7%. O acumulado em 12 meses foi de 2,5%.
Na comparação com igual mês do ano anterior, esse crescimento de 1,0% no varejo foi acompanhado por seis das oito atividades: Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (3,8%), Livros, jornais, revistas e papelaria (3,4%), Móveis e eletrodomésticos (3,2%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,5%), Combustíveis e lubrificantes (1,0%) e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,4%). As duas atividades em queda nessa comparação foram tecidos, vestuário e calçados (-1,5%) e Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-4,7%).
Clima também promove mudança na cesta do supermercado
As oscilações também são sentidas no setor alimentício. Ana Paula Ivasko, diretora de Marketing e Trade do Grupo Ivasko, afirma que a cesta de compras acompanha, diretamente, as variações do clima. “De forma geral, a mudança no clima impacta bastante na cesta de compra do consumidor, tanto nos itens quanto na quantidade deles. Sempre que esquenta, o impacto em carnes, cervejas e sorvetes é sentido, assim como o frio impulsiona o consumo de sopas, chocolates e vinhos”, relata Ana Paula.
Ela acrescenta que o hortifrúti é o setor mais sensível. “É muito impactado tanto pela oferta de produtos, que depende do clima, quanto pela preferência dos consumidores. Mas como nós, do Grupo Ivasko, focamos muito nos fornecedores locais, garantimos os produtos mais frescos, com qualidade e preço justo”.
Apesar da imprevisibilidade, a diretora conta que o grupo está acostumado a lidar com esse cenário. “Por mais que a gente programe uma ação, sempre validamos com as estratégias a serem implementadas de acordo com a meteorologia da semana”, comenta. Ela diz que nem sempre a equipe acerta, mas que isso faz parte do processo.
Promoções e expectativas para o fim do ano
A presidente da Associação Comercial e Empresarial de Irati (Aciai), Samara Coelho, avalia que as mudanças bruscas de temperatura realmente repercutem no comércio local. “Toda mudança de clima repentina afeta significativamente nas vendas”. Setores, como vestuário e alimentação, são os mais impactados, já que o consumidor fica em dúvida sobre o que comprar diante das variações do tempo.
Samara observa também que o consumidor está mais atento e analisando preços na internet, o que exige maior preparo dos lojistas. “O consumidor está cada vez mais exigente e comparando preços com a internet, fazendo com que os vendedores estejam sempre mais preparados para convencer os clientes a darem a preferência ao comércio local”, afirma.
Para compensar possíveis oscilações nas vendas de setembro e outubro, os lojistas costumam recorrer a promoções sazonais. “Normalmente, fazem uma promoção por semestre relativa ao final das coleções de verão e inverno, além de termos diariamente, à disposição, um setor de ponta de estoque”.
Ao mesmo tempo, a presidente ressalta que o comércio já se organiza para as datas mais importantes do calendário. “Geralmente, acontecem as promoções na Black Friday, além dos estoques que já estão supridos para as vendas de Natal”. A expectativa para o fim do ano é positiva. “Este é o principal período de vendas em nosso setor de varejo em calçados e confecções. Temos a expectativa de incrementar nossas vendas e acredito que, se tivermos um aumento de 10% em relação a 2024, podemos considerar que está dentro da normalidade”, avalia Samara.
Fernanda Hraber