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Baixa escolaridade e falta de qualificação dificultam o preenchimento de 40% das vagas de emprego oferecidas através da Agência do Trabalhador de Irati

1º de maio é o Dia do Trabalhador e a data traz à tona o problema do perfil inadequado de muitos candidatos aos empregos existentes: Eles não possuem sequer o ensino médio completo, não dominam a tecnologia e/ou não têm capacitação específica para a vaga.

02/05/2022

Baixa escolaridade e falta de qualificação dificultam o preenchimento de 40% das vagas de emprego oferecidas através da Agência do Trabalhador de Irati

Diariamente, a Agência do Trabalhador de Irati divulga dois boletins com as vagas de trabalho e há dificuldade para o preenchimento de cerca de 40% destas vagas. Apesar da grande procura por oportunidades de inserção no mercado de trabalho, sobram vagas constantemente porque muitos candidatos aos empregos não têm a escolaridade mínima necessária ou a qualificação técnica exigida pelos contratantes.

O perfil médio dos candidatos às vagas, segundo o chefe da Agência do Trabalhador de Irati, Marcelo de Ávila Francos, é de pessoas de ambos os sexos, com mais de 25 anos de idade e com pouca instrução.  “A nossa região é uma região, talvez, ainda de baixa escolaridade, que tem uma carência de escolarização. Nosso público, em sua maioria, não tem nem o ensino fundamental completo”, conta Marcelo.

Com isso, ao mesmo tempo acabam sobrando vagas e sobrando trabalhadores em busca de emprego.

A População Economicamente Ativa (PEA) do município é de aproximadamente 29 mil pessoas, segundo o chefe da Agência do Trabalhador.  Fazem parte da PEA indivíduos que têm mais de 14 anos de idade e são considerados aptos ao trabalho, embora neste grupo incluam-se pessoas que não estão em busca de emprego, como os estudantes e as donas de casa.

Quanto aos trabalhadores com carteira assinada, o número total em Irati é de 10.733 trabalhadores, admitidos com registro conforme a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O número é o último divulgado pelo Ministério do Trabalho no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), e é referente ao fechamento do mês de fevereiro.

Com isso, deduz-se que em Irati há mais de 18 mil pessoas aptas ao trabalho que atuam na informalidade, são estudantes ou desempenham funções domésticas não remuneradas, como limpeza, cuidado dos filhos ou de familiares idosos. 

De modo geral, a busca por vagas de emprego formal é alta. “A procura por emprego é bastante grande. O Brasil hoje é um país que tem um número de desemprego muito alto e aqui em Irati não é diferente, o nosso desemprego também tem uma taxa alta e por consequência a procura pelos serviços da agência”, destaca Marcelo. Além da tentativa de conseguir um emprego, as pessoas também procuram a agência quando são demitidas, para dar entrada no seguro desemprego.

No mês de fevereiro deste ano, por exemplo, ocorreram 573 admissões e 420 demissões em Irati, o que resultou em um saldo positivo de 153 contratações. No ano de 2021, durante oito meses houve saldo positivo de empregos e em quatro meses os números foram negativos (ver tabela).  O maior saldo positivo foi em fevereiro, quando ocorreram 472 contratações e 322 demissões. O pior saldo do ano passado foi no mês de novembro, quando aconteceram 468 admissões e 631 demissões, o que resultou em um saldo negativo de 163 empregos.

 No fechamento do ano de 2021, o saldo foi positivo, de 300 empregos em Irati. 

Em 2022, Marcelo relata que a oferta de vagas de emprego está sendo maior.  “Com as liberações, com os decretos restritivos sendo retirados, aumentou a confiança e por consequência, a oferta de empregos”, comenta.

Outra tradição é que empresas de outros estados recrutem trabalhadores em Irati e região para a safra, especificamente para a colheita da maçã. Neste segmento também aumentou o número de vagas neste ano.

“Em 2022, nós começamos o ano com uma boa oferta de empregos, tivemos uma retomada da questão da safra, que sempre foi uma característica do nosso atendimento, as empresas de Santa Catarina, principalmente da colheita da maça, sempre procuraram a agência. Tivemos, em 2021, certa procura e este ano a empresa aumentou o número de trabalhadores que ela levou para lá”, contou. 

As cooperativas da cidade e da região, que costumam admitir trabalhadores temporários para atuarem durante o período da safra, também fizeram muitas contratações este ano.

Setores

Quanto aos setores que mais empregam, continuam sendo comércio e serviços. “O mote da nossa região, da nossa cidade é o comércio. Nós temos indústrias na nossa cidade obviamente, mas o maior leque de opções do nosso município continua sendo serviços e comércio”, destaca o chefe da Agência do Trabalhador.

Escolaridade baixa

Ter estudado pelo menos até o ensino médio é um dos requisitos mínimos exigidos para grande parte das vagas de trabalho atuais. Entretanto, boa parte dos candidatos que procuram a Agência do Trabalhador não possui este nível de escolaridade.

Marcelo conta que, para cumprir a função social da Agência, sempre incentiva os candidatos às vagas a estudarem. Cita que muitos relatam não terem tido a oportunidade de estudar e que agora é mais difícil, mas divulga a eles a possibilidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que é gratuita e permite concluir os estudos em tempo menor do que o ensino regulamentar (Ver matéria ao lado).

“As pessoas tem os afazeres, às vezes têm a casa para cuidar, mas existe a possibilidade de um pouquinho de esforço para que isso [estudo] aconteça, porque cada vez mais o mercado de trabalho vai estar exigente, isso é da evolução do trabalho. Então, as pessoas que não tiverem os mínimos requisitos, vão ficando à margem. E os mínimos requisitos passam pela escolaridade, não só capacitação e qualificação profissional dentro de uma área”, finaliza Marcelo.

Falta qualificação e falta de interesse pelos cursos gratuitos

“Temos procurado parcerias para tentar sanar este problema de colocação de mão de obra, qual seja, a questão que os empregadores nos colocam de qualificação e capacitação do trabalhador, já de bastante tempo”, afirma Marcelo.

Ele conta que recentemente foram realizadas parcerias com o SESI, Senac e Senai para a oferta de cursos gratuitos para tentar suprir algumas das principais dificuldades de capacitação dos trabalhadores. Entretanto a procura pelos cursos foi baixa.

No final de 2021 foram disponibilizadas 50 vagas para o curso de Inclusão digital. “Embora estejamos vivendo cada vez mais o avanço da tecnologia, muitas pessoas, e digo muitas pessoas em todas as faixas etárias, não têm o domínio das questões das tecnologias. Nós conseguimos visualizar até questões relativas àquilo que nos parece simples, só que o simples para um é o complicado para outro, o ligar um computador, por exemplo”, cita.

Mesmo que a inabilidade tecnológica seja uma barreira para algumas pessoas conquistarem um trabalho e, mesmo com a oferta gratuita das 50 vagas para o curso, apenas 13 trabalhadores se inscreveram e somente 7 pessoas concluíram.

O mesmo foi verificado em outros cursos gratuitos oferecidos para qualificar trabalhadores para a vagas de emprego que sempre  estão disponíveis e não são preenchidas.

“São pessoas que, por vezes, tem uma dificuldade grande para inserção, que nos colocam isso, mas quando a oferta lhes é proporcionada, eu não sei te dizer qual o motivo, mas nós não conseguimos preencher o total [de vagas dos cursos], que eu acho que é extremamente pequeno”, frisa Marcelo.

Faltaram alunos para ocupar as 32 vagas do curso de Técnicas para açougueiro, para as 15 vagas do curso de Auxiliar de cozinha e para as 25 vagas do curso Preparação para o mercado de trabalho. Este último está em andamento e conta com apenas 13 participantes – apesar da divulgação ter sido feita em mais de oito escolas da rede pública estadual de ensino, segundo o chefe da Agência do Trabalhador.

“A mim causa uma estranheza e uma frustração não ter conseguido fechar o número de vagas. Imaginei que teria que fazer cadastro de reserva, que iam sobrar interessados”,  desabafa Marcelo.

Ele relata que está há nove anos à frente a Agência do Trabalhador de Irati e que percebe algumas características entre muitos dos candidatos que não obtém êxito no mercado de trabalho.  Entender a ambição como algo ruim é uma destas características. “As pessoas, por vezes, confundem os termos, principalmente ambição. Parece que ter ambição não é uma coisa boa, parece que as pessoas entendem que ser ambicioso é ser arrogante, que ser ambicioso é querer parecer melhor que os outros, e não é isso, o ser humano precisa ter ambição. Por quê? Para objetivar algo, para isso ele vai trabalhar, para isso ele vai melhorar. Então, por vezes, me parece que falta isso, ter ambição”, diz Marcelo.

O que é o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED?

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED, instituído pela Lei nº 4.923, em 23 de dezembro de 1965, constitui fonte de informação de âmbito nacional e de periodicidade mensal. Foi criado como instrumento de acompanhamento e de fiscalização do processo de admissão e de dispensa de trabalhadores regidos pela CLT, com o objetivo de assistir os desempregados e de apoiar medidas contra o desemprego.

Texto: Letícia Torres/Hoje Centro Sul

Foto: Pixabay

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