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Aumento de casos de Covid-19 em pessoas mais jovens preocupa especialistas

Número de óbitos ainda é menor se comparado com idosos, mas o crescimento de casos de Covid-19 em pessoas mais jovens tem acendido o alerta para especialistas, que reforçam as orientações de distanciamento social

17/05/2021

Aumento de casos de Covid-19 em pessoas mais jovens preocupa especialistas

A morte do ator Paulo Gustavo, de 42 anos, chocou muitos brasileiros neste início de maio. A perda causada por complicações da Covid-19 é mais uma estatística que tem sido preocupante entre especialistas: a mortalidade de pessoas mais jovens por complicações da doença gerada pelo coronavírus. Em Irati, apenas nos primeiros doze dias de maio foram registrados 23 óbitos, o que representa 25,5% do total de mortes desde o início da pandemia, no ano passado – 90 óbitos foram contabilizados até esta quarta-feira (12). E destas 23 pessoas que perderam a vida devido à doença nas primeiras semanas de maio, nove tinham menos de 60 anos de idade, como uma professora de 42 anos, um instrutor de autoescola com a mesma idade, além de uma estudante universitária de apenas 20 anos. 

No país, a faixa etária de pessoas entre 40 a 49 anos foi a que teve maior aumento em casos de óbitos no primeiro quadrimestre deste ano, de acordo com o boletim publicado pelo Observatório Covid-19 da Fiocruz. A instituição analisou os casos de Covid-19 reportados pelo SivepGripe, do Ministério da Saúde, de janeiro a abril deste ano, constando que houve 1.173,75% no aumento global de óbitos nesta faixa etária. Outras faixas etárias também tiveram aumento significativo de óbitos: 50 a 59 anos (1.082,69%), 30 a 39 anos (1.103,49%), 60 a 69 anos (747,65%) e 20 a 29 anos (745,67%). A idade média de óbito passou de 71 anos para 64 anos. Nos casos de internamento, a idade média era de 62 anos e passou para 57 anos em abril.

No Paraná, os casos e óbitos por causa da Covid-19 também seguem a tendência de atingir os mais jovens. A principal faixa etária que está sendo contaminada é entre pessoas de 30 a 39 anos, seguido de pessoas entre 20 a 29 anos. Em comparação com o início do ano, o número de casos chegou a dobrar. Se em janeiro, a faixa etária entre 30 a 39 anos registrou 93.902 casos desde o início da pandemia no ano passado, em maio, até esta quarta-feira (12), o número de casos confirmados saltou para 217.090. O número de óbitos triplicou de 218 mortes para 876 mortes em maio.

Na faixa etária dos 20 a 29 anos, a situação se repete. Foram 89.191 casos até janeiro e em maio, o número chegou a 204.259 casos confirmados. Os óbitos também mais do que triplicaram: 75 óbitos até janeiro e 247 óbitos, até maio.

Nos municípios de abrangência da 4ª Regional de Saúde, a principal faixa etária com casos confirmados também é entre 20 a 49 anos. Pessoas mais jovens também têm se contaminado e até mesmo chegado a óbito. De acordo com informações da 4ª Regional, desde o início da pandemia até agora, mais de 3.500 pessoas entre 0 a 29 anos que apresentaram algum caso de Covid-19. No caso de óbitos, foram três óbitos entre 20 a 29 anos, um óbito de um adolescente 17 anos (pós parto tardio), um óbito de uma jovem de 20 anos e um óbito de criança (criança apresentava mau formação cardíaca congênita).

A mortalidade entre idosos continua alta, em comparação à quantidade de casos. Porém, com a vacinação alcançando essa faixa etária, os especialistas começam a chamar a atenção para o rejuvenescimento da população que é atingida pela doença. Ao contrário dos idosos, a mortalidade de jovens não é tão grande em comparação à quantidade de casos. Mas o aumento de óbitos é um alerta para especialistas que reforçam a necessidade da continuidade de cuidados preventivos em relação à Covid-19.

Avanço

Até o ano passado, os casos de Covid-19 em pessoas mais jovens, incluindo crianças e adolescentes, eram mais leves e muitas vezes assintomáticos, não trazendo maiores complicações. Contudo, neste ano, surgiram variantes da Covid-19 que fizeram com que a doença ficasse mais grave, podendo evoluir para óbitos. “As crianças e adolescentes tinham proporcionalmente uma menor evolução para casos sintomáticos e casos graves, mas houve essa mudança, começou a ter mais casos sintomáticos e casos que evoluíam para a necessidade de internação, UTI, ou mesmo até para óbito. Mas a maior parte das pessoas são casos sintomáticos ou casos leves”, relata o médico patologista clínico do Grupo Sabin, Alex Galoro.

O médico destaca que houve aumento na quantidade de crianças, adolescentes e jovens adultos que evoluem de forma mais grave. Além disso, os adolescentes ainda são considerados os principais vetores na transmissão da doença. “Como os adultos jovens e os adolescentes acabam se expondo mais, acabam evoluindo para essa contaminação e essa aceleração nos casos. E eles continuam sendo os principais vetores de transmissão e que levam à doença para familiares que convivem com eles em casa”, explica.

A transmissão continua sendo por meio de contato por superfícies e, principalmente, pela transmissão respiratória. “A transmissão respiratória por estar no mesmo ambiente com pessoas contaminadas é até mais importante do que a transmissão por contato. Por isso a importância do isolamento social, a importância de se evitar as aglomerações, que é onde há o maior risco”, disse.

Contudo, o pico de casos observado nos últimos meses é resultado de confraternizações ocorridas durante o Carnaval e a Páscoa. “Vimos uma evolução com um pico dos casos e das mortes que foram sequenciais até do período de Carnaval, que vimos muitas aglomerações e o pessoal deixando de seguir as recomendações. Festas com aglomerações e sem máscara é tudo que o vírus precisa para que se transmita”, alerta.

Com nova cepa e aumento de casos de jovens, o médico destaca que as prevenções contra a Covid-19 são essenciais neste momento. “O mais importante é manter o distanciamento social. Nas aulas ou mesmo no trabalho, se for possível que as pessoas mantenham o distanciamento de um metro e meio, mantenham o uso das máscaras e mantenham todas as medidas de higienização. Coisas que não são imprescindíveis como eventos sociais e aproximação para festas, seria bem recomendável que se evitasse até que tivesse a vacinação, para que a gente possa continuar com as atividades que são imprescindíveis como escola e trabalho”, disse.

Conscientização

A pandemia do coronavírus obrigou todos a enfrentar o distanciamento social e o período de isolamento trouxe o agravamento de casos de saúde mental em muitas pessoas. Para jovens e adolescentes, a situação não foi diferente.

A psicóloga Léa Michaan explica que o período pode ser um grande vilão para a saúde mental de todos, mas principalmente para o jovem. “O ser humano se constitui na relação interpessoal, e quando há isolamento a pessoa precisa ficar com ela mesma. Muitas precisam das outras para se constituirem, não se conhecem, não conseguem ficar consigo mesmas, precisam ter plateia para fazer qualquer coisa e não toleram a solidão. Isso pode gerar muita depressão, tristeza e uma desesperança”, disse.

O psicanalista Júnior Silva conta que o isolamento impediu que os jovens tivessem essa atividade social, os deixando suscetíveis ao sofrimento, sensações de vazio, grande aumento da ansiedade, insônia e crises de pânico. “Como não nos preocupar se na última década a depressão e ansiedade teve aumento de 37% e o suicídio é a segunda causa de morte na faixa de idade de 15 a 29 anos? No meu consultório teve aumento de 400% na procura de pais para consultar seus filhos que estão com pensamento de morte e deprimidos, sem vontade de viver ou sair de suas camas”, relata.

Mas ao mesmo tempo em que a saúde mental piorou durante a pandemia, muitos adolescentes e jovens adultos têm usado essa situação para argumentar da necessidade de continuar a ter atividades sociais, como festas e reuniões em grupo.

Para o psicólogo Roberto Depsi, muitos dos adolescentes que se comportam dessa maneira estão em estado de negação, após terem passado por agravos na saúde mental. “O estresse aumenta nesta época, a ansiedade, alterações de sono, alterações de humor, apetite, porque os jovens se veem obrigados a ficarem mais restritos e isolados. Por outro lado, isso cansa e chega ao extremo que a gente vê, que é uma falta de observação [dos cuidados necessários] que os jovens estão indo para festas, baladas, sem respeitar o distanciamento, sem respeitar os espaços”, disse.

Ele ressalta que essa postura é infantilizada. “É uma postura emocionalmente infantilizada, de ‘não aceito’, ‘não vou fazer’, ‘não serve para nada’, ‘estou cansado’. E aí se negam a observar os cuidados necessários”, explica.

O psicanalista também aponta que a enfatização de que os idosos eram os casos mais graves ajudou a dar uma sensação de que não aconteceria nada com os jovens. “Claro que a realidade não é essa, mas se falava muito que a Covid-19 era mortal para pessoas idosas e que para jovens seria algo mais tranquilo. Isso sem dúvida os leva de uma forma a se encorajar a recuperar o tempo que eles acham perdido. Por se sentirem sem riscos, se arriscam para preencher seus prejuízos emocionais causados pelo isolamento”, comenta.

A conscientização da população sobre o risco da Covid-19 ainda é um desafio para as autoridades. Contudo, para os jovens têm sido mais difícil, já que as constantes festas clandestinas costumam receber exatamente essa faixa etária.

Para os especialistas, a conscientização deste grupo é um desafio, mas há maneiras em que é possível ter uma tentativa de conversa. “Precisamos dar a oportunidade de eles entenderem com mais clareza que os jovens estão perdendo a vida por causa das variantes da Covid-19. Acho que o mais importante é a família se sentar para conversar e dialogar, dizendo que ninguém tem o direito de fazer do outro a próxima vítima”, sugere Júnior Silva.

Léa Michaan destaca que a troca de informações entre gerações pode ajudar a trazer mais consciência. “Colocando em pauta que existem várias e diferentes realidades dentro do Brasil, fica um pouco difícil convencer que jovens e adolescentes cumpram as medidas restritivas de forma correta. Mas, ao meu ver, como profissional da saúde da mente, a melhor forma de lidar com essa situação é colocar jovens e idosos em contato seguro para que informações sobre os casos possam ser compartilhadas. Os números já não assustam, viraram apenas números, mas um diálogo saudável entre diferentes gerações sobre medos, angústias e riscos em relação à Covid-19, pode ser eficiente”, aconselha a psicóloga. Contudo, Roberto alerta que a conscientização é algo particular. “A consciência é algo individual, não tem como alguém obrigar alguém a ser consciente. O que pode se obrigar é cumprir regras. Então, a família que tenha alguém em casa que não respeita normas de higiene social e distanciamento, colocando os outros em risco, as outras pessoas não têm que aceitar isso”.

Texto: Karin Franco

Fotos: Pixabay

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