Dupla jornada de mulheres aumenta durante a pandemia
Com crianças e adolescentes em casa, o impacto da pandemia no cotidiano das mulheres tem sido ainda calculado por especialistas, mas dados já demonstram uma tendência para o aumento da chamada dupla jornada
Pesquisas apontam que as mulheres tiveram aumento da dupla jornada de trabalho durante a pandemia. Isto significa mais horas trabalhadas em serviços domésticos e cuidados de familiares, após o encerramento do expediente no trabalho remunerado.
O relatório Global Gender Gap Report 2021, feito pelo Fórum Econômico Mundial, com auxílio de dados da Ipsos, instituto internacional de pesquisas, mostrou que mulheres com filhos foram as que mais trabalharam em horas pouco convencionais, como nas primeiras horas da manhã ou muito tarde, à noite.
A pesquisa foi feita com homens e mulheres com crianças e sem crianças. Contudo, foram as mulheres que apresentaram os maiores índices ao serem mais propensas ao aumento nos níveis de estresse devido às mudanças nas rotinas de trabalho e aumento na ansiedade devido às pressões familiares (como o dever de cuidar as crianças). Elas também enfrentaram mais dificuldade em balancear trabalho e vida particular, além de terem menor produtividade durante este tempo.
O relatório do Fórum Econômico Mundial ainda aponta que com a pandemia a lacuna entre gêneros aumentou de 99 anos para 135 anos. Segundo o estudo, isso significa que levaria mais 135 anos para atingir a igualdade de gêneros mundialmente, com as atuais políticas sociais.
A pesquisa “Sem Parar: o trabalho e a vida das mulheres na pandemia”, realizada pelas organizações Gênero e Número e SOF Sempreviva Organização Feminista, mostram dados mais recentes que relatam que 50% das mulheres passaram a cuidar de alguém durante a pandemia. A pesquisa ainda indica que 42% das mulheres responsáveis pelo cuidado de outra pessoa o fazem sem apoio de pessoas de fora do núcleo familiar e que, no período de isolamento social, 51% das mulheres que contam com algum apoio para o cuidado, afirmaram que o apoio diminuiu.
Os números seguem uma tendência já apresentada em 2019, antes da pandemia. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que mulheres se dedicaram mais aos cuidados de pessoas ou afazeres domésticos do que homens. Foram 21,4 horas semanais feitas pelas mulheres contra 11 horas semanais feitas pelos homens.
A pesquisa de 2019 também já mostrava que as mulheres que precisavam conciliar a vida de casa com trabalho eram mais propensas a ter empregos com horas reduzidas. Segundo o IBGE, cerca de um terço das mulheres (29,6%) estavam ocupadas em tempo parcial (até 30 horas semanais de trabalho), quase o dobro do verificado para os homens (15,6%).
Conciliando vidas
Marinês Pereira, 39 anos, é uma das mulheres entre tantas brasileiras que tem se dividido entre o trabalho e o cuidado de filhos em casa durante a pandemia. Divorciada e com dois filhos adolescentes em casa, um de 14 anos e outro de 16 anos, ela tem se divido para sustentar a casa e cuidar da educação dos filhos que estão em ensino remoto.
A escola tem mandado os horários das aulas on-line e a programação do ensino remoto tem sido cumprida. Mas é a disciplina e o natural desenvolvimento do adolescente que acaba trazendo desafios à educação. “Com o de 14 anos, está sossegado. É com o de 16 que eu tenho que pegar no pé. Está naquela fase de ‘contatinhos’”, disse.
Para garantir que o adolescente se concentre nos estudos, enquanto ela não está em casa, Marinês tem partido para soluções drásticas. “Nessa parte, talvez eu seja maldosa, não sei… Mas a

 
                                 
                                 
                                 
                                 
                                 
                                 
                                 
                                 
                                 
                                 
                                