Editorial – Quem vai pagar a conta?

Por Redação 3 min de leitura

São 1.352 pacientes na região que devem ser diretamente prejudicados com o bloqueio de marcação de exames e consultas através da rede municipal de Curitiba. O número de pacientes na fila de espera do sistema municipal da capital foi revelado na sexta-feira (15) pela 4ª Regional de Saúde. Eles devem se juntar agora aos outros mais de 11 mil pacientes que esperam uma vaga na rede estadual.

A situação apresentada durante reunião na Amcespar é o resultado de vários anos em que não houve um investimento forte na região na área da saúde pública. Alguns investimentos foram realizados, mas eles não conseguiram suprir a grande demanda que há. E esta não é uma situação apenas dos municípios da região Centro Sul, mas sim, de vários municípios brasileiros, que têm que pagar pela falta de investimento em média e alta complexidade.

30% de consultas da rede municipal de Curitiba eramutilizadas por cidades de todo o estado, que usavam essas vagas para conseguir especialidades que não eram oferecidas em suas regionais, ou em suas referências. Assim, a rede municipal da Capital era um tapa-buraco para uma defasagem estadual.

Na região, como em outros locais, os municípios se uniram em consórcio para conseguir mais vagas. Contudo, ao invés de saírem de um orçamento federal ou estadual, os recursos saem dos caixas municipais que não conseguem fazer outros investimentos nos municípios.

A realidade é que o estado precisa descentralizar os atendimentos. Nem tudo precisa ser feito em Curitiba. Nem todo paciente precisa viajar para fazer um exame em cada especialidade. E essa necessidade é de conhecimento do novo secretário Estadual de Saúde, Beto Preto, que a citou em entrevista à Gazeta do Povo no início deste ano, reafirmando uma promessa de campanha de criar uma macrorregional dos Campos Gerais.Na reunião de sexta-feira, essa necessidade foi abordada pelos técnicos que pediram aos municípios a repactuação de serviços em suas localidades, com a perspectiva de aumentar a oferta na região.

Contudo, como os secretários salientaram, esta questão esbarra na chamada Tabela SUS, uma tabela de preços usada pelo Governo Federal para enviar recursos e que é totalmente fora da realidade do mercado de saúde. Para tornar mais atrativa a oferta, muitos municípios colocam o próprio dinheiro junto aos preços para chamar profissionais, que estão nos grandes centros por causa da infraestrutura hospitalar que é maior.Entretanto, muitos municípios não têm mais recursos para aumentar a oferta, logo permanecem sem estrutura e sem profissionais. Então,acabam agindo apenas apagando incêndios que acontecem nesta área.

No caso dos bloqueios, os municípios já fizeram sua parte e pediram ajuda ao Estado. Não há mais escapatória. As novas gestões do Governo Estadual e Federal devem lidar com o saldo de anos de descaso de outros governos e começar a investir, especialmente, na média complexidade, de modo a ajudar a aliviar os caixas dos municípios, que hoje são os que mais sofrem.