O cuidado que não tira férias nem no Natal

Enquanto a maioria celebra, há profissionais que trocam a ceia em família pela missão de proteger e cuidar, fazendo do seu trabalho uma forma de expressar amor e dedicação à comunidade
O Natal é sinônimo de mesa farta, abraços apertados e luzes acesas, mas para uma parcela essencial de profissionais, a data significa vestir o uniforme e garantir que a festa de todos possa acontecer em segurança. São pessoas que trocam o convívio familiar pelo posto de serviço, zelando pela vida e pelo patrimônio da comunidade.
Sejam policiais militares nas ruas, garantindo a ordem, médicos e enfermeiros nos hospitais cuidando da saúde; vigilantes protegendo estabelecimentos e condomínios e vários operadores de serviço essencial que mantém o abastecimento das cidades. A dedicação desses profissionais é o alicerce silencioso da celebração em datas especiais. Eles vivem o contraste entre a alegria coletiva e a reflexão solitária, uma missão que se intensifica justamente quando o mundo para.
Para Sidinelson Chami, bombeiro há 14 anos, o sacrifício de estar longe do lar se tornou parte da vocação. Ele acompanha de longe a união da família, que se reúne para a ceia e o amigo secreto. “É complicado expressar o sentimento de não poder estar ao lado de quem amamos. Muitas vezes, bate a tristeza de não estar perto, mas também, compreendo que muitas pessoas precisam do meu serviço se necessário”, afirma Chami.
O bombeiro revela que, desde seu ingresso na corporação, passou apenas cinco natais com os familiares, seja pela escala de serviço ou pelo voluntariado em operações de verão no litoral. No entanto, o dever fala mais alto. “Apesar dos sacrifícios, sinto muito orgulho e felicidade por poder ajudar e salvar vidas”. Fazer a diferença na vida das pessoas lhe garante um conforto maior ao coração. E esse conforto é compartilhado no quartel, onde sempre ocorre a celebração da ceia de Natal entre os companheiros de serviço.

No setor de saúde, a biomédica Deise Gavronski, plantonista em um laboratório de análises clínicas há nove meses, também lida com o peso de se ausentar da ceia. “Não é fácil não poder estar presente em momentos especiais, a saudade existe, a vontade de estar junto também”, explica Deise, que mora com o companheiro e valoriza o tempo simples e carinhoso que costuma ter com a família.
No laboratório, apesar de não haver celebração especial, o clima muda. “Há mais união entre os colegas e pequenos gestos que tornam o dia mais leve,” observa a biomédica.
Deise entende a dificuldade de sua ausência, mas encontra satisfação em seu ofício. “Minha família compreende, sabendo que o plantão e minha profissão também são uma forma de cuidar das pessoas”. Ela conclui que, apesar da distância, existe orgulho e satisfação em saber que seu trabalho contribui para o diagnóstico de muitas pessoas – um cuidado fundamental que não pode tirar folga.

O vigilante e segurança Adriano Sant Anna Moreira, com quase 20 anos de experiência, reflete sobre a satisfação de ter servido a comunidade em anos anteriores. “Sempre gostei de trabalhar com o público, me sinto muito bem e realizado fazendo o que realmente amo”, declara.
Adriano, que é casado há 12 anos e planeja ter filhos em breve, terá a chance de passar o Natal e o Ano Novo em casa com sua esposa nesse ano. No entanto, a lembrança dos plantões passados é um motivo de orgulho. “A sensação de trabalhar nessas datas especiais me faz ter a certeza que meu trabalho está sendo desempenhado com muito amor e dedicação”. Para o vigilante, as amizades conquistadas ao longo desses anos não têm preço e o sentimento de orgulho da profissão o invade cada dia mais.
A dedicação desses profissionais, que colocam o bem-estar da comunidade acima de seu próprio conforto, é um lembrete de que o espírito do Natal reside, em sua essência, no cuidado mútuo. A gratidão da comunidade é, afinal, o maior presente que eles recebem por trocar momentos em família para servir a comunidade.
Fernanda Hraber

