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Falta de transporte público compromete acesso à educação no IFPR de Irati

15/03/2024

Falta de transporte público compromete acesso à educação no IFPR de Irati

A inexistência de uma rota do transporte coletivo para o Instituto Federal do Paraná (IFPR) em Irati reflete no acesso à educação de muitos alunos do município. A ausência de uma linha de ônibus nos horários de início das aulas (nos períodos da manhã, tarde e noite) tem levado estudantes a enfrentarem dificuldades financeiras e logísticas para frequentarem as aulas, impactando não apenas sua frequência, mas também sua participação em atividades extracurriculares essenciais. A diretora-geral do IFPR Campus Irati, Patrícia Elisabel Bento Tiuman afirma reconhecer este problema e, com isso, a instituição realizou uma pesquisa com os alunos para tentar retomar o diálogo com a prefeitura municipal e a empresa de ônibus Transiratiense neste ano

A falta de uma linha de ônibus do transporte coletivo municipal que leve até o Instituto Federal do Paraná (IFPR), situado na Vila Matilde, em Irati, tem sido uma barreira para muitos alunos que não têm veículo próprio ou condições de pagar pelo transporte fretado, levantando preocupações sobre o acesso à educação para muitos iratienses.

Emanuelle Rocetim conta que a falta de opção acessível de transporte a levou a desistir de um curso de Agroecologia na instituição há alguns anos. “Eu chorei tanto na época. Não era fácil isso não, eu acordava mais cedo para ir a pé, morava com meu pai na rua Rui Barbosa, no Centro, e ia até a Vila Matilde a pé todo dia. Naquele tempo, a van já não era barata e ainda tinha que pagar outras coisas do dia a dia”, lembra.

Com um trajeto de aproximadamente 8 km, considerando a ida e a volta, além dos perigos enfrentados durante o caminho, Emanuelle optou por desistir do curso. “Eu acordava super cedo para ir andando, muitas vezes no frio, na chuva, com a mochila pesada, ia sozinha, era até mais perigoso, tinha que atravessar a rodovia e por isso aguentei poucos meses assim. Eu era super dedicada, gostava da instituição, da infraestrutura, dos meus amigos. É triste não poder fazer o que gosta por falta de apoio”, comenta.

Juliana Gomes tem um filho que estuda no IFPR no mesmo curso que Emanuelle frequentava. Ela conta que a única alternativa que encontrou para que ele pudesse continuar os estudos foi através da contratação de uma van. “O Matheus vai de van. Com toda certeza se tivesse uma linha de ônibus facilitaria. Graças a Deus nós conseguimos pagar, mas eu já conheci alunos que passaram no IFPR e não foram estudar lá porque não tinham como ir. Então se tivesse transporte público, eles com certeza utilizariam”, avalia.

Um ex-bolsista do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), que preferiu não divulgar seu nome, também testemunhou a desistência de alunos devido à falta de transporte. “Teve o programa Pronatec, que Irati foi contemplado com dois ou três cursos e, por causa da distância, começou a ter uma grande desistência dos alunos ao longo do curso, mesmo eles recebendo a bolsa por hora-aula para frequentar os cursos”, conta.

Diante disso, ele relata que tomou a iniciativa de oferecer caronas para evitar desistências. “Eu comecei a perceber a desistência, os alunos realmente falavam na aula porque era difícil para eles estarem indo com chuva, muitos iam a pé. Quando eu estava indo, às vezes via eles na rua e comecei a oferecer carona para os que eu conseguia, que era meu caminho, e aconselhei a outros a fazerem a mesma coisa para que os poucos que ficaram no curso não desistissem”, destaca.

Problema antigo

A diretora-geral do Instituto Federal do Paraná Campus Irati, Patrícia Elisabel Bento Tiuman, que assumiu neste ano, diz reconhecer que o problema da falta de um serviço de transporte público que leve os alunos até o local é antigo e que precisa de uma solução. Ela conta que em anos anteriores, o debate sobre a implantação de linhas de ônibus até o local precisava respeitar alguns critérios, como por exemplo, ter a via de acesso pavimentada. “Teve vários momentos em que a direção anterior dialogou com a prefeitura, e até com a Transiratiense, para conseguir ter quem atendesse o IFPR. Naquela época, que foi pré-pandemia, a gente tinha vários problemas. Um deles era com relação ao asfalto da Vila Matilde, era paralelepípedo, mas isso já foi resolvido, e logo que foi resolvido tudo isso, veio pandemia”, conta Patrícia.

Ela revela que existem planos para abordar a questão do transporte dos alunos do IFPR em Irati, indicando uma retomada dos diálogos com a Transiratiense – empresa que tem a concessão para realizar o transporte coletivo público municipal de Irati – e a prefeitura. “Ficou de a gente novamente entrar em contato, seja com a Transiratiense ou com a prefeitura, para pensar em alternativa para o transporte dos nossos estudantes. Só que isso é algo que a gente pretende fazer nesse ano”, afirma.

Alunos são prejudicados

A nova diretora-geral do IFPR de Irati ressalta que a falta de transporte não afeta apenas a frequência dos alunos às aulas, mas também compromete a participação deles em atividades extracurriculares essenciais, como aulas em contraturno, atendimento ao aluno e projetos diversos. “Isso é algo que acaba interferindo também em outras atividades do IFPR. Nós temos aulas em contraturno, atendimento ao aluno, diversos projetos que os alunos podem participar no contraturno da aula deles, mas que na maioria das vezes eles não conseguem participar porque eles não têm transporte para vir para o campus”, explica Patrícia.

Segundo ela, alguns alunos recebem uma bolsa de assistência estudantil em dinheiro, destinada a ajudar nos custos gerais do cotidiano, o que pode abranger despesas com transporte. No entanto, nem todos são atendidos pelo programa e o valor não ultrapassa os R$ 360 para os que recebem. “O que nós temos são alguns programas de bolsa de auxílio estudantil, então a gente consegue, no caso ali dos alunos que têm maior vulnerabilidade, de acordo com o orçamento que é disponibilizado, atender alguns estudantes com uma bolsa”, conta. Mas ela acrescenta que as bolsas são insuficientes, porque  “cerca de 80% das nossas vagas são de inclusão, e aí a gente não consegue atender todos esses estudantes”, revela.

Pesquisa para a retomada do diálogo 

Nesta semana,  a direção do IFPR aplicou um formulário para os alunos com o objetivo de coletar dados sobre a quantidade de estudantes e suas origens geográficas para obter uma compreensão abrangente das necessidades de transporte, principalmente dos que residem em Irati. De acordo com a diretora, a maioria dos alunos que frequentam a instituição utilizam a van como meio de transporte.

“Organizamos a nossa pesquisa para conseguir determinar qual é o horário que esse aluno frequenta o IFPR, qual bairro do município ele mora e dos municípios da região também, se ele mora em algum outro município. O nosso objetivo, a partir disso, é iniciar ou retomar um diálogo que tinha sido feito em anos anteriores com a Prefeitura Municipal de Irati e com a Transiratiense para verificar se há essa possibilidade de ampliar o número de linhas”, explica a diretora-geral Patrícia Elisabel Bento Tiuman.

Além de alunos de Irati, o campus recebe estudantes de cidades da região como Mallet, Rio Azul, Rebouças, Teixeira Soares e Imbituva.

A pesquisa obteve a resposta de 296 alunos. Destes, 192 são estudantes do turno da manhã; 73 do período da tarde; e 31 do período noturno. Entre as respostas obtidas com a pesquisa, 64,9% afirmaram precisar utilizar van para chegar até à instituição e 12,8% utilizam veículo próprio. Com isso, a pesquisa revelou também que 43,2% destes estudantes gastam de R$ 200 a R$ 300 mensais para se deslocar até o IFPR; já outros 22% dos que responderam à pesquisa chegam a gastar até R$ 500 por mês.

“O gasto com esse transporte também é algo expressivo, mesmo para aqueles que utilizam carro próprio. É importante destacar que apenas 19,6% dos entrevistados recebem alguma bolsa ou auxílio financeiro do IFPR, devido à falta de disponibilidade orçamentária”, disse a coordenadora de pesquisa e extensão do IFPR campus Irati, Laynara dos Reis Santos Zontini.

Além da implementação de uma linha do transporte público até a instituição, a direção acredita que seriam necessários subsídios para reduzir o custo das tarifas do transporte coletivo, assim como ocorre para alunos da Unicentro.

“Outro fator que a gente precisa batalhar também aí para conseguir uma forma de subsídio para os nossos alunos, porque a grande maioria está em vulnerabilidade social, então a gente precisaria também ter uma redução no valor dessa tarifa, mas primeiro nós precisamos ter esses dados para daí entrar em contato tanto com a Transiratiense quanto com a prefeitura para verificar essa viabilidade”, complementa.

Servidores também são impactados

O campus do IFPR de Irati funciona das 7h10h da até as 22h45. Outro aspecto relacionado à falta de transporte para o campus, mencionado pela diretora, é que a maioria dos servidores utiliza veículos particulares devido à ausência de uma linha de ônibus que atenda às necessidades do IFPR. “Outro fator também é que a maioria dos servidores que nós temos ali no campus, utilizam carro próprio, porque não tem uma linha de ônibus que atenda o campus. Então, se tivesse linhas da Transiratiense que chegasse até o campus, de acordo com os nossos horários de trabalho, isso iria ser muito bom para o bairro, mas também seria muito bom para o IFPR”, diz Patrícia.

Futuro incerto

Procurada pela reportagem do Jornal Hoje Centro Sul para falar sobre o assunto, a Prefeitura Municipal de Irati informou que solicitou esclarecimentos da empresa de transporte público Transiratiense sobre este e outros itinerários solicitados pela gestão e aguarda o posicionamento da empresa.

Por sua vez, a gerência da Transiratiense não respondeu os questionamentos sobre como estão as tratativas para a implementação de uma linha de ônibus até o Instituto Federal do Paraná.

Sobram vagas no IFPR de Irati

Nos últimos anos tem sobrado vagas nos cursos superiores gratuitos oferecidos pelo IFPR de Irati. Em 2024, o IFPR campus Irati realizou no dia 19 de fevereiro um Sorteio Público de vagas.

Ao todo, foram disponibilizadas 14 vagas do curso de Bacharelado em Agronomia matutino e 34 vagas do curso de licenciatura em Química noturno.

Qualquer pessoa, mesmo que não tenha participado do processo seletivo, pôde concorrer a uma vaga por meio do Sorteio Público, desde que respeitasse as exigências legais para cada forma de oferta e nível de ensino.

Texto/Fotos: Lenon Diego Gauron/Hoje Centro Sul

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