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Saúde mental é imprescindível para superar a pandemia do coronavírus

27/03/2020

Saúde mental é imprescindível para superar a pandemia do coronavírus

O dia a dia das pessoas no mundo inteiro sofreu mudanças radicais devido à pandemia da doença COVID-19, coronavíus. Restritas ao espaço de suas casas – em Irati, Teixeira Soares, Inácio Martins, Curitiba, São Paulo, Nova Iorque, Paris, Roma, enfim, no mundo inteiro –, as pessoas têm ainda que administrar o medo da doença, os conflitos familiares e a ansiedade quanto ao futuro.  Com isso, muitos acabam ficando em estado de alerta permanente, o que traz prejuízos à saúde mental e também à saúde física.

“Como nada é certo ainda em relação ao controle dessa epidemia, as pessoas se colocaram em uma ‘posição de alerta’, como se a qualquer momento ela ou algum ente querido fossem pegar o vírus. Para o ansioso, que já costuma sofrer antecipadamente por coisas que nem vão acontecer, essa é a pior situação que poderia existir. Sem perceber, ele vai ficando cada vez mais preocupado, podendo chegar até a um estado de paranoia, trazendo um sofrimento indescritível”, alerta o médico psiquiatra Lucas Batistela, que atua em Irati.

Ele conta que alguns de seus pacientes que já estavam bem psicologicamente, voltaram a ter fortes crises de pânico. Além disso, a pandemia tem efeitos nocivos sobre a saúde mental das pessoas que não precisavam de auxílio médico ou psicológico periódico, sobretudo, devido à elevação dos níveis de estresse.  E isso pode prejudicar a saúde física também, alerta o médico.  

“Esse sentimento de preocupação e medo não é só uma questão psicológica, quando a mente trabalha nesse nível de estresse todo o corpo sofre muitas alterações em níveis endócrinos e metabólicos, libera agentes tóxicos e radicais livres em excesso, que muitas vezes podem propiciar o surgimento de doenças que a pessoa nunca iria ter”, explica Lucas Batistela.

Manter a serenidade é uma das principais recomendações para superar, com saúde, este momento de pandemia, de acordo com o médico psiquiatra Marcelo Niel, doutor em Ciências pela Unifesp.  “Todos ao redor do mundo estão – ou estarão– submetidos a esse novo modo de viver que exige uma série de adaptações e transformações que parecem, em um primeiro momento, impossíveis de serem realizadas, mas não são. As pessoas são diferentes e reagem de modos únicos frente a desafios e situações-limite. Entretanto, a História da Humanidade mostra que sim, somos e seremos capazes de lidar com o rigor que a situação impõe, se soubermos manter a serenidade”, diz.

Pensamento

O médico Lucas Batistela sugere que a racionalidade seja trabalhada neste período de pandemia, assim como os bons pensamentos. “Por pior que seja a situação pensar positivo, acredite que tudo vai dar certo, que no Brasil a coisa não vai chegar aquele caos que está lá fora, e que se chegar você e sua família estarão seguros. Trabalhe mais o lado racional que o emocional, se você está tomando todas as medidas de segurança (ficar em casa, lavar as mãos, etc..) dificilmente você contrairá o vírus”, comenta.

O médico Marcelo Niel lembra que ficar em casa, protegido do vírus é um privilégio. “Você que está podendo permanecer confinado e não se expondo a riscos a todo o tempo, como é o caso dos profissionais de saúde e de pessoas que são obrigadas a sair às ruas por uma questão de sobrevivência, seja grato. Compreenda que você está inserido num sistema de privilégios do qual muitas pessoas não fazem parte”, ressalta.

Primeiros dias fechados em casa

Na região Centro Sul, vivemos os primeiros dias de confinamento.  Observamos que a maioria das pessoas tem aproveitado o tempo livre para colocar em dia as tarefas domésticas, como a limpeza do quintal ou a pintura da casa.

Lucas Batistela explica que isso é comum nesta primeira fase de confinamento. “A maioria de nós vive num ritmo muito acelerado de trabalho, afazeres, metas, obrigações. Quando damos uma parada assim, a primeira sensação é aquele alívio físico e psicológico, conseguimos colocar em dia muitas daquelas coisas que vamos deixando sem fazer em casa (limpar quintal, arrumar o quarto, etc..), que são coisas que às vezes mesmo que pequenas, também tiram nossa paz. Inconscientemente você sabe que precisava fazer e não estava conseguindo, então o alivio é muito grande por conseguir finalizá-las”, comenta o médico psiquiatra.

Entretanto, após esta satisfação, esta sensação de dever cumprido,  a mente volta ao estado de inquietude. “Sua mente que é acostumada aquele ritmo acelerado fica ociosa precisando de alguma ‘tarefa para cumprir’, se você não conseguir dar uma ‘função’ a ela, a mente vai começar trabalhar em cima de algo, daí como diz o ditado ‘mente vazia oficina do ...’

Dificuldades do confinamento

Irritabilidade, desânimo, tristeza. Estes são alguns dos sentimentos que podem surgir depois de cumpridas as pequenas tarefas domésticas que, inconscientemente, incomodavam.

“O tédio, a irritação e o estresse chegarão para todos, não importa se sozinhos ou acompanhados. Do mesmo modo, o importante é desviar o foco da irritação com uma outra atividade: ouvir uma música, tomar um banho, respirar fundo. Se você está confinado com outras pessoas, não tenha vergonha e nem receio de se afastar um pouco. Vá descansar, respeite sua necessidade de espaço, mude de ambiente”, orienta  o médico psiquiatra Marcelo Niel.

Esta atitude de afastamento e de respeito dos próprios sentimentos e necessidades pode evitar problemas maiores como brigas, violência doméstica e divórcios, dentre outros problemas.  Isto porque as dificuldades de convivência se evidenciam quando as famílias têm que permanecer juntas por longos períodos de tempo, ininterruptos, explica o médico psiquiatra.

“O confinamento em grupo, sobretudo em família, nos coloca frente a frente com as dificuldades de convivência que conseguimos driblar ou evitar quando a rotina está normalizada: aquele irmão ‘chato’, aquela avó ‘crica’, aquele pai cheio de ‘manias’ e isso pode fazer com que os ânimos se exaltem ainda mais”, comenta Marcelo Niel.

Tecnologia aliada e inimiga

Por um lado é preciso estar bem informado, pois as medidas de enfrentamento ao coronavírus mudam dia após dia. Por outro, o excesso de informações gera estresse e as fake news (notícias falsas) são responsáveis pelo pânico entre as pessoas.  

O médico psiquiatra Marcelo Niel recomenda que se evite o compartilhamento de mensagens sobre o coronavírus.  “O acesso à tecnologia, que se tornou essencial para nós e com potencial para ser nossa aliada, tem se tornado nossa inimiga. Evite compartilhar todo tipo de mensagem falando sobre a pandemia, sobre métodos de proteção, desinfecção e, mais ainda, mensagens de pânico, relatos de pessoas que estão fora no Brasil, porque isso só contribui para aumentar nosso medo frente a algo que não temos controle, além das medidas de prevenção já conhecidas e difundidas. Isso não significa que devemos permanecer alienados: escolha uma fonte de informação para se atualizar durante um curto período do dia, uma única vez já é suficiente”, afirma.

O médico psiquiatra Lucas Batistela também sugere que se evite utilizar a tecnologia para ter uma sobrecarga de notícias ruins.  “Que adianta você saber quantas pessoas morreram em país X ou Y, quantas pessoas estão infectadas no Brasil? Tudo isso está deixando a população cada vez mais em pânico. Foque sobre o que anda acontecendo na tua casa, em como estão seus parentes, em como vocês podem se prevenir e distrair a mente”, orienta.

Uma das possibilidades da tecnologia ser uma aliada para o equilíbrio mental é utilizá-la para estar em contato com amigos e familiares com os quais não é possível ter contato pessoalmente.

“Use a tecnologia a seu favor: chame pessoas para conversar, faça chamadas de vídeo, conecte-se com as pessoas. Muita gente tem aproveitado o momento para propor atividades em grupo através das mídias sociais: cantar, rezar, bater papo, realizar discussões teóricas em áreas de seu interesse. Seja generoso: chame pessoas para conversar, mande um recadinho para aquela pessoa que você sabe que está sozinha e tem maior potencial de ‘pirar’”, sugere Marcelo Niel.

Outras atividades em casa

Resgatar hobbies do passado, descobrir novas atividades, se exercitar, jogar jogos de tabuleiros e estudar são outras sugestões do que é possível fazer sem sair de casa. “Ao invés de ficar nas redes sociais, aproveitem esse tempo para estudar, tem muitas plataformas disponibilizando cursos grátis, essa é uma chance imperdível para quem quer dar um gás nos estudos, organize seu dia faça uma lista de tarefas e metas para cumprir”, diz Lucas Batistela.

Outra dica do médico para manter a serenidade é: “Fortaleça tua espiritualidade, faça tuas orações, rezas, medite, nesse momento a nossa conexão com Deus e o universo são de extrema importância”, finaliza.   

Quando é preciso procurar ajuda médica ou psicológica?             

 “É muito complicado esse assunto, pois infelizmente as pessoas só procuram ajuda quando a situação já está saindo do controle, mas prestem atenção se a tua ansiedade tem piorado gradativamente, se você anda mais triste que o comum, mais irritado, não tem dormido bem, está procurando saber notícias do vírus o tempo todo, se está repassando informações sobre o surto sem analisar a fonte, se você não consegue desligar do assunto, procure ajuda!”, recomenda o médico psiquiatra Lucas Batistela.  

 

 

Texto: Letícia Torres

Foto: Pixabay

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