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Alcoolismo: Os desafios para a recuperação

No mês em que o Alcóolicos Anônimos de Irati completa 36 anos, três membros do A. A. contam sobre suas experiências e os desafios que enfrentaram no caminho para a recuperação

14/08/2019

Alcoolismo: Os desafios para a recuperação

No início do século XX, Bob era um médico alcoólatra que não conseguia encontrar uma forma de controlar o seu vício pela bebida. A cada 30 minutos, ele precisava tomar de um gole.

Certo dia, Bob conheceu Bill que tinha o mesmo problema com bebidas alcóolicas. Cansado de tentar encontrar uma solução, Bob não queria falar sobre o assunto. Deu a Bill apenas 15 minutos para falarem sobre o tema. Conversa vai, conversa vem, ficou tarde.

Nesse momento, o doutor Bob percebeu que passou a tarde toda conversando sobre alcoolismo, sem ingerir a bebida. A sua compulsão pelo álcool foi superada sem o seu conhecimento em medicina, mas sim, pela comunicação com uma pessoa que passava pela mesma dificuldade. Esse é o começo da história do surgimento dos Alcóolicos Anônimos nos Estados Unidos, em 12 de maio de 1935.

Desde então, o grupo tem se espalhado no mundo. Em Irati, o grupo de Alcóolicos Anônimos (A.A.) completa 36 anos na próxima quarta-feira, 14 de agosto.

A busca pelo tratamento é um desafio, já que o alcoolismo gera um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após o uso repetido de álcool. Alguns dos sintomas são: o forte desejo de beber, dificuldade de controlar o consumo, maior uso da bebida em detrimento de outras obrigações, entre outros.

Para compartilhar sobre como é a recuperação, três frequentadores do A.A. aceitaram contar suas experiências, sob a condição de anonimato. O entrevistado 1, entrevistado 2 e entrevistado 3 relatam como vivenciaram a aceitação do vício e os desafios para sua recuperação.

 “Ninguém diz você é alcoólatra. A maneira de beber de cada um evolui ao longo do tempo. Alcoolismo é uma doença progressiva, a tendência de quem faz o uso do álcool é aumentar a quantidade, substituir a bebida mais fraca por uma mais forte e a dosagem sempre aumentando. Chega um determinado ponto que você perde o controle sobre sua vontade de beber, a partir desse momento o álcool se torna dependência”, explica o entrevistado 1.

O entrevistado 2 reforça e acrescenta que o alcoolismo é uma doença. “Quando você começa a apresentar problemas por causa do álcool você já deixou de ser um bebedor social e se tornou um dependente do álcool”, disse.

Após adquirido o vício, o tratamento deve ser contínuo. A única forma de se combater o alcoolismo é deixando de ingerir as bebidas. “Uma vez alcoólatra sempre alcoólatra. Uma vez que você não faz o uso do álcool você está imune à doença. A partir do momento que você tomou o primeiro gole, você terá todos os problemas que você já teve, independente de quanto tempo que você já não bebe mais. Estamos sóbrios há vários anos e mesmo assim continuamos sendo alcoólatras”, explicou o entrevistado 3.

Apadrinhamento

No início do Alcoólicos Anônimos, uma ficha telefônica era entregue para o membro guardar com o propósito de pedir ajuda, caso sentisse vontade de beber. Com o avanço tecnológico e a chegada da internet, o uso das fichas se tornou desnecessário para fazer a comunicação, porém foi adaptada como um símbolo dentro da irmandade. “Quando a pessoa ingressa damos uma ficha para simbolizar a união e apoio. Conforme o tempo de recuperação do alcoólatra, essa ficha é substituída. No começo a cada 3 meses ele vai pegar uma ficha de cor diferente, depois do primeiro ano, é uma a cada ano”, conta o entrevistado 3.

Um dos problemas enfrentados pelos alcoólatras é a dependência psicológica e a compulsão, assim como na história contada no início da matéria. A recuperação é feita através da partilha do mesmo problema entre seus membros. “O programa nos ensina a conviver com a doença sem que ela nos atinja como antes. Nós aprendemos a controlar a compulsão, que é a necessidade de fazer o uso do álcool. Não é só parar de beber, a proposta do A.A. inclui uma reformulação do caráter do indivíduo. O programa ensina o indivíduo através de 12 passos a reestruturar a vida dele, seja familiar, social, a moral, passa a aprender a reconhecer suas falhas”, conta o entrevistado 1.

O apoio psicológico é a principal forma de combater o vício. “Quando a pessoa ingressa no grupo, ele escolhe um companheiro para ser seu padrinho. A função do padrinho é acompanhar ele dentro do processo de ingresso na irmandade, se ele sentir vontade de beber vai procurar o padrinho”, explica o entrevistado 2.

Vício cultural

O que leva muitos ao vício da bebida é o convívio social, sobretudo quando o uso da bebida é estimulado. “Se você sai em uma reunião de amigos e todo mundo está tomando a cerveja e você não toma, vão dizer que você é careta. Então de certa forma a sociedade te exclui, aí você entra na dança, quando percebe se torna alcoólatra e nem sabe disso, aí o meio aonde você está inserido acaba te conduzindo a isso”, disse o entrevistado 1.

O Alcoólicos Anônimos tem como lema evitar o primeiro gole. A curiosidade pela bebida também pode acabar desencadeando o vício. “O meu pai era alcoólatra. Eu comecei [a beber] trabalhando junto com ele no interior. O costume era levar um litro de cachaça para tomar.  E eu comecei a experimentar. A partir de um certo momento - indo em festas também -, fui acostumando e progredindo. No começo tomava um gole, amanhã já tomava dois, quando percebi já tomava dois litros por dia e passava a noite bebendo”, conta o entrevistado 2.

Para alguns, o vício surge através das comemorações. “O alcoolismo também começa com reuniões de família, no Natal, Ano Novo. Eu com 12 anos já estava bebendo com a família. Criei um problema e foi se acentuando. Depois tinha certas reuniões que começavam bem e com o uso da bebida terminava em violência”, disse o entrevistado 3.

Problema social

A não aceitação do vício desencadeia diversos problemas sociais como agressões físicas e a imprudência no trânsito. “O alcoólatra que tem que admitir o problema. Uma característica do alcoolismo é a teimosia, o dependente vai negar que tem a doença porque ele não aceita. A não aceitação leva a diversos problemas como a agressão depois do uso do álcool. A pessoa se torna imprudente, bebe e dirige, perde o controle emocional. Os efeitos são os mais variados possíveis”, conta o entrevistado 2.

E é comum, em muitos casos, que o alcoólatra acabe sendo isolado, sofrendo preconceito, ao invés de receber ajuda de amigos e familiares para  se recuperar. “A partir do momento que você deixou de ser um bebedor social e passou a ser um bebedor problema, ninguém gostar de ficar perto de você. Uma pessoa alcoolizada dentro de uma reunião social incomoda. A pessoa começa a ser excluída dentro da própria família. As pessoas começam a fazer as coisas e não te convidam mais, porque você bebe e parte para a agressão ou fica chato demais e causa problemas. Te ensinam a entrar, depois que você entra e perde o controle, querem que você saia. Para ajudar depois são muito poucas as pessoas”, explica o entrevistado 1.

A.A. completa 36 anos

No último sábado (10) uma reunião comemorou o 36º aniversário do grupo Alcoólicos Anônimos na Paróquia São Miguel. A reunião contou com a entrega de fichas de abstinência para membros, incluindo membros que completam 30 anos de participação.

As reuniões do A.A. acontecem todas as quartas-feiras às 20h e aos sábados às 16h na Paróquia São Miguel. Na Paróquia Perpétuo Socorro as reuniões acontecem nas quintas às 20h. Todas as reuniões são abertas à comunidade e gratuitas.

Texto: Da Redação/ Hoje Centro Sul

Foto: Divulgação

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