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Memória: Relatos sobre a evolução de Irati são feitos por moradores

17/07/2019

Memória: Relatos sobre a evolução de Irati são feitos por moradores

Ao longo de 112 anos de história, Irati cresceu, evoluiu e teve diversas conquistas. Contudo, a cidade também fez parte da história de diversas famílias descendentes de imigrantes que construíram o que hoje é Irati.

Um deles é José Emiliano de Morais, que hoje está com 91 anos. Natural de Irati, ele nasceu e cresceu na localidade do Pinho de Baixo, local onde viveu até seus 35 anos. Ele conta que se lembra como era Irati em sua infância. “Quando eu era criança, mais ou menos em 1930, havia apenas 4 farmácias no que era o início da cidade”, diz.

Já na adolescência, José relata que poucas famílias viviam no Pinho de Baixo nos anos 40. A distância entre as casas eram de quilômetros. “A distância de uma casa para outra era de quilômetros, entre isso apenas mato. Para vir na cidade não existia estrada, só tinham carreiros, que eram abertos por cargueiros, de carroças. Não tinha como vim para cá e voltar no dia por conta disso. Aproveitávamos para trazer mercadorias para vender na cidade”, relata.

Saúde

Com as dificuldades de transporte, as localidades viviam isoladas, sem muito apoio governamental. As comunidades eram basicamente voltadas à agricultura e à pecuária. Acesso à saúde, por exemplo, dependia de outras formas de cuidados.

“Na época, só tinham curandeiros e espiritistas. Não existiam médicos. O mais próximo ficava a 3,5 léguas [aproximadamente 17 km], na cidade de Imbituva. Mas as pessoas tinham medo de médicos, achavam que iriam terminar de matar [os doentes]. O povo preferia morrer tomando o chá, do que ir ao médico. Eram pessoas sem experiência de vida, por isso tinham medo do desconhecido”, ressalta.

Segundo José, as pessoas morriam muito jovens por doenças que hoje curamos facilmente. “Saí do Pinho com 35 anos por causa de saúde, minha primeira esposa faleceu depois de 20 dias que viemos para Irati. As pessoas morriam e nem sabiam do quê, pois não tinha médico na cidade. Muitas vezes eram coisas simples”, conta.

A busca pela saúde também foi motivo da vinda a Irati de Valdomiro Bulka, 77 anos, que vive há mais de 50 anos na cidade de Irati. Ele veio para o município ainda adolescente, após uma meningite ter o afastado no campo. Na cidade de Irati foi que ele construiu sua vida: casou, teve filhos, trabalhou e vive sua aposentadoria.

Comércio

Foi no comércio que Valdomiro viu as principais transformações. Ele conta que antigamente o comércio de Irati tinha poucas lojas. “Era só Casa Choma, Casa Nova, Casa Paraná, Imperador. Em Rio Bonito não tinha nenhuma loja. Aqui na 19 de dezembro, tinha a casa Ione, antiga, mas tinha algumas, a Danuta, tinha um casarão. Depois, para frente, era a Trento. O Cavalin Bora também era coisa pequena e Stroparo também”, conta.

José Emiliano também viu a evolução da cidade, mesmo por dificuldades políticas. “Outros mercados conseguiram crescer. Como por exemplo, os Ivasko que começaram com uma bodega na época, e também a AZF. Temos que agradecer a eles, pois foi daí que começou a gerar empregos e desenvolver a cidade”, finaliza.

Já por volta de 1970, Valdomiro começou a atuar no ramo do comércio e viu que havia uma demanda por novos produtos. Assim decidiu ir a São Paulo para trazer novidades. “Todo mês nos íamos para São Paulo e trazíamos novidades”, relata. Ele especializou-se na linha de roupas, mas ao longo do tempo também trouxe perfumes e moda íntima.

A busca por novidades era grande e os clientes procuravam a loja ainda cedo para ver os novos produtos. “Eu sei que quando vinha de São Paulo trazer mercadoria, antes das 6h, nós descarregamos para dentro, nós tínhamos que fechar para conferir, para começar a vender. Pelas 7h30, o pessoal passava a bater na porta querendo abrir, querendo comprar, para ver novidade, então vendia muito”, disse.

As crises econômicas brasileiras, especialmente no final da década de 1980 e começo da década de 1990, também afetaram o comércio da cidade. Valdomiro conta que sentiu os efeitos em seus negócios, depois de decidir abrir uma confecção e comprar mais um equipamento. “Aqueles tempos eram diferentes. Subia e descia. Troca de dinheiro. Eu sei que comprei máquinas de costura a base de lease e aquilo subia toda a semana, em dólar. E toda semana subia a prestação das máquinas. Na época, como se fosse hoje, se eu pagava no começo R$20, terminava em R$ 400. Não tinha o que fazer. Você não devolvia, pra vender não vendia, e você tinha que continuar. A dívida crescia.

Fusão de Etnias

Uma das características marcantes de Irati foi a reunião de diversas etnias em uma cidade. No entanto, as diferenças podiam tanto afastar como juntar as pessoas mais diversas. Isso fica evidente na religiosidade.

No Pinho de Baixo, local em que predominam descendentes de Italianos, existia apenas uma igreja que os chamados “brasileiros” – pessoas que não eram da etnia italiana - não frequentavam por receio. “No Pinho, a única coisa que tinha era a igreja dos italianos, mas os brasileiros não frequentavam. Pensavam que os italianos iriam caçoar por causa do vestuário, pois os italianos eram bem ricos e tinham boas vestimentas. Depois começamos a ir à igreja e vimos que não existia o preconceito, eram apenas pensamentos errados”, explica José Emiliano.

Além disso, a comunicação em diferentes línguas também causava receio na localidade. “O povo tinha muito receio naquela época, sempre que ouviam alguém conversando em outra língua achavam que estava sendo xingados”, comenta.

Já para Valdomiro, frequentar a igreja ucraniana se tornou um hábito que leva até hoje. Ele conta que sua família sempre frequentou a igreja ucraniana. “Eles [filhos] foram batizados, crismados, catequese, primeira comunhão, eles fizeram tudo isso na igreja ucraniana”, conta.

Lá também viu a instituição crescer e se desenvolver, participando das atividades até hoje. “Comando o terço dos homens – não é ucraniano, mas é na igreja ucraniana”, explica.

Mas ele também viu transformações ao longo do tempo. Para ele, essa transformação da igreja ucraniana foi muito positiva, mas a dificuldade em desenvolver e passar a língua para as novas gerações é algo que chama sua atenção. “A língua são poucos que falam. Mesmo o padre, se vai conversar com o padre em português. Ele reza a missa aos domingos em ucraniano e sábado reza a missa em português. Mesmo no domingo, o sermão é em português. Muitos que estão assistindo têm 60% que não fala quase, só assiste, porque se criaram lá”, detalha.

Política

O aspecto político também foi comentado por José Emiliano. Ele lembra que muitas pessoas acabaram vindo a Irati para participar dos antigos comícios. “O pessoal vinha de todas as partes em caminhões fazendo a festa para as eleições, mas era pela comida e pela curiosidade que o povo se reunia, não pelas eleições”, explica.

A interferência política também influenciou o desenvolvimento de indústrias na cidade. José Emiliano conta que se lembra quando houve interferência para que não houvesse competição em industrias como serrarias e olarias. Segundo ele, por interferência política, muitas acabaram fechando ou indo para outras regiões. “Lembro que na época uma fábrica de lápis que queria vir para Irati acabou desistindo e tentando em Fernandes Pinheiro”, disse.

Texto: Karin Franco e Jonas Stefanechen

Fotos: Arquivo Pessoal , Jonas Stefanechen/Hoje Centro Sul 

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