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Região consumiu 12,8 milhões de quilos de agrotóxicos em 5 anos, o que gera preocupação

28/06/2019

Região consumiu 12,8 milhões de quilos de agrotóxicos em 5 anos, o que gera preocupação

De 2012 a 2017, a região Centro Sul consumiu 12,8 milhões de quilos de agrotóxicos de acordo com o Sistema de Monitoramento, Comércio e Uso dos Agrotóxicos no Estado do Paraná (Siagro). Somente em 2017, o consumo foi de 2,4 milhões de quilos e, levado em conta a quantidade de habitantes da região, seria o equivalente a 14 quilos de agrotóxicos por pessoa.

O alto consumo faz com que Irati, Teixeira Soares e Palmeira estejam entre os 50 municípios do Paraná que mais consumiram agrotóxicos de 2012 a 2017. No ranking, Palmeira aparece em 10º lugar, Teixeira Soares em 39º lugar e Irati em 49º lugar.

Os dados são do Sistema de Monitoramento, Comércio e Uso dos Agrotóxicos no Estado do Paraná (Siagro), através da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) e foram apresentados em uma audiência pública na última quarta-feira (19), na Câmara Municipal de Irati, que contou com a presença de um grande público, que lotou o espaço.

A audiência pública foi promovida pelo Ministério Público do Paraná (MP/PR), através do Fórum Estadual de Combate aos Agrotóxicos, Associação Paranaense dos Expostos ao Amianto (Apreaa) e Observatório do Amianto.

Durante sua palestra, a procuradora regional do Trabalho em Curitiba, Margaret Matos de Carvalho, destacou o consumo de agrotóxicos e os riscos que podem trazer à saúde.

Segundo a procuradora, o Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos no mundo e o estado do Paraná é o segundo maior consumidor. “O risco não é só de quem está trabalhando com agrotóxicos, o risco também é de toda a população que consome alimento contaminado, que consome água contaminada, até a água da chuva os estudos demonstram que está contaminada”, disse.

Na palestra, a procuradora apresentou dados sobre níveis de resíduos em alimentos, baseados em um estudo da Universidade de São Paulo (USP), de 2017. Segundo o estudo, os limites máximos de resíduos de substâncias de agrotóxicos em alimentos, que não prejudiquem a saúde, são diferentes no Brasil e na União Europeia.

Um dos exemplos apresentados está no alface. Quando olhada a substância Malationa, usada como inseticida, há níveis diferentes. Na União Europeia, o limite máximo, considerado seguro para a saúde, é de 0,5mg/kg. No Brasil, o limite máximo é 16 vezes maior, sendo tolerado 8mg/kg.

A procuradora ainda apresentou dados sobre a saúde na região, obtidos através da Secretaria Estadual da Saúde. Um dos dados mostra que as neoplasias, ou tumores, são a 2ª causa de mortalidade no estado desde a década de 90. Na região, Guamiranga, Irati, Mallet, Rebouças e Rio Azul apresentam coeficiente de mortalidade por neoplasias acima da média do estado.

Para a procuradora, os dados tem relação. “Nós precisamos de outro modelo. Esse não nos serve mais, porque não damos conta de atender tantas pessoas adoecidas, principalmente no Sistema Único de Saúde, que é o único que faz o atendimento de pessoas com câncer quando o tratamento é alta complexidade”, disse.

Água contaminada

A procuradora ainda mostrou dados do Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua), do Ministério da Saúde, que identificou algumas substâncias de agrotóxicos em águas superficiais, como a de rios, e em aguas subterrâneas, abaixo do solo. Na região, cidades como Palmeira, Mallet, Rio Azul, Teixeira Soares, Rebouças e Irati apresentaram algumas destas substancias.

Em abril, um mapa da presença de agrotóxicos na água foi realizado em conjunto com a Agência Pública e a Repórter Brasil. As instituições organizaram no mapa os dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), ligado ao Ministério da Saúde. No mapa, de 2014 a 2017, Irati teve 24 substâncias detectadas na água que abastece os munícipes, mas nenhuma das substâncias estava acima dos limites brasileiros estipulados.

Para a procuradora, é preciso que os municípios garantam que a água consumida não esteja contaminada. “A partir do momento em que ele [o município] transfere essa responsabilidade para uma concessionária de água - que no caso do Paraná é a Sanepar - cabe ao município exigir da Sanepar que essa água esteja adequada para o consumo, porque estamos pagando por esse serviço”, conta.

Assistência técnica

Para a procuradora, o modelo de política pública de assistência técnica e extensão rural está praticamente falido. “Com pouquíssimos técnicos e os poucos existentes não dão conta da demanda e isso fez com que os produtores rurais ficam à mercê dos assistentes técnicos e das empresas que comercializam esses produtos. Obviamente o interesse da empresa é mais vender o agrotóxico do que prestar assistência técnica”, disse.

Ela explica que o agricultor fica sem alternativa. “Os agricultores estão sem alternativa porque se eles vão buscar assistência técnica fora da assistência técnica oficial, promovida pelo poder público, ele vai encontrar uma assistência técnica comprometida com a venda, com a comercialização dos agrotóxicos desconsiderando a possibilidade de que ele pode produzir diminuindo muito o agrotóxico, usando agrotóxicos menos tóxicos – existem muitas alternativas em relação a isso – e até deixando de usar muitos deles porque são desnecessários”, relata.

Pulverização

Durante a audiência pública, foi distribuído um abaixo-assinado pedindo apoio para a proibição da pulverização. Esse sistema utiliza pequenos aviões para pulverizar substâncias em grandes lavouras.

Segundo a procuradora, há uma perda durante esse procedimento que pode acabar indo para outros locais. “Muitos sequer sabem que 70% do produto que ele pagou para ser utilizado, não chega na planta-alvo. Ele é desperdiçado, é um desperdício, inclusive do dinheiro que ele gastou naquele produto. Alguns sabem e acham que ainda assim compensa, mas é importante que essa deriva  pode percorrer quilômetros, até 20km, está prejudicando todo mundo, seja quem esteja no campo, quem esteja na cidade, então não podemos mais permitir essa aplicação de agrotóxicos. É totalmente impossível de ser fiscalizado, os fatores externos, eles não são controláveis, é impossível controlar todos os fatores, e por isso é uma tecnologia que deve ser proibida”, disse.

Proteção de nascentes

Durante a audiência pública diversas experiências foram compartilhadas. Uma delas foi o projeto realizado pelo estudante do Colégio Gonçalves Júnior, Alan Henrique Pedroso, de 14 anos.

Alan apresentou o projeto “Água – a Grande Teia da Vida”, que tem como objetivo recuperar a mata ciliar do rio Caçador, recuperando as nascentes e também conscientizar a população dos arredores. No ano passado, Alan apresentou o projeto em São Paulo, na V Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, representando o Paraná.

Com o projeto, Alan utilizou a técnica de cimento-solo para proteger as nascentes. “Pegamos pedras ferro e faz uma mistura com terra que não tenha contato nenhum com agrotóxico e com cimento, para três partes de terra e três partes de cimento. Quando fazemos essa mistura, cobrimos todas essas pedras deixando três canos, uma que funciona como ladrão e um para o morador, o dono da propriedade, utilizar na mesma”, disse.

Agora, em parceira com o IFPR, o projeto deve se expandir. “Surgiu a ideia de uma continuação para o nosso projeto de um aplicativo de celular para mapear as nascentes da região e colocar dados específicos sobre as mesmas”, conta.

Texto/Foto: Karin Franco/Hoje Centro Sul

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