Algoritmos definem o que é visto ou não na internet

Algoritmos definem o que é visto ou não na internet

No último fim de semana, estudantes de todo o Brasil fizeram a primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Uma das etapas mais importantes da prova, a redação, chamou a atenção e até assustou alguns estudantes. Avaliado como complexo por professores, o tema “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet” confundiu os alunos que prestaram o exame, que pensaram até que o assunto era sobre fake news. O que muitos não perceberam é que o assunto envolveu o uso de algoritmos na internet.

Os algoritmos estão a cada dia mais presente em nossa vida, seja nas redes sociais ou em sites de busca e venda. Isso se dá porque nos últimos anos a internet se tornou imprescindível para a sobrevivência do ser humano. Segundo o jornalista e professor da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) de Santa Maria (RS), Rômulo Tondo, o algoritmo, em especial, é um agente importante nesse meio. “Na atualidade, a computação, em especial a internet, possui uma função primordial na vida das pessoas. Os algoritmos, por sua vez, possuem uma função de auxiliar em uma série de buscas, traçando um perfil dos usuários”, fala.

Diego de Mattos, técnico em informática com ênfase em Desenvolvimento de Sistemas (IFPR), explica que os algoritmos são uma sequência de passos. “Um algoritmo é uma sequência de passos necessários para a resolução de uma tarefa ou problema, seja de forma computacional ou não. Tecnicamente falando, é uma sequência lógica, finita e definida de instruções que devem ser seguidas para resolver um problema ou executar uma tarefa”, explica.

Ele explica que os algoritmos obedecem a passos pré-determinados como uma receita de bolo, onde para fazer um bolo seguimos medidas, misturamos ingredientes e assamos, de acordo com as regras da receita. “Um bom exemplo de um algoritmo é fazer um bolo. É necessário calcular uma média aritmética (passos para calcular a média de dois números), trocar uma lâmpada (passos para realizar a troca da lâmpada)”, explica Diego.

Como os algoritmos são utilizados?

Nesta atividade tão comum ao nosso cotidiano que é utilizar a internet, você algum dia deve ter parado para pensar como os programas funcionam. Como é que o computador faz todas as tarefas exatamente da forma com a qual você pede? A resposta para esta pergunta é mais simples do que parece: ele segue as instruções que você passa.

Mas para que o computador consiga entender o que você fala, é preciso de uma linguagem mais específica. Para fazer esta interpretação entre homem e máquina, foram desenvolvidas as linguagens de programação. Mas mesmo estas linguagens utilizam uma lógica para serem escritas e é aí que entram os algoritmos.

Aos usarmos as redes sociais ou qualquer outro site, acabamos usando os algoritmos. “Os algoritmos são utilizados de forma intuitiva e automática no cotidiano de todas as pessoas. Quando uma tarefa comum é executada, geralmente uma sequência de passos específicos é realizada. Porém, como são atividades simples, acaba-se passando despercebido o fato de existirem instruções específicas para que a tarefa seja realizada”, revela Diego.

Algoritmos e redes sociais

Nas redes sociais, os algoritmos possuem a função de captar certos interesses dos usuários. “Os algoritmos  nas redes sociais sugerem um conteúdo aos seus usuários. Esses conteúdos por sua vez possuem uma probabilidade maior de interações, sejam elas ativas ou passivas, de acordo com o próprio perfil de cada usuário, tornando a rede social cada vez mais interessante”, conta Rômulo.

É impossível disponibilizar todo o conteúdo inserido na internet para o usuário. Desse modo, publicações são selecionadas. “Em redes sociais, os algoritmos são utilizados para ordenar e priorizar as informações que os usuários recebem. Devido à grande quantidade de informações, é praticamente impossível apresentar tudo que circula na rede, sendo assim, é necessário realizar uma categorização das informações”, explica Diego.

São os algoritmos que determinam quem verá suas publicações e quais são as pessoas mais interessadas no assunto publicado. “Pensando no Facebook, podemos pensar as interações ativas sendo: os comentários, as curtidas (incluindo as reações) e o compartilhamento das informações em nossos feeds (linhas de tempo). Já as interações passivas são aquelas na qual o usuário não possui um engajamento ou venha propagar a informação: assiste de relance um vídeo ou gif (imagem em movimento)”, diz Rômulo.

As escolhas que serão disponibilizadas da rede social Facebook são baseadas na preferência demonstradas pelo usuário. “Ou seja, a tecnologia empregada na rede social é capaz de perceber o que o usuário gosta e não gosta, quem ele curte ou quem ele não curte”, fala Rômulo.

Vários fatores são levados em consideração para a escolha do que será apresentado ao usuário e como será apresentado. “Como a temporalidade (o quão recente o post é), engajamento (comentários e curtidas nos momentos iniciais do post), relacionamento (as contas com as quais o usuário mais se engaja, seja por curtidas, comentários, mensagens diretas ou buscas), uso de hashtags, entre vários outros itens”, fala Diego.

Desta forma, segundo o jornalista, o algoritmo irá lhe sugerir páginas e conteúdos que tenham maior possibilidade do usuário consumir. “Exemplificando, se você curte uma página A e uma página B no mesmo dia, nos dias seguintes você começa a curtir as publicações da página A, além de ter um conteúdo semelhante ao da página A surgindo em seu feed, haverá maior conteúdo da página A do que da própria página B. O algoritmo também trabalha a partir dos conteúdos compartilhados, comentários e reações”, explica.

As páginas profissionais chamadas fanpage possuem a possibilidade de impulsionar suas publicações, fazendo com que elas sejam mais vistas. “Para quem possui uma página grande e conhecida, o algoritmo faz com que exista uma produção de conteúdo maior e que tenham uma maior relevância para aquele público. Aos que tem uma página pequena e de baixo alcance, o Facebook possibilita que essas organizações paguem para o impulsionamento dessas campanhas, atingindo assim um maior número de usuários”, comenta Rômulo.

Os algoritmos podem trazer problemas?

O uso de algoritmos por si só não ocasiona nenhum tipo de problema, quando aplicado corretamente. Porém, em alguns casos, a maneira que eles são utilizados pode ser questionada. “Um dos principais problemas dos algoritmos, referente ao seu uso em redes sociais, é a falta de neutralidade e objetividade”, fala Diego.

Uma bolha de conteúdos pode se formar em torno do usuário fazendo com que tenha acesso somente no conteúdo já definido pelo algoritmo. “A partir do momento em que o algoritmo tenta determinar e apresentar apenas o conteúdo que parece mais interessante para o usuário, uma bolha de informações parciais e de concordância de ideias se forma, e as informações que não interessam ao usuário acabam sendo não apresentadas. Isso acaba enviesando a navegação e apresenta apenas conteúdos compatíveis com os interesses”, relata o técnico.

A criação dessa bolha é inevitável. “Como o algoritmo fornece informações que tenham uma maior probabilidade de interação, na internet, é possível pensar que você terá algo segmentado e personalizado de acordo com as tuas necessidades. Dependendo da informação ou do conteúdo que você está buscando, realmente podemos pensar que as redes sociais na internet podem criar nichos segmentados e seus usuários consumirem apenas um conteúdo restrito e que tenham apenas uma parcela da informação que lhes convém”, explica o jornalista.

Além de facilitarem a nossa vida quando disponibilizam informações que fazem parte do interesse do usuário da internet, os algoritmos segundo Rômulo podem restringir o conteúdo e informações novas. “Creio que somos afetados pelas nossas escolhas cotidianas e nossas buscas na internet. O algoritmo apenas lança mão das informações interacionais e nos fornece a possibilidade que nos é similar ao conteúdo já consumido na rede. Podemos sim ter problemas e ficarmos reclusos nas informações que nos chega”, fala.

Texto: Silmara Andrade

Foto: Pixabay