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O que mudou no país desde a greve dos caminhoneiros?

21/09/2018

O que mudou no país desde a greve dos caminhoneiros?

Em agosto o preço do diesel teve aumento de 13%. Os demais combustíveis também vem sofrendo altas de preços. E a pergunta que muitos consumidores se fazem é: O que mudou depois da greve dos caminhoneiros? 
Há quase cinco meses, a greve dos caminhoneiros sacudiu a economia do país. Revoltados com o valor do diesel e com os aumentos diários, caminhoneiros de todo o país paralisaram seus trabalhos. Em uma semana, cidades enfrentaram desabastecimentos de produtos, cancelamentos de aula e paralisações de atividades, tudo por causa da falta de transporte.
A greve terminou com algumas promessas do Governo Federal: congelamento do preço do diesel por 60 dias e reajustes mensais, tabela de preço mínimo de fretes, 30% das contratações da Companhia Nacional de Abastecimento feita com trabalhadores autônomos, e isenção de pedágio em todo o território nacional para o eixo suspenso dos caminhões que viajem sem carga.
Muitas das questões foram resolvidas, mas ainda há pontos que são motivos de discussão, inclusive no Supremo Tribunal Federal (STF), como a Tabela do Frete. Especialistas e representantes de classe explicam o que mudou desde a greve.
 

Promessas

Para José da Fonseca Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) - uma das entidades envolvidas nas negociações com o Governo Federal – a avaliação é que as promessas feitas foram cumpridas. “O acordo feito com o Governo Federal foi cumprido integralmente. Conseguimos a desoneração do diesel, que era o pleito principal, e também conseguimos a suspensão da cobrança de pedágio por eixo suspenso, além da criação de uma tabela mínima de frete”, comentou.
Apesar do cumprimento, o preço do combustível é ainda algo sentido não só pelos caminhoneiros como também pela população. Principal motor dos protestos, o preço dos combustíveis (tanto do diesel como da gasolina) foi alvo de reclamações nas redes sociais. O fato foi usado pelos caminhoneiros para justificar a organização dos protestos. Em muitas discussões, várias pessoas diziam que o preço da gasolina era alvo dos protestos, apesar de muitos caminhoneiros afirmarem que o preço do diesel era o principal alvo.
Tanto que nas negociações para o fim da greve, o Governo Federal reduziu o preço do diesel na bomba, prometendo congelar por 60 dias e após isso, os reajustes seriam mensais. De lá pra cá, o diesel teve o preço congelado por 60 dias, de fato, mas depois sofreu reajuste. Em agosto chegou a ter um aumento de 13%, levando o preço praticado nas refinarias atualmente a R$ 2,2964. 
O presidente da Abcam aponta que é exatamente esse reajuste pela Petrobrás que tem afetado a todos. “O que percebemos que é o preço do combustível oscila quase diariamente, devido à política de preços da Petrobrás, que reajusta os valores conforme as cotações internacionais. Essa política acaba prejudicando toda a população, inclusive a categoria, que têm dificuldades em prever os custos do transporte e repassar o aumento para o contratante. Todavia, apesar do aumento ainda permanecer, o subsídio do Governo Federal ainda permanece”, disse.
A economista Nilza Siqueira, professora do curso de Administração da Universidade Garulhos (UNG), explica a influencia do mercado internacional sobre o preço. “Mesmo que o governo interfira, os preços dos combustíveis seguem o mercado, tanto interno como externo, e vão sofrer oscilações referentes a movimentação deste mercado (oferta e demanda)”, disse.
O professor de economia da IBE, Conveniada FGV, Anderson Pellegrino, ressalta que esse tipo de reajuste é comum. “Existem práticas que são comuns no mercado internacional, inclusive essa, e lógico que isso ajudou a empresa a recuperar seu valor de mercado que estava bastante deteriorado. Na teoria, os preços poderiam variar para cima ou para baixo de acordo com as ações internacionais, mas o que estamos vendo é o aumento do preço em função da própria volatilidade do preço do petróleo, da instabilidade do dólar. De fato, o que aconteceu foi o viés da quantidade de preços elevados que foi benéfico para a empresa, mas trouxe bastante impacto social”, explica. 
 

Tabela do Frete

Outro item das negociações foi o estabelecimento de uma tabela mínima para preços de fretes praticados. A tabela foi realizada pelo Governo Federal, mas desde a sua publicação ela tem sido questionadas por vários setores. 
Tanto que após a publicação da lei, a Associação do Transporte Rodoviário de Carga do Brasil, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) entraram com ações diretas de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF). O argumento é que a tabela fere a livre iniciativa e a concorrência. No fim de agosto, após uma audiência pública, o ministro Luiz Fux disse que as ações serão decididas em plenário. Ele não deu uma data definitiva para a decisão.
Para o presidente da Abcam, mesmo sendo uma conquista para os caminhoneiros, a tabela ainda precisa de reajustes. “Em relação à tabela mínima de frete, consideramos ela uma grande conquista, mas ainda precisa de reformulação.  Se faz necessário corrigir algumas particularidades, como:  a correção dos valores entre os tipos de cargas; os caminhões de todos os eixos; os índices regionais, que permitem atender as peculiaridades de cada Estado. A Abcam inclusive já enviou à ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres] e ao ministro Luiz Fux uma sugestão de tabela, inclusive que contempla os índices regionais”, explica.
 

Impacto

Na economia, a greve dos caminhoneiros trouxe impactos que são sentidos pelos brasileiros até os dias atuais. Segundo Nilza Siqueira, houve reflexos no crescimento econômico do país. “A inflação, a balança comercial e esses efeitos, trazem reflexos a médio e longo prazo. Quando temos uma redução na produção industrial em um período, por exemplo, esta diminuição afetará os meses subsequentes, o que pode ocasionar mais desemprego, diminuindo ainda mais o crescimento do país. A inflação e outros indicadores, também, podem trazer reflexos futuros”, disse.
Para Anderson Pellegrino, o impacto causado ocorreu por causa da dependência do país da malha rodoviária, responsável pelo escoamento de aproximadamente 70% da produção do Brasil. Com a greve, a paralisação afetou diversos setores e trouxe resultados negativos nos meses seguintes. “No mês seguinte, vimos que o setor de serviços desabou. Ele perdeu quase 4% de recuo, percebemos que a indústria recuou quase 11% e a automobilística, que é muito importante, recuou quase 15%. O comércio varejista caiu 1%. Por isso, vários indicadores mostram que o impacto foi muito sério e muito negativo. O próprio investimento produtivo encolheu cerca de 11%. O resultado disso, como sequela, um índice de confiança empresarial derretendo, ou seja, a expectativa do empresário em produzir mais, caiu, assim como o índice de confiança do consumidor caiu”, explica.
Ele ainda destaca que isso é ruim para o país que ainda está tentando sair de uma crise econômica em uma recuperação frágil e lenta. “Um evento como essa greve, torna a recuperação ainda mais lenta já que afeta a produção, a confiança do empresário e do consumidor. No geral, um elemento muito ruim para o desenvolvimento de um país que ainda está frágil. Para você ter uma ideia, a expectativa do PIB para 2018, expectativa de mercado, está em torno de 1,36% e a inflação cerca de 4,09%. São indicadores que pioraram drasticamente e um dos motivos por essa piora dramática se deve a este episódio conhecida como greve dos caminhoneiros. Agora, lógico, outros fatores também imperam: o clima eleitoral também traz incertezas e traz uma cerca paralisia para a economia”, comenta.
Lição

O presidente da Abcam disse que a greve dos caminhoneiros pelo menos trouxe uma lição aos trabalhadores autônomos: a da necessidade de valorizar o seu trabalho. “Ainda é cedo para se falar em mudanças efetivas. Inicialmente o que mudou foi a visão que ele mesmo tem de si e de sua profissão. Com a paralisação ocorrida em maio, acreditamos que ele conseguiu se enxergar como peça fundamental para movimentar a economia do país e como seu trabalho é importante. A longo prazo, acreditamos que a tabela de frete vai ensinar o caminhoneiro a calcular seus próprios custos, além de ensiná-lo a negociar seu lucro”, disse.

Futuro

De acordo com Anderson Pellegrino, para que o preço do combustível não afete ainda mais a economia dependente da malha rodoviária, é preciso pensar em estratégias. “O que percebemos é que a Petrobras devia caminhar por uma política que confeccionasse estoques estratégicos de combustível e ao mesmo tempo, apontasse para a cobrança de impostos que funcionassem como se fossem uma poupança para amortizar os preços em episódios de alta. Então, essa fusão poderia amenizar os preços e amenizar os reflexos causados com essa greve. Em tese, a gente já faz isso. Temos uma ferramenta para esses impostos, mas acaba sendo destinado para outros fins”, relata.
Já para um futuro a médio e a longo prazo, os economistas são diretos: é preciso investimento em infraestrutura e planejamento para melhorar a logística do país. “Aumentar os investimentos em projetos de infraestrutura que tirem os preços excessivos dos transportes rodoviários. E, além disso, ampliando a malha rodoviária, aeroviária que são ações evidentemente de médio e longo prazo, mas que tornariam o Brasil menos vulnerável a essa situação”, explicou.

Texto: Karin Franco

Foto: Arquivo/Hoje Centro Sul 

 

 

 

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