27/04/2018
Com hábitos noturnos, o morcego tem sido encontrado cada vez mais em ambientes urbanos. Segundo o médico veterinário da 4ª Regional, Gilberto de Quadros, esse é o resultado de mudanças ao longo do tempo, onde o desmatamento fez com que muitos animais migrassem às zonas urbanas para encontrar novo abrigo. “Eles sempre existiram e continuam existindo. Talvez haja uma incidência maior de casos porque há uma alteração dos ecossistemas”, relata.
Os morcegos podem ser encontrados nas áreas urbanas e rurais. Os morcegos encontrados nas áreas rurais são em sua maioria hematófagos, isto é, se alimentam de sangue. “Ele se alimenta de bovinos, suínos, o que ele encontrar”, explica o médico veterinário. Com este tipo de morcego que costuma haver maior contaminação.
Nas áreas urbanas, a maioria dos morcegos encontrados se alimenta de frutas e insetos. “Na área urbana os responsáveis são os morcegos frutíferos e insetívoros. São aqueles que se alimentam de insetos ou de frutas. Eventualmente pode haver morcego hematófago na cidade? Eventualmente sim. Em área peri-urbana, pode haver migração desse morcego hematófago em área urbana”, comenta.
O médico veterinário destaca que não é possível eliminar os morcegos. “Não pode fazer nada. Eles são protegidos por lei”, disse.
Raiva
Uma das grandes preocupações é em relação à raiva que pode ser transmitida pelos morcegos. “Existem 167 espécies de morcegos cadastrados no Brasil. Dessas 167, 41 já foram cadastrados na área urbana e dessas 37% já foram diagnosticados com o vírus da raiva. Ou seja, 90% das espécies encontradas nas áreas urbanas têm diagnóstico positivo para raiva. É significativo”, explica.
O médico veterinário destaca que a raiva tem diversas variáveis. As variáveis 1 e 2 são as provocadas em cães e gatos, algo que já não existe mais no estado. Já a 3 e 4, são as variáveis encontradas no morcego. “A variante 1 e 2 do vírus praticamente não há circulação mais desde a década de 80. Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são declarados áreas controladas para o ciclo urbano da raiva, que é provocadas pelas variantes 1 e 2, que é o vírus do cão”, disse.
A variante 1 e 2 causa no cão e no gato os sintomas clássicos conhecidos popularmente: agressividade, falta de cansaço após uma movimentação longa, e estar babando. Já com as variáveis 3 e 4, os sintomas são diferentes. Quando há esses casos, os cães e gatos contaminados após terem entrado em contato com morcego com raiva podem apresentar sintomas diferentes. “Eles irão ficar prostrados, tem paralisia, você pode pensar que é qualquer outra doença neurológica”, comenta.
Apesar da preocupação, o último caso registrado de contaminação de raiva no Paraná aconteceu em 1987, em Rio Branco do Sul. “Foi transmitido por um gato que teve contato com um morcego”, disse.
A raiva é monitorada de diversas maneiras, sendo que os órgãos de controle examinam uma amostra de 1% dos cães e gatos de cada município para saber se há a doença na localidade.
Recomendações
O morcego pode morrer de raiva, mas não é possível ter certeza se algum morcego está com raiva ou não, pois eles podem possuir o vírus e não ter sintomas. “Único problema do morcego é que a saliva passa a ser infectante antes de ele apresentar os primeiros sintomas, ou seja, você não sabe que ele está doente. Como vai saber se o morcego está doente? Você não vai saber”, disse.
No entanto, quando os sintomas são apresentados é possível ter a suspeita de que o morcego está com raiva. Com hábitos noturnos, o morcego com raiva pode aparecer de dia e também estar se debatendo.
O médico-veterinário destaca que quando encontrar um animal desse modo, a pessoa deve evitar tocar no animal, nem tentar capturá-lo. “O cidadão deve comunicar o serviço de Vigilância em Saúde, Vigilância Sanitária e Vigilância Epidemiológica, para que técnicos capacitados vão com luva, já façam a captura e encaminham para o laboratório. Todo o morcego encontrado nessas condições é ideal que seja mandado para análise para confirmar ou não. Porque da captura do morcego, advém um monte de ações que devem ser feitas”, alerta.
Ações
Diversas ações são realizadas na prevenção e também após o encontro do animal morto. “O Estado fornece o exame, através do laboratório central do Estado. Faz o exame e encaminha os resultados, também produz material para educação e os municípios ficam encarregados em fazer as medidas de controle localmente quando aparecem casos, e também podem produzir material, uma vez que produzem recursos próprios, o Estado destina recursos através do Vigia SUS, pra essas ações”, explica.
Outros modos também são entrando em contato com os pets shops e as instituições da construção civil. Com os pets shops é possível saber se animais domésticos foram contaminados com raiva. Já na construção civil, é possível dar orientações para realizar o estudo de impacto ambiental e evitar que morcegos se abriguem nas casas. “Você chega lá, derruba a mata para fazer construção e os morcegos migram para o primeiro buraco que eles entrarem”, relata. “Para que as obras não facilitem a entrada e o abrigo das espécies. Se você faz uma construção cheia de rebuscado, você facilita”, disse.
Cães e gatos
Quando há contato de cães e gatos com um morcego suspeito de raiva, os animais domésticos precisam ficar por 180 dias isolados. “Eles tem que ser fechados num canil, alimentados, tem que ser amplo, tem que ter espaço suficiente, tem que ser fornecida água, o proprietário vai ter que assinar documento dizendo que ele se responsabiliza de manter o animal fechado. Ele tem que ser acompanhado semanalmente, tem que ter um atestado médico veterinário semanal para comprovar para o serviço de saúde que esse animal está bem”, disse.
Durante esses dias, o cão ou gato podem manifestar sintomas de raiva. No caso de animais previamente vacinados, é feita uma prova biológica com a inoculação em camundongos lactantes. “Prova biológica negativa, o cão pode ser liberado e pode ser suspenso o tratamento antirrábico. No positivo, os dois casos [vacinado ou não] é indicado eutanásia”, disse.
Orientações
- Se você avistar um morcego durante o dia ou se debatendo, avisea Vigilância em Saúde, Vigilância Sanitária e Vigilância Epidemiológica da sua cidade;
- Não toque no morcego suspeito de ter raiva, nem quando estiver morto. Se possui algum bicho de estimação, também evite o contato dele com o animal morto;
- Caso seja atingido acidentalmente por um morcego, procure imediatamente órgãos de saúde;
Texto: Karin Franco/Hoje Centro Sul
Foto: Pixabay
LEGENDA: O morcego encontrado na zona rural se alimenta de sangue e pode oferecer risco de contaminação. Com o desmatamento, é possível também encontrar esse morcego em ambientes urbanos.