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Menos de 1% daqueles que querem adotar aceita adolescente

Dados do Cadastro Nacional de Adoção mostram que menos de 1% das 41 mil pessoas que querem adotar no Brasil desejam filhos maiores de 13 anos. Conheça histórias de quem optou pela adoção para construir sua família

11/12/2017

Menos de 1% daqueles que querem adotar aceita adolescente

Quando Giovane viu Amauri Bucco e SimoneBucco entrando em uma das salas da Casa Lar, ele ainda não sabia que este seria um dos primeiros capítulos de uma grande família que iria se formar. Não sabia também que o bebê que estava em seu colo faria parte desta família, assim como ele. Amauri e Simone já tinham certeza que iriam formar uma família, mas imaginavam que apenas um dos seus filhos estava naquela sala. Não dois, dos futuros quatro filhos.

O desejo de ter uma grande família era algo visto já no começo, quando Amauri e Simone iniciaram o processo de adoção no Fórum de Irati. No processo, o casal já tinha interesse em adotar três crianças. A decisão pela adoção veio após a descoberta da infertilidade de Amauri e do caro processo do tratamento para engravidar.

No entanto, pesquisando sobre o assunto, o casal viu que o Código Civil diz que a diferença dos pais adotantes e dos filhos adotados não pode ser menor de 16 anos. Por isso limitaram a idade nos requisitos para8 anos, por causa da idade de Simone, que tinha 24 anos na época.Contudo, durante a entrevista no Serviço Auxiliar da Infância (SAI) eles explicaram que a limitação de idade era devido à legislação.

“Quando apareceu o nosso filho, o Giovane, o pessoal do fórum comentou: ‘Tem um menino que está para adoção, um adolescente, porém a idade dele é superior a que vocês colocaram’. Foi visto até com a juíza, a questão de alternativas devido à idade. Descobrimos que com uma autorização da juíza poderia ser feita essa aproximação e até mesmo a adoção. Por esse mesmo motivo a gente conseguiu adotar numa idade maior e com bem menos tempo que muitos casais que ficam na fila anos e anos. Não tinha restrição de sexo, não tinha restrição de idade, cor, nada. A gente queria completar a nossa família”, disse Amauri.

Foi assim, que o processo de Giovane, que na época estava para completar 14 anos, começou. Ele faz parte de um grupo pequeno de adolescentes brasileiros que conseguem ser adotados depois dos 13 anos. Segundo dados do Conselho Nacional de Adoção, são mais de 41 mil pais querendo adotar, mas somente 126 pretendentes aceitam adotar crianças com até 13 anos. Já entre os dispostos a adotar adolescentes de até 15 anos, o número baixa para 48 pretendentes. Ao todo, o número de pretendentes que querem adotar crianças de 13 anos a 18 anos não chega a 1%.

Os números são reflexos de receios que muitos casais possuem em relação à criação de adolescentes. Amauri conta que esse receio existiu no começo, mas a determinação para formar uma família era maior. “No início existiu um pouco de preocupação por causa da idade. Ao mesmo tempo nós preparamos a família. Avisamos tios, avós. Eles sabiam que a gente estava na fila de adoção, aguardando. Só que lógico, vamos repassar a questão da idade, é um adolescente, treze anos. O que a gente sabia sobre ele a gente repassou para os demais membros da família. A gente teve sorte. O Giovane é diferente. A gente não teve problema em questão de relacionamento com ele. Conseguimos ter um bom relacionamento com ele desde o início”, conta. “Ele é um adolescente muito calmo”, destaca Simone.

A aproximação foi rápida. Em menos de um mês, Giovane já estava adaptado com a nova família. O processo para adoção demorou apenas um ano para o casal, um período menor que o convencional. Maria Lucia Lupepsa Cardoso, psicóloga doServiço Auxiliar da Infância (SAI) explica que esse período em que o desejo é manifestado até a adoção pode demorar uma década para alguns casais. “Ser for uma criança saudável, até três anos, sem irmãos, leva 10 anos”, revela. Já quando não há muitas restrições como sexo, idade e raça, o tempo é mais rápido. “É o tempo da habilitação. Habilitado, coloca no cadastro, está cheio de crianças com 13 anos. Só o tempo da habilitação são seis meses. Em um ano, você adota”, conta.

A falta de restrições também ajudou com que Amauri e Simone conseguissem aumentar a família ainda mais em menos de quatro anos. Após a adoção de Giovane, hoje com 18 anos, o casal ainda continuou cadastrado para adotar mais duas crianças. Mas quando três irmãos apareceram no sistema, o casal foi chamado novamente no Fórum de Irati. Assim que informados da disponibilidade, o casal aceitou adotar os três irmãos: S. na época com 3 anos, D. com 5 anos e V. com 7 anos.

O casal ainda continua no cadastro e busca agora mais uma menina para completar a família. “Em nenhum momento nos arrependemos disso. Pelo contrário”, disse Amauri. “A vida muda, mas pra melhor”, conta Simone.

Adoção legal

Outra situação que poucos conhecem é a adoção legal, um meio previsto pela legislação, onde a mulher grávida pode optar em entregar seu filho para adoção.

Os preconceitos em volta do tema fazem com que muitos desconheçam como funciona. Maria explica que essa entrega não é ilegal. “Está dentro da lei. Ela não está abandonando, não está maltratando”, conta.O desejo de entregar para adoção pode ser manifestado no hospital em que for realizado o parto, ou até mesmo durante a gravidez, com a grávida informando esse desejo no Fórum de Irati. “A gente vai fazer uma análise se ela está com uma depressão pós-parto, se precisa de um apoio psiquiátrico ou psicológico, porque pode acontecer deestar passando por uma fase, depois se arrepender. Depois que destituído, não existe mais como retornar”, relata.

Após a análise e constatado ainda o desejo pela entrega para adoção, a guarda da criança é destituída da mãe e a criança entra no sistema de Cadastro Nacional de Adoção. “Essa criança já vai para o primeiro casal da fila”, conta.

Maria Lourenço de Souza é uma das mães que conseguiu adotar logo após o recém-nascido sair da maternidade, há 23 anos. Ela conta que a adoção ocorreu após a perda de seu primeiro filho. “Eu era casada na época. Fiquei grávida e perdi o neném. Minha gravidez era de risco, então resolvemos adotar”, disse. Com a ajuda de um advogado, o casal conseguiu adotar o recém-nascido.

Quando o menino já tinha um ano, o casal se separou. Maria continuou a cuidar do filho, mesmo enfrentando dificuldades financeiras. “Nunca me arrependi, mesmo estando nos momentos de dificuldade”, conta Maria que cuidou do filho praticamente sozinha após a separação. “Eu deixei de viver a minha vida, para viver a vida do meu filho. Se fosse mais nova adotaria outra criança. O amor que a gente sente por eles é amor”, relata.

Etapas da adoção

O processo para adotar uma criança ou adolescente é longo e possui diversas etapas:

1) O primeiro passo é que os interessados em adotar se dirijam ao Fórum de Irati para buscar informações. No local acontece a primeira orientação aos interessados.

2) O processo de habilitação inicia com os interessados juntando todos os documentos necessários. Depois é feita uma petição de requerimento no cartório, e faz o requerimento.

3)Os interessados participam de um curso preparatório de adoção, um curso onde haverá informações sobre o processo e sobre os dados do Conselho Nacional de Adoção.

4)É realizado um estudo psicológico ou social.

5)Depois da avaliação é realizado um relatório, habilitando ou não os pretendentes, que é encaminhado para promotoria e para a juíza.

6)Após aprovação da juíza, os interessados são cadastrados no Cadastro Nacional de Adoção.

7) Os interessados são chamados quando há a disponibilidade de uma criança ou adolescente que preencha os requisitos pedidos. Os menores de idade somente entram no sistema de adoção após a guarda ter sido destituída da família de origem (incluindo parentes).

Texto: Karin Franco/Hoje Centro Sul

Fotos: Divulgação

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