13/11/2017
Após mais de um mês de estiagem, outubro registrou 239,2 mm de chuva apenas em Irati. É o que mostram os dados obtidos pelo Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SEAB), a partir de informações disponibilizadas por uma estação do Ministério da Agricultura, localizada no Colégio Florestal, em Irati.
Os dados ainda mostram que desse valor, 85,8 mm de chuva ocorreram somente nos últimos dias do mês de outubro. A quantidade continua em novembro, onde a primeira semana já registrou 36,7 mm de chuva.
Os dados contrastam com o cenário de agosto e setembro que somaram mais de 30 dias sem chuva. Do dia 21 de agosto até 24 de setembro, Irati não registrou nenhuma chuva, enquanto que outubro contou com 17 dias de chuva. O resultado é que o solo seco de setembro acabou ficando encharcado em novembro e muitos agricultores tiveram que replanejar o período de colheita e plantio de suas culturas.
Outro ponto crítico também foi a pouca quantidade de sol durante os dias no último mês, o que prejudicou as plantas. “Isso mantém a umidade no solo, o que prejudica as atividades agrícolas, tanto de colheita quanto de plantio”, explica engenheira agrônoma da SEAB, Adriana Baumel.
Trigo
A cultura mais afetada é o trigo, que ainda está sendo colhido na região. A tendência é que a cultura tenha queda no preço, já que a qualidade do grão não irá ficar muito boa. “Ele não tem padrão para indústria, ele acaba sendo destinado para a ração. É um produto de menor qualidade, então poderá ter redução no preço. O maior problema do trigo é a qualidade. A umidade no grão não dá padrão para a indústria”, explica Adriana.
Na região do Núcleo Regional de Irati, a expectativa inicial é que a produção do trigo alcançasse mais de 73 mil toneladas nos 19.800 hectares plantados. No entanto, o clima gerou quebra de safra, quando a produção diminui perto do que era esperado inicialmente. O mesmo deve acontecer com a cevada. “Nós vamos ter também uma queda na produção das culturas de inverno como o trigo e a cevada. Teve uma redução de 8% nas duas culturas por causa das chuvas”, explica Adriana.
Segundo Adriana, o cenário em Irati não é tão ruim porque a produção de trigo não é tão expressiva. No entanto, nas outras regiões do estado que produzem mais a cultura, a quebra foi maior. “Outras regiões do estado que já terminaram a colheita do trigo como o oeste, sudoeste, o norte do estado, praticamente eles tiveram quebras maiores que a nossa”, relata.
Safra de Verão
Com o fim da colheita das culturas de inverno, a atenção se volta às culturas de verão, entre elas a soja que possui boa rentabilidade para o produtor. Em Irati, 45% da área destinada à soja já foi plantada.
De acordo com Adriana, o plantio da soja está com um leve atraso por causa das chuvas, apesar de outubro ser normalmente o mês em que os produtores realizam esse plantio.
Segundo o gerente da Emater de Irati e engenheiro agrônomo, Flávio Cardoso D’Angelo, um dos problemas é que alguns agricultores não puderam realizar a preparação do solo para receber a cultura de verão. “A maioria não conseguiu nesse período de chuva, ou seja, a chuva atrapalhou, porque eles não conseguiram entrar para fazer a dessecação da cultura que veio anterior. A maioria planta aveia como cobertura verde, então tinha que entrar com um trator e não conseguiu”, explica.
Flávio acredita que seja difícil que os agricultores consigam realizar um plantio na próxima semana, já que o solo deve seguir encharcado. “Ou não conseguem fazer o preparo de solo quando não é plantio direto e quando não é plantio direto, eles não conseguiram dessecar a aveia, eu creio que vai atrasar um pouquinho”, disse.
No entanto, ele alerta que o plantio deve acontecer dentro do tempo estipulado de acordo com a variedade de semente que está sendo plantada. “Esse plantio deve ser feito dentro zoneamento agrícola que é um período, uma janela de tempo que a pesquisa da Embrapa, que é federal, e do Iapar, que é estadual, eles dizem que a época mais propícia para um plantio. Estando dentro desse período, respeitando o período e a variedade, já que tem soja com ciclo longo e ciclo curto, então dentro dessa janela de tempo, ele ainda está dentro de uma garantia técnica satisfatória”, explica.
Replantio da soja
Outro problema que tem acontecido é que alguns agricultores que já realizaram o plantio, tiveram que replantar a soja. “Principalmente em áreas de baixada, onde tem acúmulo de água. O grão no solo acaba apodrecendo, acaba ficando muito úmido, daí ocorre o replantio. Também em algumas áreas com erosão, porque essas chuvas às vezes, mesmo que ela está ocorrendo em toda a região, tem localidade que está ocorrendo bem mais por causa da erosão que leva as plantas. Mas são casos isolados. Tem muito produtor com falta de conservação de solo, então uma chuva mais intensa pode causar erosão e leva uma parte da lavoura que ele vai ter que fazer o replantio”, relata Adriana.
Flávio explica que em alguns casos, a germinação da semente fica prejudicada porque alguns agricultores ainda não são adeptos ao plantio direto que protege o solo. “O nosso solo ele compacta muito fácil, então com as gotas de água batendo direto no solo, ele tem tipo uma explosão no solo e cria uma camada compactada em cima que dificuldade ou impede a germinação da semente”, conta.
Área plantadas na região
O tempo seco em setembro ajudou no plantio do milho e do feijão que avançaram. Os municípios de abrangência do Núcleo Regional de Irati, praticamente toda a área para o milho foi plantada. Na cultura do feijão, ainda faltam 20% da área a ser plantada. A atenção se volta agora para a soja onde 55% da área destinada precisa ser plantada.
Segundo as estimativas da SEAB, na região, a cultura da soja deve apresentar um aumento na área plantada, mas uma diminuição na produção. Deverão ser plantados mais de 172 mil hectares de soja, e a produção deve chegar a quase 570 mil toneladas.
Esse resultado é derivado exatamente pelo clima. No ano passado, quando houve recorde de produção, o clima estava mais favorável ao desenvolvimento da planta.
Já no milho e no feijão, a área deve diminuir, assim como a produção.
Plantio Direto
Para o engenheiro agrônomo, Flávio Cardoso D’Angelo, o sucesso do plantio está na possibilidade de realizar o plantio direto. Nesta técnica, segundo a Embrapa, não é necessário que o agricultor faça o preparo do solo através da aração e da gradagem, por exemplo. O solo deverá ser sempre coberto por plantas em desenvolvimento e por resíduos vegetais.
O técnico agrícola da Emater de Irati, Décio Dalmolim, explica que uma das vantagens deste tipo de técnica é a diminuição da erosão, que pode diminuir a necessidade de replantio em tempos de chuva. “Você não precisa revolver ou mexer com o solo. Você entra menos com a máquina em cima do solo. Compacta ele menos e quando você faz a cobertura verde, ela proporciona uma melhoria no solo que é menos fácil de ter erosão. A água leva e ela infiltra mais. O solo onde se mexe, dá uma chuva forte, boa parte desse solo vai embora. Além do solo que a gente está perdendo, está perdendo o adubo que já pôs naquele solo. Perde os dois lados: perde o solo e perde o dinheiro que gastou ali”, explica.
Décio destaca que o cuidado do solo envolve diversas práticas e que todas elas ajudam para que a água infiltre no solo de forma a ajudar no desenvolvimento da planta e não prejudicá-la. “O solo tem capacidade de armazenamento de água. Quando a planta precisa de água, a água trabalha dentro do solo. Quando seca em cima, a água que está armazenada, ela sobe. Quando é compacto, a chuva bateu e vai tudo embora. Pouca coisa vai ficar retida no solo. Dependendo do tipo de solo, ele armazena de 260 a 350 litros por metro cúbico. É uma imensidão de água. Mas os nossos solos não estão tendo esse cuidado porque ele está compactado”, relata.
Segundo Flávio, diversos fatores fazem com que os agricultores não aderem à prática. Um deles é o tempo. Um dos exemplos são os produtores de tabaco com propriedades pequenas que não conseguem preparar o solo para a próxima cultura. “No período que estão colhendo o tabaco, é o período que às vezes coincide de fazer o manejo do solo”, explica. Como a cultura do tabaco é mais rentável para o produtor, o foco fica nesta cultura e não no manejo do solo e no planejamento da propriedade que este tipo de técnica exige. “No plantio direto ele tem que fazer um planejamento melhor da propriedade. O plantio direto preconiza que você divida a área em três, e a cada 33% de área, vai melhorando essa estrutura do solo”, explica.
Texto: Karin Franco/Hoje Centro Sul
Fotos: Arquivo/Hoje Centro Sul e Karin Franco/Hoje Centro Sul